A história de D'Alessandro no Inter começou em um Gre-Nal. E como está cada vez mais próximo da aposentadoria, o argentino mais gaúcho a vestir a camisa do Inter sabe que o clássico deste sábado, no Beira-Rio, pode ser o último. Quer dizer, só será mesmo a despedida se ocorrer algo extraordinário. O normal é ter mais um, na Arena, na quarta-feira. É que ele, mais do que qualquer um, sabe que, por mais que rime, "normal" não é um adjetivo que acompanhe Gre-Nal. Seja como for, é o último encontro do dono da 10 com seu maior antagonista diante de seus admiradores.
Ele não será titular, como não tem sido nos últimos jogos. Desde 2019, tem começado as partidas no banco. Mas nada de silêncio. Basta olhar para a casamata que verá uma figura agitada, entre gritos e gestos. É maestro de companheiros e torcedores.
— Estou vivendo um momento único. São as últimas semanas, é o último mês. Meu pensamento não mudou, quando acabar meu contrato, dia 30 de abril, acaba a carreira. Quero que o clube melhore, que os resultados apareçam, mesmo eu jogando ou não. Minha relação é muito diferente há anos anteriores, quando tínhamos obrigação de assumir o protagonismo. São outros jogadores que têm que assumir e puxar o grupo — comentou ao SporTV no dia seguinte ao 40º clássico, válido pela primeira fase do Gauchão.
Neste dia, saiu de campo após a vitória por 1 a 0 abraçado por Taison, lágrimas nos olhos. Viveu um dos momentos mais emocionantes dessa espécie de "turnê de despedida". Vai para mais dois. Mas o Gre-Nal não é nada de festa.
Desde criança, sabe o que é um clássico. Primeiro, com River e Boca. Depois, com o Gre-Nal. Recebeu essa responsabilidade da geração de Fernandão e Iarley, e herdou a faixa de capitão de Bolívar. Desde então não a soltou mais. O zagueiro, que ganhou o apelido de General, tamanha sua liderança, virou amigo do camisa 10 com a convivência. Mantém contatos frequentes, conversam sobre os mais variados assuntos. Inclusive Copa do Mundo. Ou melhor, Gre-Nal.
— Para D'Ale, um Gre-Nal é como a Copa do Mundo. Imagina agora, que vão ser os últimos. Tenho certeza de que ele vai fazer de tudo para encerrar a carreira de uma forma ainda mais brilhante do que já tem sido — aponta Bolívar.
Tem outro episódio que demonstra a fixação de D'Alessandro no clássico. No Gauchão Feminino de 2017, o Inter havia perdido o jogo de ida por 2 a 0 para o Grêmio. Precisava ganhar no Beira-Rio para levar aos pênaltis. Saiu perdendo. E buscou o 3 a 1 que necessitava. Nas penalidades, deu Inter, 2 a 1. As Gurias Coloradas eram campeãs.
— O vídeo foi muito importante. Porque além de ídolo e referência do Inter, o modo como ele falou, o brilho no olhar nos fazia ver o D'Alessandro. A garra, a determinação e a paixão que ele tem pelo Inter e pelo Gre-Nal. Foi uma força a mais. Chego a me arrepiar de lembrar. Ele conseguiu transmitir isso para nós e nós conseguimos transmitir para o campo — afirma Mylena Pedroso, autora de um dos gols daquela decisão.
Desde que chegou ao clube, em 2008, D'Alessandro forjou sua história em clássicos. Por mais que tenha conquistado 13 títulos pelo Inter, inclusive Libertadores, Sul-Americana, Recopa, é quase impossível não relacioná-lo ao Gre-Nal. Foram 40 confrontos com o Grêmio. Por Libertadores, Sul-Americana, Brasileirão e Gauchão. Ganhou. Perdeu. Goleou. Foi goleado. Provocou. Caiu em provocação. Riu e chorou.
Estreou no clássico da Sul-Americana. Fez seu primeiro gol no 4 a 1 do Brasileirão do mesmo ano, no Beira-Rio. Marcou também em Erechim. E em Caxias do Sul. E no Olímpico. Só falta na Arena. Quarta-feira poderá ter sua chance. O normal é que tenha essa despedida também da casa de seu rival. Mas vai saber o que é normal em um Gre-Nal.