Há três anos, a Seleção Brasileira vivia o maior pesadelo de sua história. No Mineirão, para um público de quase 60 mil pessoas, o time de Luiz Felipe Scolari era goleado por 7 a 1 pela Alemanha e via em pedaços o sonho de chegar ao hexacampeonato da Copa do Mundo em casa.
Depois de 1096 dias, o futebol brasileiro vive um caminho de reconstrução. A Seleção conquistou em 2016 o inédito ouro olímpico, cresceu sob o comando de Tite e já está garantido no Mundial da Rússia, no ano que vem.
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Zero Hora conversou por telefone com Paulo Paixão, que era preparador físico da Seleção na goleada histórica, para analisar as marcas e consequências da eliminação.
O 7 a 1 ainda é uma lembrança incômoda?
Se for levar pelo lado anímico, incomoda. Perder no seu país por um placar tão elástico incomoda. Sempre que vejo a preparação, concluo que faria de tudo de novo. Foi um jogo atípico. Se o Brasil tivesse aplicado 7 a 1, também seria atípico. Se fala muito em estudar, mas para aquele jogo especificamente, em que eu estava inserido, a contusão do Neymar foi determinante. Ele era e é até hoje um exponencial de respeito dentro do cenário mundial. Aquilo animicamente mudou tudo. Com a participação dele, com o acréscimo técnico, poderia mudar. Tive dois momentos deste com a Seleção. Com o Ronaldo, em 1998, e com o Neymar em 2014. Mas acho que passou. Serviu como ensinamento. Claro que arranhou o nosso currículo, mas não deve ser levado com culpabilidade. Quiseram crucificar o Felipão, mas o futebol é coletivo. Não se pode direcionar a um vetor a questão de uma derrota ou de insucessos. Tem que distribuir para todos os setores. Direção, jogadores, comissão. Vejo futebol assim. A Alemanha esteve para ser eliminada pela Argélia, futebol é assim. Essa é a nossa profissão.
Como estava o rendimento físico da Seleção?
A equipe estava subindo de produção. Contra o Chile, foi duro, depois subiu contra a Colômbia. Em competições curtas, tem que subir a curva a partir do terceiro jogo para chegar a um bom estágio no sétimo jogo. Me sinto muito tranquilo em tudo o que foi realizado. Não tem que direcionar a culpabilidade. A gente sabe que a vida segue. Depois, tivemos notícias boas e ruins, até na vida pessoal.
O que você acredita que tenha mudado nos últimos três anos?
Houve uma preocupação dos profissionais, principalmente dos treinadores. A preparação física, o treinamento desportivo, fisiologia, aqui no Brasil, são os melhores. Mas os treinadores buscaram, neste período, entender a forma de os times jogarem lá fora, principalmente na Alemanha. Acho louvável os treinadores saírem. A CBF aumentou o número de cursos também. Houve um movimento pós este resultado, em todos os setores.
Como você analisa a Seleção para a Copa de 2018?
Muito bem. O Tite soube tirar proveito de tudo o que não deu certo até então. Reuniu essas coisas de forma inteligente e está usando muito bem.
Já tem planos para retomar a carreira?
Depois da infelicidade em novembro (Anderson, filho de Paulo, foi uma das vítimas no acidente da Chapecoense), falei que iria ficar até junho, julho, cuidando dos netos, da família e de mim mesmo. Neste período, foram muitas conversas. Eu disse "agora, não". Às vezes, o trem passa e você tem que pegar. A partir de agora, de meados de julho para frente, vou em busca de um novo projeto.