Pela primeira vez, D'Alessandro vestirá azul no Beira-Rio. Um dos maiores ídolos da história colorada, o ex-camisa 10 do Inter é uma das atrações do Cruzeiro, oponente da partida das 21h deste sábado, válida pela 13ª rodada do Brasileirão. Claro, não é mais dentro do campo. Sua atuação, agora, é outra: D'Ale é o coordenador de futebol do clube mineiro.
Se não é mais o meia habilidoso e criativo que encantou torcedores, sua liderança permanece a mesma agora do outro lado do balcão. O ex-jogador é o interlocutor entre grupo de jogadores e direção. E já passou por uma prova logo nos primeiros dias.
Não tinha nem uma semana de cargo quando, após uma derrota para o América-MG, jogadores do Cruzeiro entraram em uma briga entre si em Sete Lagoas. Foi ele quem apartou os envolvidos e alçou a voz para acalmar o ambiente, à época comandado pelo técnico Paulo Pezzolano.
A partir dali, marcou sua entrada nesse espectro do esporte. Ganhou a confiança dos atletas e também dos dirigentes, especialmente do dono da SAF que gerencia o clube, Ronaldo Nazário. Nem mesmo a mudança da comissão técnica, com a ida de Pezzolano para o Valladolid, mudou sua moral. Ele segue como referência no vestiário.
Na última semana, recebeu o ex-meia Alex, campeão brasileiro pelo Cruzeiro em 2003. O ídolo esteve na Toca da Raposa e postou uma foto com D'Alessandro. Cenas que foram repetidas por outros visitantes ilustres.
Em Porto Alegre, porém, sua passagem está sendo mais discreta. Encontrou alguns amigos para um churrasco na quinta-feira à noite, e na sexta se juntou à delegação para a concentração. Sem estardalhaço, sem demonstrações públicas de afeto ao Inter. Assim como o oposto.
O sábado não prevê qualquer homenagem colorada ao ídolo. Seu nome não será mencionado no telão, não receberá placa ou algo assim. O tratamento é de um adversário como qualquer outro.
Recentemente, a relação entre D'Alessandro e a atual direção colorada sofreu um estremecimento. O repórter Eduardo Gabardo, colunista de GZH, publicou que o Inter está há cinco meses sem pagar uma dívida com o ex-jogador. A origem do débito é um acordo pela variação cambial prevista nos vencimentos da época em que o argentino era atleta.
D'Ale recebia parte do salário em dólar. As oscilações da moeda americana na comparação com o real motivavam ajustes. No início de 2021, os dirigentes propuseram um acordo para quitar o débito. Eles pagariam os R$ 6 milhões em quatro anos, com parcelas de R$ 150 mil. Em entrevista ao programa Bola nas Costas, da Rádio Atlântida, o presidente Alessandro Barcellos confirmou o acordo e o atraso, mas afirmou que conseguiria colocar em dia algumas parcelas. Procurada, a direção colorada não atualizou a situação.
D'Alessandro também tem evitado manifestações públicas. E não só pela dívida, a qual, inclusive, descarta entrar na Justiça para receber. A questão é mais profissional mesmo. Não quer criar qualquer dúvida sobre sua dedicação ao Cruzeiro.
Mas para os torcedores, pouco importa. Há um movimento nas redes sociais para aplaudir e homenagear o ídolo. Quando aparecer no campo, ele certamente ouvirá a música que tanto embalou sua história no Beira-Rio. Em quase 14 anos de Inter, D'Alessandro vestiu a camisa 529 vezes, marcou 97 gols e proporcionou 113 assistências, que deram aos colorados 13 títulos, em especial a Libertadores de 2010. Do Gre-Nal da Copa Sul-Americana, em 13 de agosto de 2008, ao último jogo (e gol) diante do Fortaleza em 17 de abril de 2022, foi escrita uma história em vermelho e branco. Não é o azul do Cruzeiro que apagará.