"Nós somos campeões mundiais". Tom Brady, astro esportivo dos Estados Unidos concluiu assim uma resposta em entrevista ainda dentro do campo no qual, minutos antes, havia conduzido o seu New England Patriots ao título do Super Bowl no último domingo. Título, veja bem, do Super Bowl.
O Super Bowl é a final do campeonato estadunidense de futebol americano. No campeonato estadunidense de futebol americano, apenas times dos Estados Unidos estão inscritos. Após vencer o campeonato do país dele, onde apenas times do país dele estavam na disputa, Brady parabenizava seus colegas de time por terem sido "campeões mundiais". Não te parece esquisito?
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Até podemos combinar que, ao que tudo indica, os Estados Unidos têm, de fato os melhores times no esporte que eles inventaram. Podemos concordar que o time que vence o campeonato nacional mais forte do esporte é, de fato, um clube bastante bacana. Mas... "campeões mundiais"?
A megalomania do país de Trump fica ainda mais estranha quando assistimos às finais do beisebol. Eles chamam os jogos que decidem o título da sua liga nacional de "World Series", ou "Série Mundial". Isso que o beisebol é um esporte bastante popular e largamente praticado ao redor do mundo.
No futebol jogado com os pés, a discussão mundialista virou flauta para um lado e birra para o outro. Há quem tente justificar seu título "mundial" dizendo que "aqueles eram os melhores times da época". Será? Quem garante que não haveria um Kidiaba quicando no caminho de Renato? Ou então um Raja Casablanca para surpreender o Flamengo de Zico? Ninguém – sem estar embriagado de clubismo ou saudosismo – pode garantir.
A grande dúvida é: não é bastante estranho se dizer "Campeão do Mundo" após vencer um torneio que não possibilita a participação de atletas de todo o mundo? Esse tipo de autoproclamação ignora a irracionalidade inerente ao esporte. Não há jogo jogado. Ninguém é vencedor de véspera. Não há campeonato mundial sem que o mundo inteiro tenha, no mínimo, a chance de competir.
O Porto Alegre Crows (time de futebol americano daqui) pode, mesmo que em um dia absolutamente atípico e insano, bater os Patriots de Tom Brady assim como um clube de futebol da República do Congo conseguiu vencer o campeão da Libertadores da América. Aí eu te pergunto: é "campeão do mundo" o vencedor de um jogo entre apenas dois continentes? Não sei tu, mas eu acho esquisito.
*ZHESPORTES