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O Inter que volta ao Estrela D’Alva não é o mesmo de 2024. A casa do Guarany também não. É que uma temporada na elite gaúcha, segundo o presidente Tato Moreira, equivale a uma evolução de três anos em termos de estrutura. Este 2025, então, pode valer uma década. Ou até mesmo a eternidade. O Índio ainda desfilará seu uniforme alvirrubro na Copa do Brasil e na Série D, cruzará pela primeira vez as divisas do Rio Grande do Sul para a disputa de torneios nacionais.
Em 355 dias desde a vitória de 2 a 0 do Guarany sobre o Inter, de Coudet, no ano passado, o Estrela D'Alva foi reformulado sem perder o charme de ser o quarto estádio mais antigo do Brasil. Quem acompanhar o jogo pela televisão verá arquibancadas recém pintadas. Um visual mais aconchegante, mais compacto.
Do lado de fora do gramado, ao lado da grande área de um dos gols, se verá uma construção inacabada. O novo vestiário do visitante ficará para um futuro não muito distante. Lá os adversários terão um local exclusivo para jogadores, comissão técnica e dirigentes. A direção poderá assistir à partida em uma cabine exclusiva. Os hóspedes temporários ficarão isolados em relação aos donos da casa.
As maiores modificações foram internas. Uma nova área de massagem e recuperação dos jogadores foi montada. Um novo local para entrevistas surgiu. Novas salas foram agregadas ao ambiente. Um espaço para todo o aparato do VAR foi encontrado. Dentro dos limites estruturais e orçamentários, o Guarany se atualiza.
— Em um ano na Primeira Divisão, a gente consegue evoluir três anos na estrutura. Fazia muito tempo que nada era feito no estádio — explica o presidente Tato Moreira.
Há aumento de números. A quantidade de profissionais envolvidos cresceu. Novas áreas foram agregadas ao departamento de futebol. Um psicólogo presta serviço aos jogadores.
Alguns dados corroboram o crescimento do Guarany. Em 2022, o quadro de sócios contava com 100 inscritos. Hoje, eles passam dos 1,5 mil, recorde histórico para o único bicampeão gaúcho do Interior.
A quantidade de patrocinadores deu um salto. A camisa tem similaridades com um macacão de Fórmula 1, tamanha a quantidade de marcas expostas nela. É de se pensar que com mais dinheiro em caixa e um calendário gorducho, a direção se esbaldou nas compras para montar o time. Engano.
Manutenção da essência do futebol gaúcho
Sim, a folha salarial cresceu. Sim, o elenco também foi encorpado. Mas nada fora da realidade. O custo mensal do departamento de futebol está na casa dos R$ 400 mil por mês. Mais do que a mudança de nomes no grupo, se vê uma mudança de estilo.
— O jogadores que vieram conseguiram se adaptar e entender que culturalmente ainda nós temos muito forte uma essência do futebol gaúcho. Futebol competitivo, melhorou muito tecnicamente, mas ainda é um futebol que precisa bastante entrega, competir, querer buscar vitória desde o primeiro minuto — ressalta o técnico Márcio Nunes.
O elenco conta com 28 jogadores. Apenas oito estavam no ano passado. Atletas de fora do Estado com experiências nas Séries B e C formam o cerne do plantel.
A satisfação e o orgulho pelo momento são proporcionais ao peso da responsabilidade de manter o patamar. Em um passado não muito distante, o Guarany viveu momentos de euforia e, na sequência, sofreu grandes tombos. Caso de 2008, quando caiu para a Série B estadual após ter sobrevivido na elite por um ano.
Mesmo que tenha competições nacionais pela frente, a maior meta é regional. Evitar, mais uma vez o rebaixamento constitui-se como o principal objetivo. A última vez que o Guarany passou três temporadas no Gauchão foi em 1982.
A intenção do presidente Tato é ter a mesma resistência que os bajeenses tiveram no Cerco de Bagé, em 1893, quando os republicanos resistiram entrincheirados ao ataque das forças federalistas durante 47 dias.
— É um ano de muita responsabilidade. A distância entre não cair e cair sempre é pequena. Lutamos tanto para sair da Divisão de Acesso, então sabemos o quanto é difícil — destaca.
O Guarany e o Estrela D’Alva que o Inter vai reencontrar são os mesmos, mas nem tanto. No ano que vem pode ser ainda mais diferente.