As cinco mortes por gripe A confirmadas no Rio Grande do Sul antes do início do inverno e o surto de casos na vizinha Santa Catarina reacenderam a preocupação sobre o alcance que a doença terá na estação fria entre os gaúchos.
No ano passado, no mesmo período do ano, havia apenas quatro mortes confirmadas (ainda que os dados da Secretaria Estadual da Saúde apontem sete óbitos no período). Em 2010, ninguém morreu ao longo do ano inteiro. Em 2009, ano da pandemia, a primeira das 297 mortes veio apenas em 28 de junho.
Segundo avaliação da secretaria, a situação preocupa, mas não há motivo para alarme. A tendência seria de números similares aos do ano passado, quando morreram 14 pessoas.
- É um fato conhecido que as doenças respiratórias aumentam no inverno. O pico ocorre, historicamente, no meio de julho. Estamos preocupados. Mas não há motivo para desespero. Temos medicação à vontade na rede - afirma Marilina Bercini, chefe da divisão de vigilância epidemiológica da secretaria.
Alguns profissionais da área, no entanto, mostram-se mais alarmados. Breno Riegel Santos, chefe do serviço de infectologia do Hospital Conceição, critica a política nacional de vacinação, que oferece doses apenas para grupos considerados de maior risco - crianças de seis meses a dois anos, idosos, gestantes, indígenas e profissionais da saúde. No Rio Grande do Sul, 1,5 milhão de pessoas foram imunizadas neste ano - três vezes menos do que há dois anos.
- Em 2010, não tivemos nenhum caso porque as pessoas estavam protegidas. No ano passado, já houve um relaxamento, e os casos reapareceram. Agora, temos uma epidemia em Santa Catarina. Minha preocupação é a falta de vacinação. A Influenza é uma doença grave. Todos são suscetíveis e deveriam ser vacinados, mas o governo não entende isso - critica.
Riegel observa que as infecções e mortes deverão ocorrer entre pessoas de fora dos grupos de risco e sem doenças graves associadas - aquelas que não têm direito à vacina na rede pública. A Secretaria Estadual da Saúde confirmou que os cinco mortos deste ano eram pessoas entre 18 e 44 anos sem comorbidades conhecidas.
- Os estoques da secretaria já estão esgotados. Gostaríamos de vacinar todo mundo, mas os laboratórios não têm produção para isso. Protegemos os mais indefesos - diz Marilina Bercini.
O chefe da unidade de infectologia do Hospital de Clínicas, Luciano Goldani, acredita que não há motivo para alarme. Como o vírus teve baixa atividade no Hemisfério Norte, no último inverno, o especialista prevê a tendência de repetição da situação por aqui. Goldani também entende que a maior parte dos gaúchos está imunizada, por ter apanhado a gripe A em anos anteriores.
- Os casos devem ter um pico agora, mas não acredito que vá ser muito diferente do que tivemos no ano passado. A população está bem protegida.
A VACINA
Quem se vacinar agora estará protegido no inverno?
Sim. Em média, a vacina leva duas semanas para fazer efeito.
Quem se vacinou em outros anos está imunizado?
Não. Apesar de o vírus ser o mesmo, a proteção que vacina oferece tem em geral validade de um ano. A recomendação é vacinar-se de novo, principalmente se a pessoa estiver nos grupos de maior risco.
Há contraindicações para a vacina?
Pessoas que sofrem reações graves (como edema de mucosas, urticária, falta de ar) após a ingestão de ovos de galinha e seus derivados devem evitar a imunização.
POLÍTICA DE VACINAÇÃO
Quem pode se vacinar na rede pública?
A campanha de vacinação oferece doses para os grupos mais vulneráveis: crianças entre seis meses e dois anos, indígenas, idosos, gestantes e profissionais de saúde.
Pessoas com doenças respiratórias graves também podem se vacinar na rede pública?
Podem, desde que haja encaminhamento médico. O critério mudou em relação a 2010, quando bastava autodeclarar a doença para receber a vacina.
Ainda há vacinas disponíveis na rede pública?
Os estoques da Secretaria Estadual da Saúde estão esgotados, mas ainda há doses em alguns municípios. Em caso de sobras, as prefeituras receberam orientação de eleger grupos prioritários para a vacina. Pessoas que não fazem parte dos grupos de maior risco podem se vacinar na rede privada.
A MEDICAÇÃO
Existe oferta de remédio para quem estiver com gripe A?
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o Tamiflu está disponível em abundância na rede de saúde.
Quem deve tomar a medicação?
Os médicos podem medicar qualquer pessoa com sintomas de gripe, como febre, tosse e dores no corpo.
Quais são os efeitos do remédio?
O medicamento ameniza os sintomas, diminui o tempo de duração da doença e reduz as complicações.
CUIDADOS BÁSICOS
- Higienizar as mãos com frequência
- Utilizar lenço descartável para higiene nasal
- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir
- Higienizar as mãos após tossir ou espirrar
- Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca
- Não partilhar alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal
- Evitar aperto de mãos, abraços e beijo social
- Reduzir contatos sociais desnecessários e evitar, dentro do possível, ambientes com aglomeração
- Ventilar os ambientes
- Afastar os doentes do convívio social
A DOENÇA
Quem já teve gripe A pode pegar a doença de novo?
Em princípio, não. Ao ser infectada uma vez, a pessoa desenvolve defesas naturais. A doença pode voltar a se manifestar se o vírus sofrer alguma mutação. Nesse caso, o sistema imunológico não estaria preparado para enfrentar o vírus.
Quais são os principais sintomas da gripe A?
- Tosse e espirros
- Fortes dores no corpo, na cabeça e na garganta
- Febre alta, acima de 38° C
- Pode haver náuseas, vômitos e diarreia
O FATOR INVERNO
Com o inverno, há maior risco de disseminação da gripe A?
Sim. O risco de disseminação do vírus da gripe A aumenta com o frio, como o de qualquer outra gripe.
Por que isso ocorre?
O clima é um fator de alto risco para a contaminação por doenças respiratórias por favorecer aglomerações em ambientes fechados ou comprometer as defesas imunológicas.
O que fazer para driblar o maior risco?
É importante que todos procurem se alimentar bem, dormir bem, usar agasalhos para se proteger do frio e procurar evitar ambientes fechados com grande aglomeração de pessoas. A higiene pessoal é o mais importante para a prevenção.