A tranquilidade buscada por seleções de futebol para treinamentos em Viamão, na Região Metropolitana, ganhou areia de praia e ares de competitividade diferente para receber a terceira edição da Sul Special Cup de Beach Tennis, a partir desta sexta-feira (25).
Em poucas modalidades esportivas será possível ver um tetra campeão mundial bater bola com promessas ainda jovens. Com o ritmo ditado pela percussão da bolinha nas raquetes e três idiomas bem humorados em duas quadras, o carioca Vini Font, de 38 anos e quatro títulos mundiais, organizava o treino da manhã de quinta com os colegas.
— Nenhum outro lugar do Brasil tem uma estrutura como essa com hotel, quadras e a natureza tão perto para receber tanta gente — elogia, sendo acompanhado por Rafael Moura, 39, ex-atacante de Inter e de várias equipes, que encerrou a carreira no futebol profissional em 2021, descobrindo-se logo em seguida como atleta do beach tennis.
— Talvez eu treine e viaje mais do que na época de jogador. A diferença é que agora consigo trazer minha família junto, passar um tempo de qualidade conversando com quem está aqui, vou a lugares bonitos além do aeroporto e do estádio. Além de não ter a cobrança e pressão que tinha pelos desempenhos — compara.
O desenvolvimento da modalidade é consenso entre atletas de diferentes níveis. A equipe Beach Squad, da cidade francesa de Bordeaux, está desde o começo de novembro no Brasil só para competições. O objetivo deles, segundo o treinador Jerome Maillot, 38 anos, é somar pontos para o ranking mundial e mostrar trabalho a possíveis patrocinadores na volta à França.
— Até temos lugares e competições parecidas, mas não tão grandes e completas quanto essa aqui — explica, em espanhol, projetando uma viagem pelo país assim que encerrarem a participação dos seis atletas na disputa por 200 pontos no ranking mundial.
— O Rio Grande do Sul é polo para o esporte, que está se desenvolvendo muito rapidamente. Me arrisco a dizer que o beach tennis é atualmente o segundo esporte mais assistido no país. Isso é uma oportunidade e um dever pra mim — ressalta o italiano Alex Mingozzi, 41 anos, técnico da seleção brasileira e organizador da Sul Special Cup no Vila Ventura.
No total serão quase mil atletas, cerca de 700 amadores e 300 profissionais — em quatro dias de competição em 17 quadras de areia — sendo uma arena com arquibancadas e estrutura para transmissão de imagens ao vivo. Há quiosques de alimentação e hidratação posicionados estrategicamente em meio aos espaços de competição, que ficam aos fundos do hotel.
— Carrinho de golf dando carona nas lombas, água de coco e patrocínio por tudo, precisamos reconhecer esta estrutura por trás do evento — reforça Vini.
— Minha filha e minha esposa estão dormindo no quarto enquanto desci aqui para jogar com o pessoal. É outra relação com o esporte e com a competição, mas que está focando no atleta, como o futebol faz, por exemplo — destaca Rafael Moura.
Integração
A organização enaltece o investimento feito pelo Vila Ventura Eco Resort, concluindo as quadras no segundo semestre de 2022. A diretora da competição, Renata Zwanirski, explica que uma das principais demandas era aproximar amadores de profissionais. Entre as principais atrações na quadra, estarão 17 dos 20 melhores ranqueados do mundo.
— Percebemos que na última edição houve reclamações dos amadores que jogavam em um local enquanto outra sede recebia as disputas profissionais. Assim começamos a buscar uma sede ampla o bastante, o que encontramos no Vila Ventura — explica Renata, ao podcast Saque na Cinco.
Entre desembarques, decolagens
Atleta do tênis na adolescência, Sophia Chow, 25 anos, se encontrou por acaso no beach tennis. O primeiro contato dela havia sido em uma brincadeira, no intervalo dos treinos do tênis de quadra sem areia, modalidade na qual ela era atleta universitária nos Estados Unidos, onde se formou em Marketing.
Em entrevista ao podcast Saque na Cinco, de GZH, ela relembra que as dificuldades para encontrar a estrutura necessária para o beach tennis no país norteamericano fez com que ela abraçasse a modalidade apenas no final de 2020, quando a volta ao Brasil se fez necessária. Sophia revela que o novo esporte foi crucial para superar um momento delicado de sua vida pessoal:
— Foi bem difícil aquela transição, muito tempo de quarentena a cada viagem entre os Estados Unidos e o Brasil. Meu pai percebeu que eu estava em uma certa ‘deprê’ por conta dessa adaptação dos EUA para cá, e me motivou a fazer alguma atividade física. No clube Paineiras me aproximei do BT e a coisa deslanchou.
A Sul Special Cup de 2021 foi o primeiro título de peso conquistado por ela. Neste último ano, a ascensão dela a levou a 8ª posição do ranking mundial.
— Já tinha ganho outros torneios menores, mas o Special Cup foi o primeiro maior que conquistei. Foi super bem organizado e proporcionou o momento para alavancar minha carreira — relembra, projetando repetir o desempenho em 2022.
Ela terá pela frente dois paulistas que estavam desde as 10h da manhã preparando-se para os primeiros confrontos da tarde. Jean Carlos Pereira, o Jacaré, 38 de idade e 21 de tênis e beach tennis, e Alfredo Elias, 25, dão aulas da modalidade em São Paulo. Vieram ao Rio Grande do Sul para desafiar os melhores do mundo e aprimorar os próprios métodos de trabalho.
— Jogamos contra um inglês que já foi top 40 do mundo. É diferente. Mesmo que treinemos com gente de alto nivel em São Paulo, é uma experiência nova, vemos eles fazerem coisas que parecem fáceis na televisão mas que pessoalmente percebemos que é quase impossível de fazer. Isso nos desafia em quadra ao mesmo tempo que ensina novas técnicas para levarmos para os alunos — comentam, elogiando a estrutura que recebe ambos hospedados ao longo da semana.