Este texto faz parte da cobertura da Copa do Mundo. A seção 'A Copa da minha vida' é publicada diariamente no caderno digital sobre o Mundial do Catar.
Eu vivo o judô desde a hora que eu acordo até a hora que eu durmo, todos os dias, sempre. E, claro, admito que o esporte toma muito tempo, quase monopolizando os meus pensamentos e as minhas ações, mas é a minha vida. São as minhas escolhas e acho que elas ajudam a explicar como eu cheguei até aqui.
Ser atleta no Brasil não é fácil, principalmente de modalidades olímpicas. Falta iniciação, falta apoio, falta infraestrutura. Eu, agora, depois de tantos resultados importantes, não tenho do que reclamar, mas o começo é sempre difícil. A gente só conta com a família e com a nossa própria força de vontade. Exatamente por isso, tantos talentos se perdem sem ao menos terem tido a chance de tentar. Infelizmente, isso ocorre em todas as modalidades.
Mas eu, como a grande maioria dos brasileiros, adoro torcer pelo Brasil durante as Copas do Mundo. Eu coloco a camisa, empunho a bandeira e grito forte — mesmo sem entender tanto assim de futebol. Gosto de estar junto, de torcer mesmo.
Me lembro de torcer pelo Brasil quando era pequena, sempre junto da família. Me recordo da gente no sofá do nosso apartamento, no Bairro Medianeira, em Porto Alegre, comemorando os gols dos nossos craques em alguns jogos. Mas a lembrança mais marcante da minha infância vem da Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul — olha aí o judô presente de novo!!!
Eu estava prestes a completar 11 anos. Naquela época, eu já praticava judô e até já ganhava as minhas medalhinhas por aí, mas sem a intensidade que viria só alguns anos mais tarde. Eu era apenas uma criança. Naquela Copa, do Felipão, do Ronaldo Fenômeno, do Ronaldinho Gaúcho, da Família Scolari, nos reunimos para torcer pelo time em quase todas as partidas da campanha até o título, mesmo durante a madrugada.
A final ocorreu em um domingo pela manhã (noite no Japão). Mais uma vez, nos juntamos para torcer na sala de casa. Lembro que o pessoal estava um pouco nervoso, principalmente antes de a bola rolar. Quando o jogo começou, porém, Ronaldo Nazário marcou os dois gols, o Brasil ganhou da Alemanha sem muito sofrimento e a gente comemorou bastante. Eu e a minha irmã, que tem quase a mesma idade que eu, saímos pelo condomínio junto com outras crianças brincando e comemorando a vitória da Seleção Brasileira. Depois teve almoço em família, alegria e confraternização.
Depois vieram outras Copas, algumas tristezas, muitas alegrias. Eu me transformei em atleta, passei a treinar na Sogipa com alguns dos meus ídolos e, logo em seguida, comecei a percorrer o mundo também defendendo as cores do Brasil. Tive o privilégio de provar o sabor de vestir a camisa amarelinha e ganhar e posso dizer para vocês que o sabor é maravilhoso. Em todo lugar que a gente chega, o futebol surge como uma espécie de credencial de abre alas. O mundo conhece o nosso país também graças a ele. Não tem como negar que o futebol está entranhado na cultura brasileira assim como o judô está na japonesa.
Enfim, para mim, a Copa é um momento de família, de viver com pessoas próximas e queridas. É uma hora de confraternização, de sentir-se ainda mais brasileira. O Mundial de 2002 ficou marcado na minha vida, até por ser a primeira que realmente tenho memória. Justamente a que foi disputada no Japão, justamente a do nosso título mais recente. Ou seja, foi a Copa perfeita.
*Mayra Aguiar é judoca da Sogipa, medalha de bronze nas Olimpíadas de 2012, 2016 e 2020 e tricampeã mundial em 2014, 2017 e 2022