Na última quarta-feira (8), a goleira Lorena, do Grêmio e da Seleção Brasileira, foi diagnosticada com estiramento de grau 2 no Ligamento Cruzado Anterior (LCA) do joelho esquerdo. Agora, a atleta passará por um tratamento conservador e deve retornar aos gramados em até oito semanas.
Esse é apenas um dos vários casos de LCA que aconteceram nos últimos anos no futebol feminino. No Grêmio, as lesões recentes envolveram a meia Pri Back, a atacante Gabizinha e a lateral Sinara — esta foi a primeira a machucar-se e a única que já voltou a atuar. Todas tiveram de passar por cirurgias.
Para tentar entender melhor do que se trata a lesão de LCA, a reportagem de GZH conversou com Ivan Pacheco, ortopedista e traumatologista, especialista em Medicina do Esporte e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Confira abaixo.
O que é LCA?
O Ligamento Cruzado Anterior (LCA) é o mais importante do joelho, uma estrutura fibrosa que funciona para ligar os ossos e fornecer estabilidade ao joelho. Em conversa com a reportagem de GZH, Ivan Pacheco explica que ela funciona como uma "corda", que junta os dois principais ossos da região: o fêmur e a tíbia.
No momento de lesão ou ruptura, o indivíduo, com o pé apoiado, realiza um movimento rotacional no sentido inverso. Ainda segundo Pacheco, existem tipos de lesão. Um estiramento, como é o caso da goleira Lorena, é apenas uma pequena ruptura nessa "corda" e, muitas vezes, não é necessária intervenção cirúrgica. Apenas um período em repouso e exercícios de fortalecimento são suficientes. No caso de ruptura total, uma lesão completa, é necessário cirurgia.
— LCA é um ligamento que não cicatriza. Por isso que quando rompe é feita uma reconstrução. Depois da cirurgia ainda tem todo o período de recuperação, para que a pessoa lesionada consiga recuperar 100% os movimentos e a estabilidade — explica.
Por que atinge tantas atletas do futebol feminino?
Pacheco explica que não existe uma pré-disposição por idade, mas, sim, por intensidade do esporte. Esse é o caso do futebol. No feminino, porém, existem fatores agravantes. O médico afirma que existem estudos, mas nada definitivo, sobre o porquê mulheres são mais suscetíveis a esse tipo de lesão. Uma das hipóteses, de acordo com ele, é hormonal.
— Existem estudos que dizem que a mulher fica mais pré-disposta a lesões no período menstrual. Estudos que abordam o risco das mulheres se lesionarem, principalmente na semana anterior ou posterior do início do período menstrual. Então, é muito provável que os hormônios tenham uma influência muito grande — reitera.
Outros fatores citados por ele como possíveis agravantes incluem força muscular e desgaste físico maior que o homem. Além, também, de questões anatômicas, diferentes no corpo masculino e feminino.
Apesar disso, existem fatores de prevenção que, segundo o doutor André, podem diminuir em até 80% as chances de lesões.
— Reforço muscular e exercícios de Propriocepção são alternativas boas, que não zeram as chances de uma ruptura, uma lesão no ligamento do joelho, mas diminuem bastantes as possibilidades — afirma.
Outros casos
Na temporada de 2021, em uma rodada de Brasileirão Feminino A-1, quatro lesões de LCA foram registradas em atletas de diferentes clubes: a meio-campista Gaby Louvain, do Botafogo, a zagueira Fran Bonfanti, do Avaí Kindermann, a goleira Tainá Borges, do Corinthians, e a atacante Pâmela, do Corinthians.
Em 2022, o caso de maior destaque foi o de Marta. A camisa 10 da Seleção Brasileira se machucou no segundo jogo oficial do Orlando Pride na NWSL. A atleta passou por cirurgia em março e ficou quase um ano fora dos gramados. O retorno ocorreu em 16 de fevereiro de 2023, contra o Japão, pela She Believes.
Ainda na Seleção Brasileira, a meia Angelina também sofreu com a lesão. Durante a Copa América de 2022, ela teve constatada LCA, no primeiro tempo da final diante da Colômbia. A atleta passou por cirurgia e segue em recuperação.