Em 2011, o então vice-presidente da China, Xi Jinping, elencou os três ambiciosos objetivos para o futuro do futebol em seu país: o retorno da seleção à Copa do Mundo, sediar a competição em território chinês e vencê-la.
À época, os planos de Xi, um fã de futebol que hoje é presidente do país, poderiam ser interpretados como delírio. Ainda que estejam longe de serem cumpridos, percebe-se, hoje, ao menos a disposição do governo de colocar a China no lugar de destaque que costuma ocupar em outras modalidades.
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A contratação de Oscar pelo Shanghai SIPG, por incríveis 60 milhões de libras (mais de R$ 240 milhões), é a mais cara da história da liga do país. Arsène Wenger, técnico do Arsenal, chegou a classificar o valor de "distorcido". A janela de transferências se encerra só no fim de fevereiro. No ano passado, os clubes gastaram pouco mais de R$ 970 milhões em contratações. Um recorde que parece prestes a cair.
De onde vem a grana?
As equipes chinesas são controladas por empresas – estatais ou privadas. Quem investe no futebol recebe isenções fiscais e vantagens como concessão de terrenos para construtoras.
– Existe também uma questão de vaidade. Os clubes têm proprietários e todos querem fazer a grande contratação – lembra Ricardo Mello, agente Fifa que trabalha com o mercado chinês desde 2008.
O investimento contínuo fez com que a China passasse a desfalcar não somente equipes sul-americanas. Agora já se atreve a tirar jogadores de clubes das milionárias ligas europeias.
Críticas
Há, porém, questionamentos a respeito da política de desenvolvimento do futebol. Recentemente, um artigo do jornal chinês Diário do Povo criticava os altos valores em contratações, contrastando com o déficit na infraestrutura e na base. Os gramados, por exemplo, não são os melhores.
– Há investimento nessas áreas, mas não tão intenso quanto o que vimos no Japão nos anos 1990, na época do boom do futebol japonês. Eles formaram jogadores e hoje vemos japoneses atuando em grandes ligas – diz Mello.
Construção de campos
Em abril, o governo lançou o "Plano de médio e longo prazo para o desenvolvimento do futebol chinês". A ideia, segundo reportagem do Wall Street Journal, é transformar o país em uma potência futebolística até 2050. A infraestrutura, criticada pelo Diário do Povo, recebe atenção especial. O documento prevê a construção de campos de futebol até que a média de campos por 10 mil pessoas fique na faixa de 0,5 a 0,7. Determina, também, que cada região, com exceção das montanhosas, tem de ter ao menos dois campos de futebol abertos ao público.
Experiência
Mesmo que as contratações milionárias possam barrar a evolução dos jogadores chineses, tirando-lhes espaço, há o entendimento de que o contato com atletas de grandes centros é benéfico. Os estrangeiros são encorajados pelos clubes a passar suas experiências aos locais.
– O bom do chinês é que ele sabe ouvir. Tenta aprender. Quando há vários chineses bons no time, obviamente que ele tem sucesso – lembra Barcos, ex-Grêmio, que atuou no Tianjin Teda em 2015.
Adaptação difícil
O estrangeiro que chega à China com a perspectiva de encher os bolsos carrega a responsabilidade de ser a referência principal de sua equipe. Mesmo que seja superior tecnicamente em relação a companheiros e adversários, nem sempre se adapta com facilidade. É o caso, por exemplo, do colombiano Jackson Martínez, que foi parar no banco do Guangzhou Evergrande, treinado por Felipão.
– Lá, eles são os jogadores que têm de pegar a bola e fazer a diferença. Nem sempre tem a característica para isso – analisa Mello.
Bom público
O esporte mais popular da China é o tênis de mesa, mas o futebol tem conquistado seu espaço. A média de público da última edição da liga nacional ficou em mais de 24 mil pessoas por jogo.
– Ganhando ou perdendo, estão sempre acompanhando. Isso é diferente do que na América do Sul, em que você tem a obrigação de ganhar sempre. Não tem toda essa pressão – lembra Barcos.
Ainda assim, há preocupação com a crescente violência nas torcidas. Um estudo dos pesquisadores
Terence Hsieh e Tyler Rooney concluiu que, "mesmo que o futebol na China seja um esporte relativamente novo, não impediu a rápida institucionalização da violência".
Chegadas e partidas no movimentado mercado chinês
* ZH Esportes