O que está em jogo para o Inter no Gre-Nal 415, a partir das 21h45min dessa quarta-feira, no Beira-Rio? A improvável vaga às semifinais do Gauchão, depois de ser goleado por 3 a 0 na Arena? Um jogo para ficar na história? A manutenção do trabalho do emergente Odair Hellmann? O orgulho de uma torcida? A retomada da confiança? O fim de um discurso conformista, que vem aceitando o papel de coadjuvante perante o rival histórico?
Debelar o início da primeira crise da temporada - e às vésperas de uma decisão pela Copa do Brasil mais a estreia uma vez mais na Série A? Tudo isso ao mesmo tempo. Para seguir sonhando com o título, o Inter precisa vencer o Grêmio por 4 a 0 ou por 3 a 0 e vencer a decisão nos pênaltis.
E para o Grêmio? Vale a confirmação do grande momento que o clube vive. Depois de abrir uma vantagem de três gols no clássico de ida, na Arena, tudo o que o técnico Renato Portaluppi não quer é que seu vestiário seja contaminado pela euforia da torcida e que sua equipe dê chances para uma "remontada" histórica ao rival.
Depois de ganhar títulos de expressão como a Copa do Brasil, a Libertadores e a Recopa nas últimas temporadas, a reconquista do Gauchão é o que falta. Se eliminar o Inter hoje, o Grêmio ficará a quatro jogos de retomar a hegemonia do futebol do Rio Grande do Sul, uma taça que ainda não foi levantada pelo clube na Era Arena - o último título do Estadual foi em 2010, ainda no saudoso Estádio Olímpico.
O clássico desta noite também vale pela honra. Se o Inter perder o terceiro Gre-Nal seguido em apenas 11 dias, no futuro ninguém se recordará a escalação do time de 2018. Com o elenco atual, o Inter não parece ter grandes expectativas para a sequência da temporada. O próprio discurso de vestiário aponta para isto.
Caso não faça dessa noite um dia épico, que o leve adiante no Estadual, eliminando o atual campeão da Libertadores, a tendência é encerrar a temporada sem taça alguma. E vai longe o último título colorado de relevância continental: a Recopa Sul-Americana de 2011. De lá para cá, o Inter teve apenas conquistas regionais. No ano passado, o título solitário ficou por conta da Recopa Gaúcha, ao vencer o Ypiranga, nos pênaltis. Pouco. A Série B, cuja conquista deveria ser uma obviedade, se transformou em um frustrante vice-campeonato.
Ainda que a direção garanta a permanência de Odair Hellmann, vale lembrar que a história no futebol gaúcho costuma se repetir. Em ambos os lados. Em 2009, Celso Roth jogava a Libertadores com o Grêmio (liderava a sua chave) e mesmo assim foi demitido após três derrotas, todas por 2 a 1 para o Inter no Gauchão. Não resistiu à comparação local.
Em caso de eliminação no Estadual, o Inter terá pela frente o mata-mata com o Vitória pela Copa do Brasil, antes da estreia no Brasileirão, em 15 de abril, no dia em que o centro criativo do Inter, D'Alessandro, completará 37 anos de idade - e com uma tabela dificílima no campeonato, pelo menos até a metade do primeiro turno. Campeão gaúcho em 2000, como goleiro do Caxias, o atual técnico Gilmar Dal Pozzo, entende que este terceiro clássico será o mais disputado de todos.
— Este jogo será final de Copa do Mundo. Vai ser pegado como um jogo de Libertadores. Para ambos. Muitas vezes se diz que a Dupla não dá valor ao Estadual. Mentira. Uma derrota dói demais. Essa geração do Grêmio ganhou quase tudo fora daqui. Mas ainda não conquistou o Estadual. O Grêmio não ganha o Gauchão desde 2010. Por isso, se trata de um título importante para o clube. Já uma eliminação entrará para a história, mas não creio que vá abalar a equipe — comenta Dal Pozzo, que completa:
— O Inter está mordido. Sabe que precisa vencer, mesmo que não se classifique. Uma nova derrota pode ter reflexo na sequência da temporada. Por isso tudo acho que este jogo será o mais guerreado de todos. Pela necessidade do Inter e pelo respeito que o Grêmio demonstrou nos clássicos anteriores. Os dois jogarão o máximo que podem.
Ex-meia da dupla Gre-Nal, o atual técnico do Aimoré, Arílson Gilberto da Costa, entende que o Grêmio é o grande favorito para o 415º clássico, mas não dá o Inter como um time batido. Chega a buscar como referência o histórico mata-mata entre Grêmio e Palmeiras, pela Libertadores de 1995.
— Com duas camisas pesadas como estas, a decisão está em aberto. Sei que o Grêmio é 99,9% favorito, mas sempre respeito aquele nosso 5 a 0 sobre o Palmeiras. Fomos a São Paulo e levamos 5 a 1. Ficamos com a vaga, mas foi um sufoco. É Gre-Nal e tudo pode acontecer. Sim, o Odair vai para tentar vencer o clássico? Vai. Mas, e se fizer um gol de cara? O Inter tem condições de devolver os 3 a 0 e levar a decisão aos pênaltis — entende Arílson.
— É claro que haverá consequências para quem perder, mas, pensando na pior das hipóteses para ambos os lados, o Grêmio é quem sofrerá menos com um resultado ruim — completa.
Ex-centroavante do Grêmio e hoje técnico com passagens recentes por São José e São Paulo-RG, Gilson Maciel entende que o Grêmio, pelo entrosamento de uma equipe que teve poucas mudanças e enfrentou jogos decisivos nas últimas temporadas, tem mais preparação psicológica para encarar a decisão.
— Em função dos últimos anos, o Grêmio criou uma mentalidade para encarar jogos importantes. Enfrentou Libertadores por dois anos seguidos, o Grêmio está acostumado a jogar mata-mata — avalia Gilson, que, para o Inter, uma vitória, mesmo sem classificação, será importante para aliviar a pressão sobre Odair Hellmann:
— Se perder, o grau de tolerância da torcida será menor. Com o Brasileiro começando logo em seguida, um resultado positivo aliviaria as críticas sobre o trabalho dele e daria mais tranquilidade.
Técnico campeão gaúcho pelo Novo Hamburgo no ano passado, Beto Campos entende que o Inter precisa buscar nesta noite o mesmo desempenho que teve no primeiro tempo do Gre-Nal da Arena para obter um resultado positivo no Beira-Rio. O treinador também acredita que o resultado do clássico passará por D'Alessandro.
— Pela experiência que tem, pode fazer a diferença. O torcedor do Inter espera muito de seu capitão. Ele foi muito bem na entrevista após o jogo, admitindo o melhor momento do rival. Mas em Gre-Nal, na hora do jogo tudo fica parecido. Já vimos um time que não está bem ganhar — observa Campos, que descarta qualquer tipo de "salto alto" do Grêmio no clássico desta noite:
— Pela maneira que o Renato trabalha, pela experiência do grupo e pelas conquistas que teve, não vai ter este clima de "já ganhou". Mas o time terá que ter atenção redobrada.
Quem se classificar neste mata-mata Gre-Nal será o favorito ao título do Gauchão 2018. Ao eliminado, caberão as naturais consequências da derrota no confronto: uma sequência de reveses de um lado ou uma desclassificação histórica para outro.