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A surpreendente demissão do Diretor de Esportes do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Jorge Bichara, anunciada na terça-feira, abriu uma ferida na gestão de Paulo Wanderley. Eleito para dirigir a entidade em outubro de 2020, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) terá que encarar uma crise interna.
Bichara ocupava o cargo desde setembro de 2016, quando o gaúcho Marcus Vinícius Freire deixou o posto após os Jogos Rio 2016. Elogiado pelo trabalho, o ex-diretor tem grande apreço da comunidade esportiva, tanto com atletas e treinadores, como também dirigentes de confederações esportivas.
Para muitos, ele era o principal responsável pelo recorde de medalhas conquistado pelo Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019 e na Olimpíada de Tóquio 2020, na qual o Brasil conquistou 21 medalhas (12º lugar no quadro geral) e subiu ao pódio em 13 modalidades.
A demissão foi uma tomada de decisão do presidente do COB e provocou um mal-estar com o vice-presidente Marco Antônio La Porta. Em contato com GZH, ele comentou sobre a saída de Bichara.
— Sinceramente não vejo mais nada que eu possa acrescentar. A decisão foi tomada, me manifestei contra, mas respeito —disse ele.
Questionado se a saída do responsável direto pelo planejamento da área de esportes poderia influenciar na preparação brasileira para os Jogos de Paris 2024, La Porta demonstrou preocupação.
— Depende de como as coisas acontecerão daqui pra frente — afirmou para logo depois garantir que não foi consultado sobre a indicação do substituto de Jorge Bichara: "Não me falaram nada". No momento, o cargo será ocupado de forma interina por Rogério Sampaio, diretor-geral do COB.
La Porta porém fez questão de dizer que não existe, nesse momento, uma divisão dentro do COB.
— Não tem divisão. Eu faço parte da gestão. Apenas discordei de uma decisão, onde não fui ouvido e achei importante me posicionar. Seguiremos trabalhando juntos — garantiu.
A reportagem de GZH ainda buscou informações com outras pessoas ligadas ao meio esportivo. Uma delas, que teve recente atuação no COB, afirmou que "é política falando mais alto que o esporte", numa clara referência a possibilidade de La Porta ser candidato à presidência na eleição de 2024 contra Paulo Wanderley.
Nesta análise, a demissão de Bichara, que tinha forte vinculação com o vice-presidente, seria uma forma de enfraquecimento interno deste, já que o atual presidente cogita concorrer a reeleição daqui a dois anos.
— Covardia (a demissão). Vamos fazer barulho. São anos de investimento na área técnica que podem ser perdidos. Nem o vice apoiou. A repercussão está muito ruim para o Paulo Wanderley — garantiu um dirigente que pediu para não ser identificado.
Questionados sobre o bom ambiente que parecia reinar durante o último final de semana, quando o COB organizou o II Congresso Olímpico Brasileiro, em Salvador, contando inclusive com as presenças do Ministro da Cidadania João Roma, que acompanhou a delegação nos Jogos de Tóquio, e do senador Romário Farias, dirigentes, atletas e ex-atletas consultados foram unânimes em declarar que "foi um teatro".
Oficialmente, o COB não apresentou detalhes ou argumentos para a demissão do diretor de esportes. Mas a saída teria sido definida após uma queda de braço de Bichara com Christian Trajano, gerente de educação e prevenção ao doping do COB e amigo pessoal de Paulo Wanderley, que gostaria de dividir a área de esportes, deixando Bichara com a parte de treinamento e Trajano com a médica, mas o ex-diretor demitido se posicionou contra a mudança, alegando que "tudo referente ao esporte deveria ficar sob o mesmo guarda-chuva".
"Essa saída do Bichara pegou a todos de surpresa. É uma decisão do executivo do COB"
MATHEUS FIGUEIREDO
Presidente da CBDG e membro do Conselho de Administração do COB
— Essa saída do Bichara pegou a todos de surpresa. É uma decisão do executivo do COB. O presidente tem o direito da decisão — comentou Matheus Figueiredo, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) e que é um dos sete membros representantes das Entidades Nacionais de Administração do Desporto filiadas ao COB, que faz parte do Conselho de Administração da entidade.
O fato é que o trabalho de Jorge Bichara não recebe nenhum reparo e é elogiado por todos. Para alguns ele é um "craque da gestão de esporte" e essa decisão poderá ter desdobramentos no futuro do esporte olímpico brasileiro, especialmente porque a decisão parece ter sido tomada de forma pessoal pelo presidente Paulo Wanderley e sem qualquer consulta aos pares de diretoria.
A eleição para a presidência do COB só será realizada em novembro de 2024, de acordo com o estabelecido pelo estatuto da entidade. Até lá, o Brasil ainda irá encarar os Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023 e as Olimpíadas de Paris, além de outros eventos como os Jogos Sul-Americanos.