
Em janeiro, Arthur temia ficar de fora da pré-temporada do Grêmio. Quatro meses depois, o goiano de 20 anos caiu nas graças da torcida após atuações destacadas contra Botafogo e Fluminense. Neste último jogo, marcou o gol que iniciou a virada na Arena. Na última quarta-feira, saiu aplaudido do gramado e confirmou que tem capacidade necessária para ser um dos volantes da equipe titular.
Quem o vê ocupar espaços em campo com a personalidade de um veterano não desconfia que Arthur enfrentou um adversário cruel nos últimos meses: a própria desconfiança. Apesar da promoção aos profissionais no início de 2015, a falta de oportunidades no grupo principal preocupou. Muitas ligações para o pai, Ailton, em Goiânia ajudaram a acalmá-lo. Em Porto Alegre, o amigo e assessor Fernando Martinez, o lembrava do histórico de jovens que demoravam a conquistar seu espaço.
– Foi um pouco agoniante, achei que iria jogar. Tive uma estreia, uma lesão e aí demorou bastante para ter outra oportunidade. Desconfiava de mim, pensava o que estava fazendo de errado – confessa o jogador.
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A preocupação dominava os dias de Arthur. A escassez de chances ia na direção contrária do prestígio que, àquela altura, já possuía.
– Ficava pensando: 'Será que precisava treinar mais ou será que não consigo estar em um time grande". Você fica tentando achar defeito onde não tem' – conta o volante.
Com Felipão, ainda 2015, teve uma única oportunidade. Foi titular por 45 minutos contra o Aimoré, mas saiu no intervalo e teve o azar de sofrer uma lesão no joelho logo nos dias seguintes. Passou um mês em recuperação e perdeu espaço. Roger Machado assumiu a equipe, mas seguiu apostando em outras opções para a função. Só com Renato no comando, dois anos depois da promoção, é que as chances realmente apareceram. Apesar da confiança de Portaluppi, as advertências de Roger contribuíram para seu crescimento.
– Roger conversava bastante, me elogiava e passava confiança. Mas sempre pedia para melhorar um pouco mais. Evoluir a parte tática, a parte sem bola e na movimentação. Talvez não estivesse pronto mesmo nessa época – admite.
A frustração veio com a rotina ingrata. Acostumado a ser titular em todas as equipes de base, sempre como um dos destaques, precisou esperar sua vez enquanto os ex-companheiros Walace, Jailson, Araújo (jogou o Gauchão pelo Ypiranga) e Moisés (emprestado a Chapecoense) e Kaio recebiam oportunidades.
Aconselhado pelo pai e pelo assessor, manteve o foco e passou a ganhar espaço com Renato Portaluppi. Com a decisão do técnico de apostar em um time reserva para enfrentar o Flamengo pela Primeira Liga, Arthur foi titular. Apesar da derrota, saiu satisfeito pela atuação. Alguns minutos em campo no Gauchão foram o prêmio pela dedicação nos treinos.
– Renato sempre acompanha bem de perto, seja nos trabalhos físicos na academia ou treino técnico no campo. Antes mesmo de jogar, ele já tinha me elogiado e dito que estava treinando bem. Ganhei confiança e consegui me soltar mais dentro de campo – diz.
Pela qualidade técnica, Renato queria aproveitá-lo como meia. Mas foi em sua posição de origem que mais teve destaque. A grande oportunidade apareceu na estreia do Brasileirão deste ano. Foi titular contra o Botafogo, teve boa atuação ao lado de Michel, e ganhou a chance de permanecer na equipe. Contra o Fluminense, na última quarta-feira, marcou um gol e foi um destaques da virada que deixou o clube em boa situação para avançar às quartas de final da Copa do Brasil.
– O pior é duvidar de si mesmo. Começa a pensar se vou ter sucesso ou não, se conseguiria jogar apenas na base. Será que realmente merecia estar em um time grande como o Grêmio? Passa um turbilhão. Quando um jogador passa a duvidar de si, algo está errado. Ou falta confiança ou não é uma fase boa. O que mais te agrega dentro de campo é a confiança – pondera.
As boas atuações, garante Arthur, não mudaram sua rotina. A única mudança é o aumento do assédio dos torcedores nos seus passeios pelos shoppings e restaurantes da Capital. Antes, poucos o reconheciam como jogador do Grêmio. Agora, os primeiros pedidos de selfies e autógrafos são encarados com naturalidade. Mas o alerta dado por seu pai segue firme e forte na cabeça.
– Nessa boa fase vem um pouco de mídia, as pessoas começam a falar bem, e você começa a achar que já é. Mas não é ainda, fiz dois jogos bons. Calma lá, preciso provar ainda mais. Muitos se perdem por se deslumbrarem com a fama e os seguidores que ganham nas redes sociais. É bom para a autoestima. Mas muita confiança pode não ser bom, tento colocar os pezinhos no chão – afirma.
É o que os próximos jogos, a começar pelo deste domingo, contra o Atlético-PR, irão mostrar.
*ZHESPORTES