Pedi fotos dos meus filhotes durante o mês longe para Marcella, a mãe deles, a pessoa que me escolheu no mundo (erro dela, eu sei, mas nem todo mundo tem a sorte que tenho na vida). Enfim, qualquer coisa deles serve. Ligações por vídeo ajudam. Problema é lutar contra os tablets que os colocam idolatrando Youtubers e desenhos animados.
Onde estou, a Copa, ainda não empolga totalmente um de quatro anos e outro que completa três hoje. O nome dele é Santiago e com ele falo agora.
Meu carinha! Papai tá longe no teu aniversário e juro que não estou feliz. Queria te esmagar. Mas estou no Catar, na Copa do Mundo, um evento que você vai descobrir daqui quatro anos.
Não é difícil trabalhar nela, tá? Cansaço, caminhadas e perrengues são normais. Não tiram um braço. Seu papai não é correspondente de guerras. Esses sim sofrem. Eles podem morrer, o sistema de comunicação pode receber um míssil e não existir mais internet. Aí o jornalista não conseguiria enviar o seu trabalho. Aliás, guerras são terríveis. Na guerra também pode faltar luz, água, estrada e bondade. Quem nos conta as guerras sofre.
Mas o seu papai veio trabalhar numa festa. Copas são festas. E, eu sei, sua mamãe criou o climão para você e seu irmão começarem a receber as informações de que festas de futebol são legais.
E a sua escolinha também. Você de amarelo — aliás, do seu país natal, nada é mais respeitado que a camisa da Seleção, meu filho. Note duas coisas: a Seleção Brasileira é chamada pelos estrangeiros apenas de Seleção. E a camisa amarelinha carrega uma história de dribles, gols e taças. Três coisas que são difíceis de realizar tudo junto.
Pois que na sua escolinha tava todo mundo de canarinho. E, sua mamãe me disse, que esses seus olhinhos cheios de curiosidade assistiam TV de maneira diferente. Dentro desse seu mundinho de três anos completos hoje, 14 de dezembro, você olhava para a TV no jogo do Brasil por outra razão.
Você queria ver o seu papai. Você entendeu que estou na Copa. E, dias desses, essa sua historinha me foi contada pela sua mamãe. E me fez chorar.
Você disse para a sua professora que fica procurando o papai na TV. Porque o seu papai foi para a Copa "para tirar fotos". Santi, eu desabei. Eu fiquei imaginando você me procurando na telinha, seu coraçãozinho mostrando uma pureza que quero para sempre.
Você conectou mundos: o meu e o seu. E com o seu papai do passado que fazia cadernos da Copa, pintava bandeiras e os enchia de informações do campeonato mais legal.
Meu maior sonho realizado era trabalhar numa Copa, carinha. Mas agora sei que há algo maior. Que há um pecinha de três aninhos completos hoje olhando para uma tela e me procurando. Que você também sente algo tão humano, tão bonito e que nos faz viver para valer a pena: você está sentindo saudades.
Eu te amo, carinha. Talvez eu não apareça na TV tirando fotos. Mas já me encho de felicidade de imaginar o amor mais genuíno que vem de ti sem você nem notar que o está despejando em mim.