Os nascidos em Porto Alegre não entendem a paixão que nós, do Interior, nutrimos pelos times da nossa cidade ou região natal. Por alguns meses, todos os anos, o futebol nos remete uma época inolvidável vivida em pequenas comunidades que proporcionaram lembranças felizes.
Sou natural de Arroio do Meio, um pequeno município encravado no Vale do Taquari e, por isso, torcedor confesso do Lajeadense, clube sediado há seis quilômetros de distância. Desde piá era levado pelo velho Giba - meu falecido pai - ao Estádio Florestal, precursor da moderna Arena Alvi-Azul. Lembro que virei notícia ao fazer xixi do alto do pavilhão social num dia de casa cheia que impediu a chegada até o banheiro. Hoje o vídeo faria sucesso no youtube.
Minha admiração pelo Lajeadense só encontra paralelo no fanatismo do multipremiado jornalista (e meu ídolo) Nilson Mariano. Ele não nasceu no Vale do Taquari, mas passou grandes momentos quando era jovem em Lajeado, onde morou, em consequência da vida cigana do pai que foi gerente de banco. Hoje ainda Mariano recita um rosário de ídolos, goleadores históricos, zagueiros viris e escalações sem hesitar. Ele torcedor que ficava emburrado no canto da sala de aula quando o time perdia.
Minha mulher, Cármen, nasceu na Capital, no IAPI, e, nutre discreta simpatia pelo São José - o simpático Zequinha -, clube daquele bairro. Ela costuma implicar com a minha preferência interiorana, mania aguçada quando Inter e Lajeadense se enfrentam. Ela não perde a chance de provocar:
- Hoje eu quero ver se tu és um colorado de verdade!" - repete com ironia ao invocar minha condição de associado do time do Beira-Rio.
Nestas ocasiões confesso meu nervosismo. A paixão alvi-azul é tão intensa quanto meu desejo de ver D'Alessandro levantar mais uma taça. Neste ano, logo na primeira rodada, os dois gigantes se enfrentaram. Houve um providencial empate, seguido de vitória lajeadense nos pênaltis, o que me deixou feliz.
A preferência pela dupla Gre-Nal é uma espécie de obrigação para todo gaúcho. A escolha determina momentos felizes, de "flauta" em dias de sucesso no clássico, ou de intermináveis gozações em caso de fracassos.
Como referi acima, o amor eterno pelo clube da minha terra natal transcende modismos, glórias e fama. Se assemelha àquela paixão pueril nutrida nos tempos do primário.
É uma lembrança indelével na memória e em nosso coração!