
Os indícios já haviam sido dados na segunda-feira (27), com as manifestações dos ministérios da Saúde e da Economia. Mais tarde, o próprio presidente confirmou. E nessa terça, a revelação do teor da conversa de Jair Bolsonaro com Renato Portaluppi, cujos detalhes foram trazidos à tona pelo colunista da GaúchaZH Eduardo Gabardo, deixou ainda mais clara a posição do governo de voltar com o futebol no país. Mesmo em semanas consideradas decisivas para o combate ao novo coronavírus, o retorno do esporte entra na pauta como uma das possíveis atividades a serem retomadas.
Uma reunião entre CBF e federações estaduais serviu para abastecer as ações de segurança que deverão ser seguidas por todos os envolvidos na realização de partidas. A entidade que rege o futebol brasileiro sugeriu que os estaduais sejam retomados a partir de 17 de maio, mas deixou claro que não exigirá bola rolando nesta data.
Para isso, porém, é preciso tomar uma série de precauções. Uma delas já é ponto passivo: quando o futebol voltar, será sem público. Outras medidas deverão ser adotadas, como a redução das delegações, a permanência menor no vestiário, higienização constante dos ambientes, testes para os envolvidos, entre outras.
Tudo isso só será possível, entretanto, se houver o aval das autoridades sanitárias. Na estratégia brasileira para mitigar a doença, ficou estabelecido que os Estados têm a palavra final. No caso gaúcho, o governador Eduardo Leite transferiu para as prefeituras as decisões do que pode ou não funcionar durante a quarentena. No caso específico de Porto Alegre, o decreto em vigor proíbe a abertura dos clubes. A determinação, porém, só tem validade até quinta-feira (30). No dia seguinte está previsto o fim das férias para os jogadores da dupla Gre-Nal. Ainda não há informações oficiais sobre a flexibilização da norma -_ o que permitiria aos jogadores e às comissões técnicas voltar a trabalhar nos CTs.
Enquanto isso, no resto do mundo, alguns países com resultados considerados positivos na guerra contra o vírus ensaiam a volta ao futebol. A Alemanha mantém o plano de reiniciar os jogos a partir de 9 de maio (apesar de prever também o retorno na semana seguinte, a de 16 do próximo mês). A Coreia do Sul informou que o campeonato nacional será retomado no dia 8. Por outro lado, a França anunciou que os torneios locais estão dados como finalizados - mas os times ainda poderão disputar a Liga dos Campeões a partir de agosto. Itália e Espanha querem jogar em junho. Acima deles, a Uefa pede definição de suas afiliadas até 25 de maio, para que no dia 27 apresente uma estratégia de retomada das competições internacionais e jogos de seleção.
Na América do Sul, a Argentina considerou encerrada a temporada 19/20 e só pretende voltar a jogar se houver garantia de segurança. O plano é disputar algum torneio-tampão para fechar o ano, recomeçando em janeiro. Outros países, como o Paraguai, começam a criar protocolos para definir um cronograma de retorno. A Conmebol, no momento, descarta cancelar as competições que estão em andamento, e garante ter planos para retomar tanto Libertadores quanto Sul-Americana em qualquer mês que seja possível.
Nesse cenário de incertezas, criamos um quadro de perguntas e respostas (quando possível) sobre o futuro do futebol:
Quem autoriza os clubes a voltar a treinar?
No Rio Grande do Sul, as secretarias municipais de saúde. O governador Eduardo Leite repassou aos municípios a responsabilidade de flexibilizar quarentenas.
Como é o protocolo de segurança para o futebol?
O documento ainda não foi oficializado, mas alguns pontos estarão contemplados. O primeiro será testar o maior número possível de atletas e comissão técnica - se não for possível fazer com todos. Além disso, o retorno aos treinos será gradual, com atividades individuais, depois em grupo até que haja segurança para práticas coletivas. Os ambientes deverão ser higienizados constantemente, e o uso do vestiário, reduzido. Nas viagens, haverá a sugestão de que se diminua a delegação ou de que se aumente os veículos para o transporte.
Quanto custará essa adaptação e quem pagará?
Não é possível precisar o valor total, mas dá para fazer projeções. Só de testes, o orçamento mais barato encontrado pela FGF foi de 30 dólares por unidade, comprando 10 mil kits. Na conversão, o valor supera R$ 1,5 milhão. Há um debate sobre quem deve arcar com esses custos. As federações já informaram que não têm condições. Clubes pedem que CBF seja a responsável.
Qual é o prazo estipulado para o retorno?
A CBF sugeriu 17 de maio, mas não exigirá bola rolando nesta data. Os clubes trabalham com a ideia de retornar aos treinos em maio. Após um período de intertemporada, disputar o que resta dos campeonatos estaduais. O Brasileirão poderia ser iniciado em julho.
Quantas datas são necessárias para finalizar o Gauchão?
No Gauchão, faltam três jogos da fase de grupos do segundo turno. Depois, um duelo de semifinal e outro de final. Se o Caxias ganhar, não será necessário disputar a decisão. Caso outro time seja o vencedor, haverá mais duas partidas para apontar o campeão gaúcho.
Haverá mudanças no Brasileirão?
Mesmo com a redução do calendário, os clubes fazem questão de disputar 38 rodadas. A fórmula é a única que garante o pagamento de todas as cotas de TV, já vendidas. Mesmo que, para isso, seja necessário avançar 2021 adentro para finalizá-lo.
Como está ocorrendo o retorno nos demais países?
A Alemanha, cuja primeira morte por covid-19 foi registrada em 9 de março, planeja voltar ao futebol em 9 ou 16 de maio. A Coreia do Sul agendou partidas para o dia 8, dois meses e meio depois do óbito de número 1 (20 de fevereiro). A Espanha, um dos países mais afetados, liberou o retorno dos jogadores para treinos individuais a partir de segunda-feira. A Itália permitiu atividades em conjunto do dia 18 de maio em diante.