O gol de Bruno Méndez, que evitou a derrota para o Santos, na Vila Belmiro, na quarta-feira, garantiu o 14º jogo de invencibilidade do Inter na temporada. O último revés, para o Atlético-MG, na estreia do Brasileirão, completa dois meses hoje e foi ainda sob o comando de Alexander Medina.
A sequência invicta começou na despedida do uruguaio, no 1 a 1 com o Guaireña, pela Sul-Americana, e teve ainda a vitória sobre o Fortaleza com o interino Cauan de Almeida antes de Mano Menezes assumir a equipe.
Com os 12 jogos sem derrota, Mano chegou a um feito que nenhum treinador alcançava em início de trabalho desde Celso Roth, em 1997, e terá diante do Flamengo, neste sábado (11), no Beira-Rio, o desafio de ampliar a marca para colocar o clube de vez na briga pela liderança do Brasileirão.
O crescimento do Inter com Mano Menezes fica comprovado nos números. Nos 12 jogos sob o comando do treinador, o clube tem um aproveitamento de 61,1% contra os 47,05% de Medina.
É verdade que o novo treinador pôde contar com os reforços de Wanderson, Alan Patrick, Vitão, Renê e Pedro Henrique, que não chegaram a ser comandados pelo uruguaio, mas a equipe tem mostrado uma forma de atuar que passa maior confiança, ainda que tenha fatores a ajustar.
GZH elenca pontos positivos na sequência invicta e também problemas que Mano ainda precisa corrigir para o Inter alçar voos maiores.
PONTOS POSITIVOS
Desempenho defensivo
Logo que chegou, Mano Menezes tratou de aprimorar o sistema defensivo. Nos quase três meses de Beira-Rio, Cacique Medina teve na defesa o seu calcanhar de Aquiles. O clube sofreu 20 gols em 17 jogos (média de 1,17), tendo na maior parte do calendário o Gauchão contra adversários de um menor nível em relação ao Brasileirão.
Mano optou primeiramente por uma marcação com linhas mais baixa, protegendo seus zagueiros e obteve resultado terminando os três primeiros compromissos sem sofrer gol. A medida que as partidas foram passando, ele precisou soltar mais o time, mas, ainda assim, os números defensivos são bons. O Inter sofreu oito gols nos 12 jogos com o treinador (média de 0,66 por partida).
Capacidade de reação
Neste período de invencibilidade, o Inter esteve quatro vezes atrás do marcador. Contra o Fortaleza, sob o comando do auxiliar Cauan de Almeida, o Colorado conseguiu sua única virada na temporada com a vitória de 2 a 1 obtida com o gol de Alemão nos acréscimos, no jogo que marcou a despedida de D’Alessandro.
Já com Mano, o time esteve três vezes atrás do placar. Se não conseguiu virar, pelo menos, soube buscar os empates nos segundos tempo dos jogos. Foi assim diante de Cuiabá, Guaireña e Santos. Após a partida na Vila Belmiro, Mano Menezes exaltou essa capacidade de reação da equipe.
— Gostei da nossa resposta dentro da dificuldade. É isso que precisamos ter, mostrar para os adversários que podemos brigar pelo resultado em qualquer lugar e contra qualquer adversário. Isso me deixa contente — afirmou.
Posicionamento de Carlos de Pena
Mano Menezes fez adaptação nas funções de alguns jogadores desde sua chegada ao Inter, mas o principal acerto, sem dúvida, foi Carlos de Pena. Contratado para atuar preferencialmente pelo lado do campo, o uruguaio foi fixado como volante e virou uma peça-chave nos melhores momentos colorados nessa sequência invicta. De Pena só não foi titular contra Cuiabá e Bragantino, mas em ambos jogos o Inter melhorou após sua entrada, com ele marcando gols de pênalti nas duas partidas. No empate com o Santos, De Pena foi escalado desde o início por Mano aberto pela esquerda. Ao todo, o camisa 14 soma dois gols e três assistências nesta sequência invicta, tendo participado de todas as partidas.
PONTOS NEGATIVOS
Bola aérea defensiva
Ao mesmo tempo em que o desempenho defensivo melhorou desde a chegada de Mano Menezes, o treinador ainda precisa ajustar a bola aérea, que voltou a ser um problema diante do Santos. Embora o gol de Lucas Braga tenha sido pelo chão, o time paulista teve um gol anulado em jogada pelo alto e levou vantagens em outros lances ao longo da partida. Dos oito gols sofridos na era Mano, quatro foram em jogadas pelo alto.
Ex-zagueiro do Inter, Mauro Galvão aponta a deficiência como um problema coletivo do time.
— O Inter mudou bastante. O Rodrigo Moledo voltou e logo sentiu outra lesão, o que é normal pelo tempo parado. A defesa tem novos jogadores, como o Vitão, o Bruno Méndez não pode atuar em todas as partidas. Para a defesa, trocas não são boas porque você perde a mecânica. O time tem sofrido não apenas na bola parada, mas também com jogo andando. Isso é um problema de todo o funcionamento defensivo. Os laterais são importantes nesse sentido. Eles precisam fechar os cruzamentos e quando estiverem na área também ajudarem na marcação. Daqui a pouco um volante entrar junto com os zagueiros, isso que o Dourado fazia antes. O Gabriel não é um jogador tão alto, mas pode entrar e pegar um jogador que venha de trás. Quando não pega a bola, vai no corpo. Encostar no cara. O adversário não pode cabecear completamente livre — aponta.
Centroavante
Um ponto que ainda precisa ser resolvido no Inter é o do comando do ataque. Wesley Moraes, Matheus Cadorini, Alemão e David já foram titulares como centroavante com Mano Menezes, que tentou até mesmo Taison como um falso nove no segundo tempo do empate com o Atlético-GO. No entanto, nenhuma das alternativas deu o resultado esperado até o momento.
O Inter está no mercado em busca de um centroavante, mas esse jogador só poderá atuar quando a janela de transferências abrir, em 18 de julho. Ou seja, Mano terá de se virar com o atual elenco até lá, o que inclui o confronto com o Colo-Colo, pelas oitavas de final da Sul-Americana.
A dificuldade para encontrar um homem gol aparece nos números. Nenhum jogador do elenco fez mais de três gols nesta temporada. São seis atletas que balançaram as redes em três oportunidades e dividem a artilharia do Inter no ano: Taison, Alemão, Edenilson, Wanderson, Dourado e Mauricio. O jogador mais escalado como centroavante por Mano até o momento foi David, que iniciou seis partidas e não marcou nenhum gol desde a chegada do treinador. O camisa 17 balançou as redes pela última vez em 3 março, no primeiro Gre-Nal do Gauchão, vencido pelo Inter por 1 a 0.
Repertório
Não apenas a função de De Pena como volante teve um bom funcionamento na arrancada de Mano Menezes. O posicionamento de Edenilson partindo da direita para dentro, liberando o corredor para Bustos, foi outra opção que deu boa resposta.
Os escapes com Wanderson pelo setor esquerdo também. No entanto, os últimos jogos mostraram a necessidade encontrar alternativas quando a ideia principal não funcionar. Mano tentou um time com dois volantes mais marcadores diante do Bragantino e apostou em Edenilson centralizado diante do Santos, com De Pena pela ponta esquerda. A ausência de Edenilson por suspensão abre a necessidade de nova alternativa contra o Flamengo. Para o apresentador e comentarista da Rádio Gaúcha Rafael Colling, Mano deve aproveitar a ausência do camisa 8 para escalar o Inter com dois pontas agressivos pelos lados do campo.
— Eu manteria o Pedro Henrique com a volta do Wanderson. Acredito que o Mano vai apostar em Dourado e Gabriel pela qualidade do Flamengo, mas a melhor alternativa seria De Pena novamente como volante, Pedro Henrique por um lado, Wanderson pelo outro e o Alan Patrick centralizado atrás do Alemão. Vejo que De Pena e Alan Patrick são diferenciados para se aproximarem pelo meio com o Inter tendo duas opções de velocidade pelos lados. Até para aproveitar o momento de confiança e partir para cima de um Flamengo em crise. É um Inter que eu defendo no momento — projeta.
Como dito por Colling, o Flamengo vem a Porto Alegre passando por um momento ruim. Esse surge como mais um desafio para o Inter, que tem atormentado a torcida nos últimos anos com a fama de se complicar contra adversários em crise. Mas vindo de 14 partidas invicto, o time de Mano Menezes tem a oportunidade de mostrar que o momento é para o torcedor confiar no elenco colorado.