
A história do futebol gaúcho passa pelas mãos de Manga. Passa pelos dedos tortos do ex-goleiro falecido nesta terça-feira (8).
Haílton Corrêa de Arruda desembarcou em Porto Alegre como uma lenda do futebol. Com Jairzinho e Garrincha fez parte de um Botafogo lembrado até os dias atuais. Venceu a Libertadores e o Mundial com o Nacional-URU.
Eram tantos os serviços prestados ao futebol que chegou ao Inter em 1974 já com os dedos parecendo uma obra cubística. Os minguinhos faziam quase um ângulo de 90 graus em relação à palma da mão. Os outros dedos ostentavam volumosos calos.
As formas incomuns eram reflexo do arrojo e de décadas evitando gols com as mãos desprotegidas. Elas foram ser abrigadas por luvas somente nos anos 1970.
Aos 37 anos, Manguita Fenômeno chegou ao Beira-Rio sob suspeita. Talvez estivesse velho demais, diziam os críticos.
— Ele vinha do Nacional-URU, onde foi eleito o melhor goleiro. Foi injustiçado na Copa do Mundo de 1966. O Inter descobriu ele através do cônsul do clube. A imprensa carioca debochou muito — relata João Carlos Belmonte, repórter da Rádio Gaúcha nos anos 1970.

Não estava. Ainda tinha saúde para ser tricampeão gaúcho. Bicampeão brasileiro. Suas defesas ajudaram a elevar o nível de exigência não só dos goleiros gaúchos, mas também do futebol pampeano como um todo.
— O Manga tinha um talento natural, tanto que tinha dificuldade de fazer os treinamentos individualizados logo no começo — comenta Cláudio Duarte, companheiro de Manga no Inter.
Manga x Nelinho
Poucos goleiros tiveram um duelo particular contra um jogador de linha. Manga teve o seu com Nelinho.
O chute do lateral-direito tinha uma força capaz de colocar a bola para o lado de fora do Mineirão, mas não para o lado de dentro do gol defendido por Manga.
Ao menos na final do Brasileirão de 1975. A cobrança de falta do cruzeirense naquela tarde gerou uma das defesas mais icônicas do futebol gaúcho. Uma bomba no canto segura com as duas mãos.
Por vezes, Manga precisava de uma mão só para segurar firme a bola. Não foram raros os lances em que seus dedos tortos se transformavam em longos tentáculos para parar cruzamentos com apenas uma mão.
— O Manga era o goleiro completo. Mas quando o Inter perdia, (ficava brabo) dava balão para frente — relembra Belmonte.
Essa aura o fez voltar ao Rio Grande do Sul em 1979. Desta vez para jogar no Grêmio. O andar do tempo apontava 42 anos de idade.
Mesmo sem os mesmos reflexos, foi campeão gaúcho em 1979.

— No Grêmio, estava no final de carreira. Já não era o grande goleiro do Inter. Tomou um gol do Carpegiani (do Flamengo) no Maracanã e o Fantoni (técnico) o tirou do time — conta Belmonte.
Dono de características ímpares, Manga fincou suas mãos na história do futebol gaúcho para ser lembrado por títulos tanto por colorados quanto gremistas.