
Caminhar pelo bairro, tomar café da manhã na padaria, passear pelo brique da Redenção, praticar exercícios físicos, assistir a um filme no cinema, curtir música ao vivo em um bar, ir à Serra ou ao Litoral nos finais de semana, sair para jantar, passear de bicicleta na Orla e apreciar o pôr do sol em frente à Fundação Iberê Camargo são atividades que ganharão outro significado quando o distanciamento social chegar ao fim. Compartilhar esses momentos com amigos e familiares é um hábito do qual as pessoas sentem mais falta. GaúchaZH conversou com cerca de 30 pessoas para saber o que será prioridade assim que o distanciamento social terminar. Entre as respostas, os abraços e os reencontros foram praticamente unânimes.
Tarefas cotidianas, que até algumas semanas atrás passavam despercebidas, passaram a ser mais valorizadas, e as pessoas que estavam distantes passaram a ficar mais próximas, mesmo que de forma online. Até mesmo a rotina dentro de casa agora tem novo sentido, como conta a leitora Marina Mottin:
– Estamos realmente valorizando mais os momentos das refeições. Estamos todos juntos e conversando mais neste momento, inclusive. Quero levar isso para sempre aqui na nossa unidade familiar.
O tempo com a família também passou a ter mais importância para Lola Carvalho, autora de "Mãe Sem Limite". Segundo ela, o isolamento também serviu para perceber as vantagens do home office, organizar o tempo e gerenciar o trabalho em casa, "talvez produzindo mais do que antes".
– Acredito que de tudo que nos acontece, bom ou ruim, levamos algum aprendizado. Existem mudanças que têm começado neste momento que irão permanecer – comenta.
Wagner de Lara Machado, professor do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUCRS, explica que o ser humano precisa de contato, afeição e cuidado, e que a ausência dessas demonstrações causam dor e sofrimento. Mesmo em cenário propício a reconciliações e afinidade, Machado comenta que nem tudo pode mudar para melhor após um período tão difícil:
– O ideal neste momento é que as pessoas sejam mais gentis, compreensivas e empáticas umas com as outras. Algumas vão precisar de ajuda, em maior ou menor grau, para construírem formas mais positivas de enfrentar todo esse estresse. Devemos ter mais compaixão e entender que a adaptação não será igual nem na mesma velocidade para todos.
Movimento
Segundo Luis Eduardo Wearick da Silva, educador físico e pós-doutorando em Psicologia, é possível que até as pessoas menos ativas fisicamente passem a dar importância ao movimento, por mais simples que ele seja.
– Acredito que muitas pessoas simplesmente não tinham a consciência da quantidade de atividade física que faziam ao longo do dia. Por exemplo, caminhar até a parada de ônibus ou até o mercado – comenta.
Silva ressalta que as pessoas habituadas ao exercício tendem a sentir ainda mais essa ausência. Isso se deve à falta de endorfina e outras substâncias liberadas durante a atividade física com as quais o corpo "se acostuma".
Para o comerciante e corredor Cristiano Lopes, o esporte não está associado apenas à qualidade de vida, mas também às amizades:
– Voltar a correr com a equipe está dentro das minhas prioridades. Uma das coisas que eu sinto falta, que já tinha como valorização e agora muito mais, é o ambiente de competição, porque ali eu vejo todo mundo correndo por um objetivo próprio, mas torcendo por outro e vibrando com o outro. São detalhezinhos que no afastamento nos faz refletir.
Porto Alegre ganhará mais valor para Darlisa Har Minervini Silva. Em casa, a professora não se sente segura para os passatempos que antes eram tão rotineiros, como caminhar na Redenção ou assistir ao pôr do sol no Guaíba tomando um tereré com o namorado.
– Estamos dentro da nossa cidade, mas é como se não estivéssemos – comenta.
Com restaurantes fechados ou abertos apenas em formato take away, no qual o cliente compra a refeição e leva para comer em casa, as pessoas passaram a ter mais tempo em volta da mesa com quem se divide a residência. Lola Carvalho relata que graças ao home office, ela tem almoçado com os filhos todos os dias.
– Nem tudo é ruim neste momento – ressalta a escritora.
O "colocar a mão na massa" virou rotina de muitos que não tinham o hábito de cozinhar, transformando a tarefa em uma experiência nova. No entanto, sair para comer fora, seja em uma padaria ou em um restaurante mais requintado, também deve ganhar outro valor quando as cadeiras dos estabelecimentos forem desviradas.