Um jogo digno de Copa do Mundo. O confronto entre Argentina e Holanda tem gravado em seu currículo jogos em fase de grupos, quartas, semifinal e até final de Copa, vencida pelos hermanos em 1978. E nas areias escaldantes do Catar mais um capítulo desta história será escrito nesta sexta (9), a partir das 16h. Se o jogo já é cheio de atrativos por si só, vale ainda mais ficar de olho, afinal, um deles estará no caminho do Brasil se a seleção de Tite vencer a Croácia na partida das 12h.
Expectativa por mais tangos
Lionel Messi, assim como todos os argentinos, deve estar apreensivo. Afinal, o duelo com a Holanda, às 16h desta sexta-feira (9), poderá ser o "último tango" do craque pela seleção em Copa do Mundo. Se perderem, será o adiós de Lionel, que já disse ser este seu Mundial derradeiro. Mas, em caso de classificação, mais duas danças estão garantidas: a semi e a final ou o confronto pelo terceiro lugar. Seria um alívio para os hermanos poder assistir ao menos mais duas vezes ao ídolo com a camisa albiceleste. Por isso, tamanha a expectativa.
Mas se há apreensão, também existe confiança. O histórico de confrontos pode até não recomendar, mas as lembranças do título mundial de 1978, com show de Mario Kempes, e a classificação à final da Copa de 2014, nos pênaltis, ambas contra esta mesma Holanda, fazem com que os hermanos acreditem na ida às semifinais no Catar, para enfrentar o vencedor de Brasil e Croácia, que ocorre horas antes.
Este será o 10º duelo entre as duas seleções na história — o sexto em Copas. Até hoje, foram quatro vitórias da Holanda, quatro empates e apenas um triunfo da Argentina, justamente o do título de 44 anos atrás, o primeiro dos nossos vizinhos.
Foi um jogo marcante, em que os argentinos foram salvos pela trave nos minutos finais, e na prorrogação souberam aproveitar o apoio da torcida, que lotou o Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Mas a lembrança mais vívida é a do duelo mais recente entre as duas equipes, no Itaquerão, pela semifinal da Copa disputada no Brasil. Os hermanos avançaram nos pênaltis, depois de um empate sem gols. Foram derrotados apenas na final, para a Alemanha.
— O rival é muito duro, e o histórico de confrontos entre as seleções mostra isso. Esperamos passar, seja ganhando durante o jogo ou nos pênaltis — disse o volante Alexis Mac Allister, que assumiu a titularidade em meio à Copa do Mundo e concedeu entrevista na véspera do jogo.
Este é outro trunfo da Argentina. Foram cinco disputas por pênaltis até hoje em Mundiais, com apenas uma derrota da seleção sul-americana, em 2006, contra a Alemanha. O histórico de classificações em 1990, nas quartas e nas semis, contra Iugoslávia e Itália; em 1998, nas oitavas, diante da Inglaterra; e em 2014, nas semis, justamente contra a Holanda, faz com que os argentinos sonhem com mais uma semifinal de Copa.
— Treinamos pênaltis. Os jogadores sempre ficam cobrando depois do treino. Aí quando você vai chutar no dia do jogo, é uma caixa de fósforos. Vamos torcer para não chegar nessa fase e passar antes, mas estamos bem preparados — garantiu o técnico Lionel Scaloni.
Dentro de campo, há duas dúvidas na escalação. Rodrigo De Paul sentiu um incômodo na coxa direita e pode ser desfalque, enquanto Ángel Di María ficou de fora da partida contra a Austrália, nas oitavas, por conta de dores do quadríceps. Ambos treinaram nesta semana, mas ainda passarão por reavaliação antes do jogo.
— Vamos ver no treino de hoje (sexta-feira, 8) que decisão eu tomo. Não me atrevo a dizer se jogarão ou não, porque nunca se sabe. O que sai na imprensa é difícil de controlar. Torço para que estejam bem. Que deem o melhor para a seleção — afirmou Scaloni.
O certo é que o foco é total na Holanda. Questionado sobre quem preferia enfrentar em uma possível semifinal, Brasil ou Croácia, o treinador disse não ter uma resposta, já que precisa passar pela equipe holandesa, o qual considerou "muito equilibrada e ofensiva". Previu um jogo "lindo de ver" nesta sexta. Mas ele sabe que lindo mesmo seria ver ao maior Brasil x Argentina da história na semifinal no Copa.
Cara de revanche
A eliminação para a Argentina na semifinal da Copa de 2014, nos pênaltis, ainda está na memória dos holandeses. O técnico Louis van Gaal, o zagueiro Stefan de Vrij, o lateral-esquerdo Daley Blind e o atacante Memphis Depay estavam naquele jogo e seguem na seleção oito anos depois. Para eles, o clima é de revanche nesta sexta-feira (9).
— Estamos nas quartas, e a Argentina foi o time que nos eliminou nos pênaltis da última vez que nos enfrentamos. Então, temos contas a acertar com eles — disse Van Gaal após a classificação contra os Estados Unidos.
O sentimento é compartilhado por Depay. O jogador de 28 anos, que atua pelo Barcelona, é uma das referências da equipe da Holanda. Estava na eliminação para Argentina há oito anos e, assim como o treinador, pretende dar o troco nos hermanos pela derrota na Copa disputada no Brasil.
— Conhecemos muito bem a Argentina. Queremos nos livrar do gosto amargo do que aconteceu em 2014 — afirmou o camisa 10 nesta quinta-feira (8).
O time holandês não deve ter mudanças em relação ao que enfrentou os EUA, no sábado (3). Com o jovem Cody Gakpo, 23 anos, autor de três gols na Copa, como destaque, a equipe aposta também na força defensiva, que tem como base o zagueiro Virgil van Dijk, do Liverpool, além de uma figura pouco conhecida até dias antes do Mundial. O goleiro Andries Noppert, 28 anos, joga no modesto Heerenveen, da Holanda, e tem carreira marcada por ser um "eterno reserva". Até a temporada passada, somava apenas 16 partidas como profissional. Não à toa, ele próprio afirmou que tem o menor salário entre todos os jogadores da seleção. Mas é a arma para tentar parar Messi nesta sexta.
— É um grande jogador, mas também pode falhar. Nós vimos neste torneio. Ele é como nós, um ser humano. Claro que é muito bom, mas também pode errar — salientou Noppert.
Se para os argentinos a final de 1978 é a grande referência do que fazer para superar os holandeses, do outro lado o duelo histórico pela Copa do Mundo de 1998, na França, é inesquecível para a seleção europeia. Pelas quartas de final, no Stade Vélodrome, em Marseille, a Holanda venceu por 2 a 1, com gols de Kluivert e Bergkamp, em jogo que ficou marcado pela cabeçada de Ariel Ortega no goleiro Van der Sar. E, assim como pode ocorrer nesta Copa, o adversário na semi foi o Brasil. Para eles, seria a chance de uma nova revanche, já que foram eliminados pela Seleção Brasileira nos pênaltis há 24 anos. Mas, para nós, seria a chance de repetir um caminho que nos levou à decisão — desde que o resultado final seja diferente daquele na França.
Histórico
Argentina e Holanda já se enfrentaram nove vezes. O retrospecto é melhor para a seleção europeia, que tem quatro vitórias, enquanto os sul-americanos venceram uma vez. Os outros quatro jogos terminaram empatados.
Em Copas
- Holanda 4x0 Argentina (1974, segunda fase)
- Argentina 3x1 Holanda (1978, final)
- Holanda 2x1 Argentina (1998, quartas)
- Holanda 0x0 Argentina (2006, fase de grupos)
- Holanda (2)0x0(4) Argentina (2014, semifinais)