Com o retorno de Paolo Guerrero, recuperado da ruptura de ligamento do joelho que o tirou de praticamente todo o Brasileirão, aumentaram as opções ofensivas do Inter. Só para a função de centroavante, o técnico Miguel Ángel Ramírez tem outros três nomes de peso, além do peruano: Yuri Alberto, Thiago Galhardo e Abel Hernández. Se mantiver o desenho do time com um atacante centralizado, o treinador poderá escolher entre adaptar os demais ou tê-los como alternativa no banco de reservas.
Há um ponto a ser levado em conta. Calcula-se que Ramírez usará um centroavante porque desde que chegou o time foi escalado assim, mesmo quando o técnico era Fábio Matias e também porque era seu sistema preferido no Independiente del Valle. Mas há uma explicação.
— Ele nunca usou dois centroavantes. Ou melhor, quase nunca. Mas é porque o Del Valle não tinha atacantes dessa classe. Só tinha um (referindo-se a Gabriel Torres, panamenho, goleador da equipe, hoje na Universidad de Chile). O resto eram jovens — destaca o repórter Theo Posso, da DirecTV do Equador.
A fartura de jogadores se dá por causa da montagem do grupo do ano passado. Quando ainda era comandado por Eduardo Coudet, o time priorizava ter jogadores da faixa central. Em uma observação mais rasa: Coudet gostava de ter dois centroavantes.
Depois, quando Abel Braga assumiu, passou a usar apenas um atacante entre os zagueiros e optou por pontas de velocidade. Apresentou ao time Caio Vidal, efetivado do lado direito.
O sistema de Ramírez é mais parecido com o do último treinador, ao menos na esquematização. A equipe tem um centroavante e dois ponteiros. No modelo que prega, porém, não há a mesma necessidade da velocidade que pedia Abel. Como, em tese, seu time marca mais em cima e não depende tanto do contra-ataque, é possível adaptar jogadores em outras funções. Claro que a velocidade de Caio Vidal é importante, mas pode ser alternada com a explosão de Yuri ou com a força de Patrick, por exemplo. Com o tempo, haverá mais certezas.
— Estou muito feliz. Voltar a jogar depois de tanto tempo é uma situação diferente. Senti como se tudo fosse novo. Agora só quero dar sequência. Vou tentar voltar o mais rápido possível ao meu nível. Sei que vai ser difícil, pois foi uma lesão em que fiquei muito tempo parado. É um período que te deixa com muitos medos, mas vou conseguir melhorar com o dia a dia — disse Guerrero aos veículos oficiais do Inter.
A seguir, veja algumas das opções de Ramírez para compor o ataque ao lado do peruano.
Yuri aberto?
Yuri Alberto foi um negócio de ocasião para o Inter. Na metade de 2020, o promissor atacante não teve seu vínculo renovado no Santos, clube que tradicionalmente lança atletas muito jovens. Ele chamou atenção colorada que, com ajuda de um investidor, ofereceu um contrato de cinco anos para o jogador.
Depois de chegar ao Beira-Rio e sofrer uma lesão, viveu momentos excelentes. Tornou-se titular graças aos gols e às participações ofensivas, seja em bolas disputadas no ar ou em tabelas. Demonstrou força, velocidade e tranquilidade para fazer gols, como contra São Paulo e Palmeiras.
Criado como centroavante, porém, sabe executar outras funções do ataque. Foi extrema (praticamente um meia aberto) na seleção de base e no Santos.
"O desenvolvimento do atacante ainda pede prudência, mas a sequência recente apresenta atributos para se animar – especialmente numa posição que exige tempo para aprimorar certos cacoetes e exigências. Yuri mostra desde já uma série de virtudes e comprova essa qualidade com gols", escreveu a Revista Trivela, especializada em futebol.
Como tem o cacoete do centroavante de buscar o gol como primeira opção, é a alternativa mais viável para jogar ao lado de Guerrero e não perder lugar na equipe.
Galhardo no meio?
Thiago Galhardo, meia de origem, viu sua carreira mudar em 2020, aos 31 anos, graças a Eduardo Coudet. Ele foi o principal beneficiado com a presença do técnico em Porto Alegre. O argentino viu no camisa 17 potencial para ser um jogador ofensivo, não necessariamente criador ou ponta de lança, como chegou a ser no Ceará. Pelo contrário, adiantou-o para ser dupla de ataque, primeiro com Guerrero, depois com Abel Hernández.
Foi assim que conseguiu ser o goleador colorado na temporada, 23 gols, 17 deles no Brasileirão, competição na qual foi vice-artilheiro.
Ao mesmo tempo que se adaptou bem ao ataque tendo uma dupla, sofreu quando jogou sozinho. Por não ser um atacante físico, de ir para o confronto com os zagueiros, teve pouca vantagem no estilo de Abel Braga, que priorizava jogadas mais longas. Também não tinha velocidade suficiente para ser um extrema.
Assim, Galhardo pode ser aproveitado como meia. Se não tem a força dos demais atacantes, compensa essa "carência" física com inteligência acima da média e verticalidade. Entende rapidamente o jogo, é oportunista e já fez essa função em outros times, como Vasco e até mesmo no Ceará.
Abel fica ou vai?
Abel Hernández chegou ao Inter como emergência. Ele foi buscado logo após a lesão de Guerrero. Estava sem clube, e por isso pôde ser contratado fora da janela de transferências, com aval de Eduardo Coudet. Apesar da situação inusitada, adaptou-se ao clube e aos companheiros, conquistou espaço e foi titular especialmente com o argentino.
Depois, com a chegada de Abel Braga, perdeu espaço. Ainda assim, foi decisivo na vitória de virada em cima do Grêmio, marcando o gol de empate nos minutos finais.
Apesar disso, está no fim da fila e terá sua situação reavaliada daqui a três meses, quando se encerra seu contrato. Em razão de seu porte físico, é o menos adaptável dos três. Outro dificultador é ter um salário considerado alto para um reserva.
A curiosidade é que Abel Hernández era atacante de lado no início da carreira. Foi centralizado com o passar do tempo, mudou sua característica: faz pivô, disputa bolas aéreas, joga entre os zagueiros.
Se houver acordo para um reajuste salarial, não está descartada sua permanência. Mas com o desejo dos dirigentes de reduzir o custo do futebol, poderá sair ao final do contrato, mesmo que seja no meio da temporada.
— A gente não tem uma decisão sobre os contratos que se encerram no meio do ano. Vamos trabalhar internamente — despistou o executivo Paulo Bracks.