Canoas recebeu nesta quarta-feira (11) o primeiro dia da edição de estreia dos Jogos Gaúchos Paradesportivos, organizados pela Secretaria de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul. No Ginásio da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), 22 delegações de 19 municípios disputaram duas modalidades — futsal para deficientes intelectuais e bocha paralímpica, modalidade tradicional da Paralimpíada.
Os jogos contam com a participação de cerca de 400 atletas. Os participantes se classificaram em seletiva organizada pela Secretaria em setembro deste ano.
O evento propicia para diversos atletas uma vivência competitiva que muitos deles nunca tiveram acesso.
Em dois anos, campeã estadual
Não é o caso de Lurdes Claudete Warken, 35 anos, que disputa a bocha paralímpica na classe BC3, para atletas com deficiências muito severas. Eles usam hastes, calhas e instrumentos de auxílio e podem ser ajudados por outra pessoa. Kika, como é conhecida, é atleta da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Teutônia e foi campeã estadual na modalidade em 2023.
— Eu nunca imaginei que ela ia conseguir jogar, mas a gente sente que é uma coisa que ela gosta muito. É gratificante demais acompanhar ela e ver ela tendo êxito no esporte. Ela faz tudo com os pés para jogar e se comunica por sinais — conta Marli Warken, mãe de Kika.
A paratleta joga a modalidade há dois anos, quando foi convidada por uma professora para praticar a bocha paralímpica. Desde então, sua vida mudou. Duas vezes por semana ela é buscada em casa e treina por 45 minutos na Apae da sua cidade. Mesmo com paralisia cerebral, Kika disputou o brasileiro da modalidade em Aracaju, em Sergipe.
Em nome da superação
No primeiro dia de competições, a Apae de Vacaria jogou quatro vezes e venceu todas, alcançando a final na categoria para deficientes intelectuais. E chegar até Canoas não foi fácil. Foi preciso superação para percorrer os 224km entre o munícipio da Serra e o da Região Metropolitana.
Com apenas cinco atletas e nenhum reserva, a equipe vem surpreendendo na disputa pelo título. Um dos responsáveis pela boa campanha é Luan de Souza Costa, 21 anos, goleiro do time que tem deficiência intelectual leve. Desde os oito anos na Apae, ele se divide entre o trabalho, como auxiliar em uma empresa de telefonia, e o futsal. Ele e seus colegas treinam uma vez por semana. Para disputar os jogos em Canoas, foi necessário pedir folga no trabalho.
— Eu cheguei lá por acaso. Me convocaram e eu comecei a fazer parte da equipe. É uma adrenalina, né? Nunca chegamos a esse patamar — comenta o goleiro da Apae Vacaria.
Durante a campanha no dia, o time sofreu com lesões, algo incomum para quem tem poucos atletas à disposição. Nada disso, no entanto, tirou a vontade de Edna Mendes, treinadora da equipe.
— É muito bom treinar eles, mas também desafiador. Nos fazem pensar de outra maneira sobre a vida. Não existe impossível para eles.
Promovido pela Secretaria do Esporte e Lazer do RS, o evento acontece das 8h às 14h, no segundo dia de disputas, com cerimônia de encerramento e premiação previstas para as 15h30min.