Mais um dia decisivo para a Seleção, e a atmosfera no Catar estava diferente. Não, não é invenção. A sexta-feira (9) amanheceu nublada, tinha um vento forte, e durante a manhã deu uma chuviscada em pleno deserto. Não era um dia tranquilo. Existia uma tensão no ar, em meio à esperança de milhões de brasileiros.
Por aqui, centenas de milhares começaram a pintar de verde e amarelo o entorno do Estádio Education City desde cedo. Os torcedores da Seleção estavam prontos para ditar o ritmo. Com tamborins, pandeiros e bumbos, mostraram que de musicalidade a gente entende. Colocaram os gringos na roda de samba. Comandaram a batucada. Cantaram, encantaram e agitaram o que seria o aquecimento do que seria o maior sextou de todos os tempos. Pela primeira vez eu ouvia o seguinte canto:
Rola, rola a bola, vamos jogar
O Brasil é que vai brilhar
O Modric para casa vai voltar
Nessa Copa, quem manda é o Neymar
A rima perfeita, o compasso acertado, o sorriso no rosto. O anoitecer parecia chegar mais simpático. Ou ao menos mais esperançoso. Os palpites eram otimistas, com goleada e um Brasil na próxima fase da Copa do Mundo. Não havia qualquer receio de errar ou estar enganado. Tanto com as projeções, quanto com a música que já colocava no avião o principal nome da seleção croata.
E tínhamos história para acreditar nisso. A Croácia nunca tinha vencido o Brasil. No entanto, um tabu parecia encobrir o brilho desse retrospecto: desde o penta, a Seleção Brasileira não vence uma equipe europeia nos jogos de mata. Mas nada disso entra em campo.
Dentro do estádio, a torcida canarinha gastou a voz. Cantou, gritou, incentivou. Explodiu com o gol na prorrogação. E ainda sofreu, chorou e desabou com a derrota nas penalidades. Foram necessários pouco mais de 120 minutos e ainda pênaltis para cair por terra toda a alegria do torcedor e certeza no hexacampeonato.
O Brasil foi eliminado da Copa do Mundo do Catar. A saída do Education City foi rápida. Discreta. Dolorida. Entre os poucos torcedores que quiseram falar qualquer coisa, um desabafou:
— Assimilando a derrota, a dor no corpo e na mente. O hexa fica para 2026.
A música desafinou, o canto emudeceu, e a canção que melhor pode expressar algo sobre o dia de hoje é aquela que diz: Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei.