Em busca de personagens surpreendentes e peculariadades de municípios gaúchos, a série Beleza Interior vai percorrer o interior do Rio Grande do Sul todos os sábados de 2011.
Não adianta procurar loja aberta entre 11h30min e 13h30min em Garibaldi. Nesse intervalo, os moradores cultivam o hábito de dormir. Assim como a sesta típica da cidade serrana, a série Beleza Interior vai retratar outras peculiaridades de destinos gaúchos todos os sábados deste ano.
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A sesta não é um direito somente na Espanha, onde ocorre o Campeonato Nacional de Siesta em outubro. É também um hábito em Garibaldi, belíssima cidade serrana localizada a 110 quilômetros da Capital e que abriga 30 mil habitantes.
No intervalo do almoço, os moradores não trocam o sono pelo consumismo. O lucro não compra o descanso dos olhos. De segunda a sexta, as lojas fecham das 11h30min às 13h30min. Não existe exceção, desculpa ou choro de cliente capaz de convencer os lojistas do contrário. Todos chaveiam a máquina registradora e serpeiam as ladeiras em direção ao lar.
O cochilo da digestão é sagrado. As tabuletas de "Volto Já" tomam conta das vitrines. Durante o período, turistas amargam a espera nos degraus do comércio.
- Fiz o teste de abrir a loja na sesta e não funcionou. O público está adaptado e não vale a pena mudar. O pico é das 17h às 19h30min, na saída do emprego - esclarece a comerciante Melissa Chiesa, 32 anos.
De acordo com a população, o costume melhora a qualidade das amizades, soluciona as brigas domésticas e revitaliza o desempenho no trabalho.
- A sesta divide o dia em duas manhãs, é mais uma chance de sonhar - diz a balconista Larisse Pagliarini, 24 anos.
O repouso de 15 a 20 minutos após a refeição reduz a ansiedade de terminar com as tarefas e aumenta o capricho no atendimento. A maior parte dos funcionários erra menos, esquece de conferir o relógio, fica mais atenta, animada a negociar e a ouvir.
- Nenhum vendedor com pouco sono ri de volta. O mau humor tem remédio, descobrimos a cura - afirma Mateus Lanzoni, estudante de Relações Públicas da UCS.
Bateu as 12 badaladas e ele parte para almoçar com a mãe Carmen, 48 anos, e a mana Larissa, 10. Tranquiliza-se com aquilo que vai encontrar: arroz e feijão com temperos da própria horta e o rádio tocando notícias e canções de amor perto do fogão. Carmen explica:
- Tirar uma pestana aumenta nossa longevidade. Ninguém atravessará a tarde roncando, é um esticar na rede, um deitar no sofá, sono rápido de caminhoneiro para simplesmente tirar a preguiça do corpo.
Betania Alves, 26 anos, é fã da cochilada criativa:
- Eu me sinto renovada, tenho mais energia. A sensação é que a tarde é um outro dia. O travesseiro é meu terapeuta.
- Passei a reclamar menos do serviço - completa Rochele Gomes Rodrigues, 17 anos.
A pausa municipal também favorece a criação dos filhos. Analise Frare, 54 anos, debita a firmeza de laços entre Juliano, 31, Carolina, 26, e o marido Volnei, 57, à possibilidade de comer sempre juntos:
- Observamos nossos familiares logo cedo, com tempo de intervir, não esperamos a noite para descobrir o que houve de errado. Os problemas chegam quentes e dormem frios.
Ronaldo Borsoi, 32 anos, proprietário de uma loja de brinquedos, enxerga mais longe, compara Garibaldi à Gália de Asterix e Obelix:
- A sesta é a poção do druida Panoramix, e nos diferencia no combate diário.
"Estamos no ano 2011 depois de Cristo. Todo o Rio Grande do Sul foi ocupado pelos workaholics... Todo? Não!
Uma aldeia povoada por irredutíveis garibaldenses ainda resiste ao invasor."
Notícia
Beleza Interior: Irredutíveis garibaldenses
A sesta não é um direito somente na Espanha, é também um hábito em Garibaldi
Fabrício Carpinejar
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