Recordo-me de, quando criança, ir aos Gre-Nais acompanhado de meu irmão dois anos mais velho apenas. Nenhuma ou pouca preocupação havia em nossos pais com o simples fato de irmos assistir a um jogo de futebol. Tomávamos um ônibus e pronto. Chegávamos cedo ao Olímpico ou ao Beira-Rio sem qualquer problema. Apenas preocupados em garantir um bom local na arquibancada.
Qual pai em sã consciência irá permitir aos filhos cometer tal temeridade nos dias de hoje?
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Não tenho a noção exata de quando começou. Creio que ninguém deu muita atenção ao fenômeno da crescente violência nos estádios até o dia em que saiu das páginas esportivas e passou para as policiais com tudo isso que vemos agora: brigas, assassinatos, disputas violentas pelo controle de facções e etc.
Pesquisas, no entanto, indicam que somente cerca de 6% dos membros das torcidas organizadas integram o núcleo de violência. Os demais são mantidos em certo modo pelo medo à represália. Significa dizer que, não apenas o restante dos torcedores, mas a imensa maioria da sociedade, desportistas ou não, sofrem os efeitos nefastos do chamado hooliganismo.
Afinal, quantos deixam de ir aos estádios por medo da violência? Quantas horas de trabalho são despendidas por policiais, agentes do Ministério Público e da Justiça? Qual o custo dessa barbárie para a sociedade e para os clubes especificamente? Não precisamos ir além, para ver que é necessário dar um basta.
Nos últimos anos, ações concretas do Judiciário e do Ministério Público vêm sendo empreendidas com a finalidade de coibir as infrações cometidas nos estádios. Contudo, tais medidas, por mais relevantes que sejam, têm-se mostrado insuficientes à erradicação do problema. E penso que sua eficácia depende essencialmente da atuação conjunta da sociedade civil.
Afinal, não se mostra minimamente justo que uma minoria truculenta e facistóide mantenha refém o restante da sociedade, que busca no futebol momentos de alegria e divertimento familiar. Por isso, a ideia de uma torcida mista no Gre-Nal mostra-se extremamente oportuna. Uma digna resposta à intolerância que merece ser saudada.
De Fora da Área
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