Campeão do Sul-Americano Sub-20, disputado na Venezuela em setembro, o treinador Vanildo Neto é o responsável por convocar e escalar o que há de melhor na nova geração do futsal brasileiro. O pernambucano elogia a qualidade dos garotos, entre os quais estão Nicolas e Léo Borges, da equipe gaúcha Assoeva, mas dá sugestões sobre como a formação de atletas da modalidade pode melhorar.
Leia, abaixo, a entrevista de GZH com Vanildo Neto, que também é auxiliar de Marquinhos Xavier na seleção principal.
O Brasil venceu o Sul-Americano Sub-2o com facilidade e placares elásticos, pelo menos até a final, contra a Argentina, quando ganhou de 1 a 0. O nível técnico do futsal brasileiro está realmente muito acima dos demais países da América do Sul?
Nós tínhamos uma diferença grande há um tempo atrás. Hoje igualou muito. É que essa geração brasileira tem muita qualidade e estava muito focada no campeonato. Sabíamos que, se nos preparássemos bem, chagaríamos com força. Fizemos um planejamento que deu certo. Existem algumas diferenças no sentido de que o futsal é o esporte mais praticado em escolas e clubes brasileiros. Desde a infância, meninos e meninas jogam futsal. O Brasil é um país continental e tem um leque maior de jogadores para a seleção. Além disso, o Brasil tem um histórico vencedor. Isso faz com que quem comece na modalidade queira continuar nela. Entretanto, os países menores também têm uma constância na modalidade. A Argentina não é tão grande, mas tem uma seleção que treina muito com a mesma equipe. Isso está tirando a diferença do Brasil.
Quais são os próximos compromissos da seleção sub-20?
A gente vai jogar a Liga Sul-Americana de Desenvolvimento. É um campeonato feito em duas eliminatórias. A final será contra a Colômbia, em 6 de novembro. É uma competição que a seleção adulta também vai jogar, o que, inclusive, é muito legal para a integração.
No elenco campeão do Sul-Americano, havia dois jogadores da Assoeva: o goleiro Nicolas e o ala Léo Borges. Qual é a sua avaliação sobre esses dois atletas?
O Nicolas é uma grata surpresa. Começamos monitorar ele e conversei com o Fernando Malafaia, que passou boas referências. Ele nos ajudou muito. O Léo Borges passou pelas categorias de base da ACBF, de Carlos Barbosa. Acompanhamos ele há três anos. Ele já havia sido convocado para amistosos. Os dois foram muito bem. Temos uma lista entre 70 e 80 atletas dessas idade, mas, com certeza, eles terão prioridade nas próximas convocações.
Recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) anunciou a criação de um campeonato brasileiro de futsal. A Liga Nacional, nesta semana, informou que vai criar uma nova divisão, a Liga de Acesso, a partir de 2025. Como essa expansão dos campeonatos nacionais pode ajudar na formação de atletas?
Eu sou até suspeito para falar sobre isso. Sou nordestino, com muito orgulho, de Recife, Pernambuco. A gente sabe que a Taça Brasil, que é um campeonato de base da CBFS, ajuda muito o atleta a estar acostumado com grandes jogos e de ter esse enfrentamento com outras regiões. Como o Brasil é muito grande, existem diferentes estilos de jogo dentro do Brasil. E isso precisa ser potencializado. Eu quero levar os melhores. Ter atletas com o costume de grandes jogos, calejados, é muito importante para quando tiver um campeonato internacional contra Paraguai, Colômbia, Argentina, para que a gente não sinta os jogos. Isso passa pelas competições nacionais. É um dos critérios que eu uso, já que o país é tão grande e a gente tem que pensar em um critério para levar os melhores.
Como é possível melhorar a formação de jogadores de futsal no Brasil?
Primeiro, em relação ao conteúdo técnico, a nossa preocupação tem que ser, primeiro, melhorar o atleta individualmente para depois colocá-lo em um conceito de jogo. Cada vez mais, a gente coloca responsabilidade em um atleta para o jogo coletivo, sendo que ele não melhorou individualmente ainda. Às vezes, estamos preocupados em trabalhar uma criança com ações de jogo de adulto e não se preocupa com a base. Mas isso vem mudando, os treinadores estão melhorando nisso. O segundo passo para essa melhora seria massificar o esporte, para termos mais gente jogando com qualidade. A CBFS e a Liga Nacional estão começando a pensar nisso. E tem a questão da economia. Cada vez mais os atletas estão indo jogar lá fora por conta do euro e do dólar. Pensar na base é pensar em uma estrutura para que os atletas do clube, formados pelo clube, joguem pelo adulto desse clube e deem frutos para essa equipe. A base é de total relevância para que o futsal adulto mantenha a qualidade.