Danilo Fernandes é da velha guarda do Inter. Ao lado de Marcelo Lomba, Rodrigo Dourado e Nico López, esteve na campanha de 2016, passou pelo purgatório da Série B e participou da reconstrução do clube na última temporada. Agora, na condição de um dos líderes do vestiário, sonha alto e projeta um futuro luminoso para a equipe de Odair Hellmann.
Nessa entrevista a GaúchaZH, o camisa 1 do Inter fala da retomada da confiança do grupo, do trabalho do treinador, do choque contra a coxa de Rodrigo Moledo, que o tirou da partida contra o Santos, na Vila Belmiro, da retomada do Brasileirão nessa quinta-feira, contra o Atlético-PR, e sobre as lições que a Copa do Mundo deixou.
Confira os principais trechos da conversa.
De que valeu a preparação em Atibaia e como a equipe voltará ao Campeonato Brasileiro?
Conseguimos trabalhar forte, nos preparar bem, descansar bem. Tiramos um bom proveito de Atibaia. Ficamos mais próximos, conversamos, trabalhamos ao máximo a fim de corrigir detalhes. Esperamos um retorno muito forte a partir de agora, retomando o padrão de jogo o mais rápido possível.
O Inter deu uma arrancada a partir do Gre-Nal e se colocou na quarta colocação, um ponto atrás do vice-líder. É possível voltar em alta, assim como parou no Brasileirão?
Acredito que sim. Corrigimos o que precisava ser corrigido. Temos condição de retomar daquele ponto. Queremos alcançar o máximo que pudermos. Vamos em busca de grandes coisas nesse campeonato. O nosso grupo é muito qualificado para isso. O Brasileirão é muito disputado, e quem tiver um pouco mais de capacidade de buscar a vitória, tem grandes chances de chegar lá em cima da tabela. Queremos retomar o mais rápido possível o nosso ritmo de jogo. Temos qualidade e potencial para isso.
É vantagem ter o foco total no Brasileirão, enquanto a maioria dos demais concorrentes se divide em duas, três competições?
Não sei se é vantagem, pois todos os elencos são muito qualificados. Nós também teremos desfalques. Não é por disputar apenas uma competição que não teremos desfalques. Teremos de rodar o grupo, o time. O nosso foco é em nós. Vamos buscar uma final a cada jogo.
A vaga no G-4 e até mesmo tentar a conquista do Brasileirão são objetivos viáveis?
Não podemos colocar limites para sonhar. Confiamos muito no nosso grupo de trabalho. Sabemos o quanto é difícil esse campeonato, mas que não existe time imbatível. Os outros também têm limitações. Temos de sonhar alto, estamos no G-4, e não foi fácil chegar. Nas nossas primeiras 12 rodadas, enfrentamos grandes times. E provamos que temos muita força. Vamos seguir nessa batida. Faltando 10 rodadas, dá para ter uma ideia de onde vamos chegar.
Quem vê de fora percebe um Inter mais seguro e confiante do que aquele que começou o Brasileirão.
Você precisa de tempo para trabalhar. Futebol não te dá resultado imediatamente. O professor (Odair Hellmann) está fazendo um belo trabalho e estamos colhendo estes frutos. Fomos eliminados precocemente de duas competições (Gauchão e Copa do Brasil). Mas isso não quer dizer que o trabalho estava malfeito. Os resultados de agora mostram a força do trabalho e a força do grupo. Estamos no caminho certo.
No que o Inter evoluiu, do começo do ano até agora?
Futebol é confiança. Iniciamos o ano com uma grande pressão externa, o que se refletiu dentro de campo. Com cinco minutos de jogo, você erra o passe, e a cobrança externa, que já é grande, se reflete na confiança do jogador e na confiança do próprio grupo. Aquele medo de errar. Mudamos isso. Começamos a ter mais paciência e não nos importar muito com o que diziam. E nosso estilo de jogar, nosso futebol ressurgiu. A confiança voltou. A gente sabe que este é o caminho: ter confiança para dar um passe, para fazer uma finalização. Isto tudo faz a diferença. Foi assim que conseguimos vitórias importantes.
Que ensinamentos ficaram da Série B, para o atleta e para o homem?
A gente não quer mais nem falar na Série B. Foi difícil, foi complicado, mas serviu de lição. No futebol, não há mais time bobo, não há jogador bobo. Cada vez mais são 11 contra 11. E o bicho pega. É cada um querendo tirar o prato de comida do outro. Tem de dar a vida a cada jogo porque do outro lado tem um trabalhador querendo o seu lugar. Não dá para relaxar. Na Série B tinha um gramado, uma estrutura menor, por vezes, e você dá uma relaxada. Mas sabemos que cada jogo é uma final. Foi uma lição.
Na vitória sobre o Santos, você teve um choque feio com o Rodrigo Moledo e precisou deixar o jogo. Lembra de algo desse episódio?
Foi uma pancada forte. Lembro de sair do gol, dar um soco na bola e aí, chão. Estava consciente, mas estava com medo de ter sido algo mais grave. Tinha medo de colocar a mão no rosto e achar sangue ali. Ou sentir o rosto fundo. Tive a sorte de ter acertado a coxa do Moledo. Mas foi uma pancada violenta. Durante o jogo, estava meio grogue. Sabia que teria de sair, mas faltava pouco e precisava dar tempo para o Daniel aquecer. Sabia que ia ter de sair no intervalo. Não queria, mas sabia que tinha de obedecer os médicos. Liguei o telefone e havia várias mensagens da minha esposa e do meu pai. Todos preocupados. Fiquei preocupado com eles, precisava dizer que estava bem. Depois, nos segundo tempo, o doutor me perguntou: "Quem fez o nosso segundo gol?" Parei pra pensar, demorei a responder, até que o Daniel Pavan (preparador de goleiros) e o Caíco (auxiliar técnico) assopraram que tinha sido o Cuesta.
E a retomada do Brasileirão, diante do Atlético-PR?
A retomada será bem difícil. Jogar na Arena da Baixada é complicado. Sei o quanto é difícil jogar lá. Mas vamos tentar aproveitar o momento, a confiança do nosso time.
Que lições você pôde tirar desta Copa do Mundo?
Achei bem surpreendente. Quem diria que a Alemanha iria perder para a Coreia do Sul? Mas o futebol está competitivo, está complicado. Antigamente, já se sabia que um time mais forte iria vencer. Mas que sirva de lição para todos aprenderem o quanto é difícil. O que importa é o que acontece em campo.