O dia em que o mundo foi pintado de vermelho esteve na tela da RBS TV e nas ondas da Rádio Gaúcha na tarde deste domingo (7). A retransmissão da vitória do Inter sobre o Barcelona, por 1 a 0, no Estádio Internacional de Yokohama, no Japão, mexeu com os ânimos da torcida colorada.
Por todo o Rio Grande do Sul, muitas famílias sentaram-se à frente da televisão, ligaram o radinho e emocionaram-se com o gol de Gabiru. Antes disso, porém, puderam relembrar como o Inter enfrentou de igual para igual o campeão europeu daquele ano, que tinha em campo o melhor jogador do mundo naquele momento: Ronaldinho.
"Pra quem disse que o Inter só se defendeu... Dez minutos e o Inter iguala perfeitamente a partida. O Barcelona entende que agora tem um time do outro lado", escreveu o colorado Carlos Paiva no Twitter.
E era exatamente isso o que se via em campo. Um Inter que soube neutralizar as principais jogadas do Barcelona. Enquanto Ronaldinho e Deco eram marcados de perto pelos defensores colorados, o ataque também tinha de pressionar a saída de bola dos espanhóis.
"Fernandão o tempo todo em cima do Thiago Motta. Isso foi chave para o Inter trancar a saída do Barcelona", destacou o repórter Cristiano Munari, de GaúchaZH.
Essa postura foi revelada pelos jogadores colorados naquela decisão. Durante a semana, a comissão técnica havia detectado que a maioria das transições ofensivas da equipe iniciavam no volante ítalo-brasileiro. Por isso, o camisa 9 sacrificou-se para marcá-lo.
Assim, o Inter evitava que o Barcelona fosse muito superior. Claro, não era fácil enfrentar um time do calibre dos catalães. Mesmo sem o centroavante titular Samuel Eto'o e a jovem promessa Lionel Messi, lesionados, a equipe comandada por Frank Rijkaard tinha nomes como Puyol, Iniesta e Giuly, além dos craques Ronaldinho e Deco. Por isso, assustou a meta defendida por Clemer, mas sem sufocar.
— Esse é o jogo da vida do Inter, mas não é o jogo da vida do Ronaldinho, do Deco. Isso pode favorecer o Inter — dizia Paulo Roberto Falcão, ídolo colorado e comentarista da Rede Globo na transmissão da partida.
Na volta do intervalo, uma mudança de cada lado: entraram Vargas no Inter e Belletti no Barcelona. Mas a substituição que importaria mesmo no jogo ocorreu apenas aos 31 minutos do segundo tempo. Com dores, o capitão Fernandão dava lugar e desejava sorte ao criticado Adriano Gabiru. O meia que era vaiado por parte da torcida colorada estava prestes a fazer história.
Poucos segundos antes de o cronômetro marcar 36min, Índio dá um chutão para frente. Sem Fernandão, Iarley havia assumido o protagonismo técnico do time colorado. Foi ele, com a camisa 10 às costas, que colocou a bola no chão após dois desvios de cabeça no meio do caminho. Conseguiu um corte em Puyol e levantou a cabeça. Tinha duas opções: Gabiru ou Luiz Adriano. A escolha acertada do passe mudou a história do Inter. E Gabiru fez o gol do título.
— O Gabiru estava um pouco mais à frente e mais centralizado. Achei que ele estava em melhor condição do que o Luiz Adriano. Percebi que, se a bola passasse, como passou, ele sairia na cara do gol — lembrou Iarley durante a retransmissão do jogo pela RBS TV.
Depois disso, Clemer ainda faria uma defesa em chute de Deco aos 37min33seg que foi eleita pelos leitores de GaúchaZH como a mais importante da história do clube. O torcedor que acompanhou a retransmissão do jogo certamente assustou-se, mais uma vez, com o lance.
— Foi um momento ímpar para todos os colorados — disse Clemer à RBS TV.
Mas nada poderia mudar o que estava escrito: o Inter era campeão do mundo. O planeta estava sendo pintado de vermelho por um herói improvável. Se naquele 17 de dezembro de 2006 os colorados se emocionaram com a conquista mais importante da históia do clube, neste 7 de julho gritaram e comemoraram, quase 14 anos depois, com a retransmissão daquele duelo inesquecível com o Barcelona.
Ficha técnica
Mundial de Clubes —17/12/2006
INTER 1
Clemer; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho, Wellington Monteiro, Alex (Vargas, int.), Fernandão (Adriano Gabiru, 31'/2º) e Iarley; Alexandre Pato (Luiz Adriano, 16'/2º). Técnico: Abel Braga.
BARCELONA
Victor Valdés; Zambrotta (Beletti, int.), Rafa Marquez, Puyol e Van Bronckhorst; Thiago Motta (Xavi, 14'/2º), Iniesta, Deco e Giuly; Gudjohnsen (Ezquerro, 43'/2º) e Ronaldinho. Técnico: Frank Rijkaard.
GOLS: Adriano Gabiru (I), aos 36 minutos do segundo tempo.
CARTÕES AMARELOS: Índio, Adriano Gabiru e Iarley (I); Thiago Motta (B)
ARBITRAGEM: Carlos Batres (Fifa-GUA), auxiliado por Carlos Patrana (Fifa-HON) e Leonel Leal (Fifa-CRC)
PÚBLICO: 67.128 pessoas
LOCAL: Estádio Internacional de Yokohama, no Japão