
O inquérito policial do suposto caso de racismo no jogo entre Inter x Sport, em 31 de março, pelo Brasileirão Feminino, teve uma mudança de rota a partir da informação de que a casca de banana que atinge o banco de reservas do time de Recife estava dentro de um copo plástico.
A delegada Tatiana Bastos, responsável pelo caso na Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), afirmou à Zero Hora nesta terça-feira (8) que a autora do arremesso "possivelmente, não será indiciada por racismo". A jovem de 18 anos era atleta da base do clube e teve seu contrato rompido no mesmo dia, 31 de março.
Tatiana ressalta que ainda podem surgir novos elementos, o que poderia remontar a outras questões, inclusive as raciais. A conclusão do inquérito tem prazo de 30 dias, mas a tendência é a de ser remetido ao Poder Judiciário "bem antes", segundo Tatitana.
A informação do copo surgiu a partir do vídeo encaminhado pelo clube à DP, no qual é possível ver a jovem atirando um objeto plástico. A defesa dela alega que ela não percebeu que, dentro, havia uma casca de banana.
Para entender os próximos passos, a reportagem de Zero Hora conversou com a delegada Tatiana Bastos, responsável pelo caso. Confira abaixo:
O que a senhora pode nos contar sobre o caso? O que a polícia já sabe?
Após o recebimento da ocorrência policial, a gente fez a instalação para apurar, num primeiro momento, o crime de racismo, na forma do racismo recreativo, porque teria sido atirada uma casca de banana junto ao banco de reservas do time do Sport. Iniciamos ouvindo os autores da denúncia, que era toda a delegação (do Sport), técnicos e as jogadoras desse time, que estavam, inclusive, embarcando para Pernambuco. E aí, quando o Inter veio apresentar imagens e várias questões que a gente solicitou, eles nos trouxeram uma outra versão (o vídeo).
Ela joga esse objeto que bate numa grade do campo e dentro tinha esse lixo, que era uma casca de banana que acaba caindo
TATIANA BASTOS
delegada que apura o suposto racismo em Inter x Sport pelo Brasileirão Feminino
Essa versão não foi confirmada nos autos, ainda, pela prova testemunhal, porque ainda faltam duas testemunhas para serem ouvidas e a própria suspeita. Mas, analisando as imagens, o que a gente conseguiu fazer na data de ontem (segunda-feira), a gente consegue perceber que, realmente, essa jogadora se aproveita de um momento ali, uma situação de gol do time adversário, que empata o jogo, ela olha para os lados, vai até o chão, pega um objeto branco, que, mais ou menos se assemelha com um copo. A imagem não é tão nítida, mas a gente percebe pelo tamanho, pelo volume, pela cor (entende-se que seja um copo). Ela joga esse objeto que bate numa grade do campo e dentro tinha esse lixo, que era uma casca de banana que acaba caindo, sendo projetada em direção ao banco de reservas. Imagino que essas duas testemunhas virão depor nesse sentido.
Quem são essas testemunhas?
Segundo o advogado de defesa, que foi quem requereu, são pessoas que estavam no Sesc. São testemunhas presenciais, que estavam próximos, ali ao lado, e verificaram o que aconteceu. Até porque essa versão do copo é algo que surge num primeiro momento, de forma informal. Quando a gente analisa as imagens, esse relato é coerente com o que a gente vê nas imagens. Ela olha para os lados, pega esse objeto no chão, que é um objeto que a gente vê a cor, o tamanho dele, e dentro desse objeto salta um outro objeto, que obviamente nas imagens a gente não consegue ver, mas a gente imagina que se trate dessa casca de banana.
Possivelmente, ela não será indiciada pelo racismo.
TATIANA BASTOS
explica a delegada que investiga a denúncia em Inter x Sport
O fato de ter esse copo na cena pode fazer com que o crime seja tipificado de outra forma, sem relação com racismo ou injúria racial?
Não posso te dizer qual vai ser o resultado do inquérito, mas pelo que a gente analisa nas imagens, possivelmente não será indiciada pelo racismo. Ficou difícil de a gente configurar que havia intenção, que é o dolo específico voltado à discriminação, voltado ao menosprezo. Isso não está, neste momento, configurado. A não ser que haja alguma nova prova nesse sentido. Mas existe, sim, um crime, uma figura típica da lei geral do esporte, que é o artigo 201. Ela arremessou um objeto. Então, tem uma penalidade, tanto administrativa quanto penal para essa conduta dela, mas não dentro da lei de racismo.
Existe, sim, um crime, uma figura típica da Lei Geral do Esporte
TATIANA BASTOS
afirma a delegada que investiga a denúncia em Inter x Sport
Quais são os próximos passos?
Os próximos passos que a gente ainda precisa fazer para a conclusão do inquérito policial é a oitiva da suspeita, que já está agendada, com a sua defesa, e mais duas testemunhas que ainda serão ouvidas, indicadas pela defesa.