O Grêmio não vai ser campeão. O Grêmio não vai ser campeão. Fico repetindo isso, para mim mesmo e para amigos, não como praga, mas como vacina. Estou cansado de decepções, de sonhos estraçalhados, de cornetas coloradas. Minha situação é semelhante à das pessoas que um dia foram ricas e agora se veem em apuros. Cresci na fartura, não posso me queixar (com as dolorosas exceções do Gre-Nal do Século e dos pênaltis contra o Ajax), mas hoje só o passado conforta. Os anos de 1981, 83, 89, 94, 95, 96, 97 e 2001 já se transformaram em antigos e empoeirados álbuns de fotografias, como aqueles que os novos-pobres acessam, nostalgicamente.
Nesses 15 anos, sofremos derrotas traumatizantes: a disputa de pênaltis contra o Olímpia, o segundo rebaixamento, as finais contra o Boca (a ilusão de que poderíamos dar uma resposta imediata à Libertadores e ao Mundial do Inter), o esfarelamento dos 12 pontos de vantagem sobre o São Paulo, o gol do Robinho esfriando a fantástica reação na semifinal da Copa do Brasil de 2010. Alegrias foram raras – a Batalha dos Aflitos, o Mazembaço, o 5 a 0; o que mais?
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Nos acostumamos a perder, essa é a verdade. O sofrimento virou zona de conforto – a narrativa gremista é a de um time contra tudo e contra todos; o sucesso é secundário, o importante é ter do que reclamar. A Imortalidade virou sobrenome – "você sabe com quem está falando?", parece que dizemos aos adversários, como se bastasse isso, um sobrenome, para abrir portas. Não interessa se nossos dirigentes erram em contratações, se nossos treinadores erram em decisões, se nossos atacantes erram em conclusões.
Mas talvez seja isso o que nos tranquilize hoje: a certeza do erro. A segurança de que vai bater a insegurança – esse monstro que cresce a cada ano, a cada gol perdido, esse fantasma que apavora os jogadores da base desde o berço, esse vírus que contamina os recém-chegados. Todos os atletas do Grêmio sonham em quebrar esse encanto e entrar para a história. Deve ser um pesadelo.
Por outro lado, é isso o que nos move hoje: a busca por um título, como se uma taça nos devolvesse aos tempos de champanha à vontade. Não me iludo – para começar, temos de passar pelo Cruzeiro, amanhã. Mas já escrevi na cabeça uma frase épica no caso de vencer a Copa do Brasil: pelos pés de Renato, o Grêmio viveu sua glória; por suas mãos, reviveu as glórias.
Na pior das hipóteses, já estarei vacinado.
*ZH ESPORTES