
Assistir a uma Olimpíada com seus ídolos e potenciais a campeões olímpicos já é um sonho. Imaginem conviver com eles. Um refeitório com mais de 5 mil atletas, onde todos sentam juntos independentes da nacionalidade ou da religião para tomar café da manhã ou bater papo, comer lanches...
Na lavanderia, no videogame, na academia, na espera dos ônibus, sempre cruza uma "fera" na sua frente. Foi neste cenário que vivi minhas três Olimpíadas. Minhas referências e reverências, em se tratando de Vila Olímpica, vão para a inesquecível Barcelona e suas instalações à beira-mar, seus monumentos e a cultura espanhola, esta um capítulo à parte.
Mas não pensem que tudo é festa, pois para quem vai para os Jogos com disposição de ganhar ou até fazer história em seu país, a Vila torna-se um legitimo campo de concentração: café da manhã/treino, volta para almoço, descanso, lanche/treino, volta para jantar e descanso. Isso em dias de treino, pois quando há jogo é preciso acrescentar sessões de vídeos de adversários e todas as suas táticas de jogo.
Nesse período de 15 dias, podemos acrescentar toda a pressão da família, da imprensa, de amigos e, principalmente, da comissão técnica e de colegas de trabalho. Dá para tirar de letra quando se está ganhando, mas se estamos em dificuldade, com derrotas e baixo rendimento, não há Vila que aguente...
Confesso que todas as Olimpíadas, para mim, tiveram suas magias. Seul, em 1988, foi a primeira, marcante e deslumbrante para um novato nos Jogos. Barcelona ficou mais linda à beira-mar, até o sol ficou mais dourado, pelo simples trocadilho do mais puro ouro já conquistado por uma equipe de vôlei. Passaria despercebida com toda sua magia, se não fosse um caso inusitado, daqueles que só acontece em lugares especiais. Em uma tarde, entrei na loja de souvenir na Vila Olímpica para descontrair e olhar as tantas lembranças do evento e deparei com uma senhora muito simpática e sorridente. Cumprimentei-a, mas notei que estávamos sozinhos dentro da loja com duas atendentes em torno dela... Só depois caiu a ficha! Era nada mais do que a rainha Sofia, mas só fiquei sabendo horas mais tarde, quando o assunto veio à imprensa e todos falavam na Vila.
Esta é a magia de uma Vila: encontrar uma rainha, sentar à mesa com um recordista mundial, cruzar com um campeão olímpico e vivenciar um sonho de subir no ponto mais alto do pódio e cantar o hino do seu país com muito orgulho.
Tudo isto e muito mais detalhes vêm sempre nas memórias gloriosas de horas e horas de treino e dedicação de um atleta, sua vida, seus esforços, seu foco e sua concentração resumidos em 15 dias de inspiração e, por que não?, sorte.
E que seu adversário faça só um bom jogo...
*ZHESPORTES