A campanha de finalista da Argentina na Copa do Mundo do Catar tem a marca de Lionel Messi. Em seu quinto Mundial, o camisa 10 tem feito apresentações que aumentaram as comparações com o mito argentino Diego Maradona. Mas essa equipe comandada por Lionel Scaloni conta com outros jogadores que já vestiram o consagrado número 10 e atualmente exercem funções diferentes na equipe que tenta levar os sul-americanos ao tricampeonato.
Do quarteto de meio-campo que começou diante da Croácia na semifinal, três jogadores foram formados em clubes argentinos como meio-campistas ofensivos e hoje são volantes no futebol europeu. Rodrigo De Paul, no Racing, Leandro Paredes, no Boca Juniors, e Mac Allister, no Argentinos Juniors, usaram a camisa 10 no início de suas carreiras. Também carregou o número mítico Marcos Acuña, atualmente lateral-esquerdo, mas que foi um veloz atleta ofensivo em seus primeiros passos no Ferro Carril Oeste.
Acuña chegou à Europa em 2017 para defender o Sporting Lisboa depois de ter tido destaque no Racing para atuar no meio-campo. Neste mesmo ano, ele acabou improvisado por Jorge Sampaoli como ala na seleção argentina em um sistema com três zagueiros. O treinador, sempre adepto de inovações, mudou a formação para linha de quatro e Acuña virou lateral.
Na Europa, essa alternativa passou a ser frequente com o técnico Marcel Keizer na temporada 2018-2019. Acuña chegou até a jogar como zagueiro no Sporting. Sua afirmação na Argentina com Scaloni veio durante a Copa América de 2019, no Brasil, atuando como volante. O crescimento de outros jogadores do meio-campo fez com que ele se convertesse em lateral-esquerdo titular da Albiceleste – só não atuou diante da Croácia porque estava suspenso.
Os 10 que viraram volantes
É até comum meias sul-americanos de qualidade técnica destacada virarem volantes na Europa em uma ideia dos treinadores de ganhar um melhor passe na saída de bola. Leandro Paredes, Rodrigo De Paul e Alexis Mac Allister passaram por esse processo.
O caso De Paul é o mais chamativo. Tido atualmente como o motor da Scaloneta, alcunha recebida pela seleção depois do título da Copa América de 2021, o camisa 7 argentino tinha fama de pouco compromisso sem a bola em sua formação no Racing.
— Rodrigo nos mostrou a necessidade de respeitar os processos. Quando era jovem jogava muito bem, driblava, mas quando perdia a bola não se comprometia com o jogo. Essas coisas muitas vezes incomodavam. Mas ele foi inteligente no seu crescimento. Com o tempo foi agregando outras coisas e passou a interpretar o que é o futebol, incorporou o jogo sem a bola — contou em recente entrevista ao Diário Olé Miguel Gomis, primeiro técnico de Paul na base do Racing.
De pouco compromisso defensivo no começo da formação, De Paul é atualmente o jogador que mais recuperou bolas na seleção Argentina na Copa do Mundo. Se for levar em conta as médias por jogo, ele fica atrás de Leandro Paredes. O jogador da Juventus esteve em campo em quatro das seis partidas do Mundial e tem uma média de 2,3 desarmes por jogo. Formado no Boca Juniors, Paredes era apontado como o sucessor de Juan Roman Riquelme. Quando subiu para o profissional, porém, Riquelme estava em seus últimos momentos da carreira e eles chegaram a dividir o campo, o que forçou uma adaptação a Paredes, que precisou atuar um pouco mais recuado.
Mas foi na Itália, onde defendeu Roma, Chievo e Empoli, que Paredes virou primeiro volante. Ainda que tenha sido chamado por Jorge Sampaoli antes da Copa do Mundo de 2018, foi com Lionel Scaloni que Paredes ganhou papel de protagonista e tornou-se um dos pilares do time campeão continental em 2021. Na Copa do Mundo, ele só não é titular absoluto porque não chegou ao Catar nas melhores condições físicas após ter sofrido uma lesão defendendo a Juventus às vésperas do Mundial. Mesmo assim, recebeu a confiança para ser titular no duelo semifinal com a Croácia quando o treinador optou por um meio-campo mais robusto.
Novidade e afirmação na Copa do Mundo
O novato desse trio é Mac Allister, 23 anos, de uma família ligada ao futebol. Alexis é filho de Carlos Mac Allister, lateral de sucesso no Boca Juniors e que defendeu a seleção nos anos 1990. O dono da camisa 20 da Argentina na Copa do Mundo tem outros dois irmãos também jogadores: Kevin, lateral do Argentinos Juniors, e Francis, meia do Rosario Central.
Alexisiniciou a carreira no Argentinos Juniors e passou pelo Boca Juniors antes de chegar à Europa. Vestiu a camisa 10 nos dois clubes, uma trajetória feita nos anos 1980 por um tal Diego Maradona.
Como Paredes e De Paul, Mac Allister virou volante na Europa. Assim tem atuado no Brighton, da Inglaterra. Na Argentina foi o camisa 10 com tarefa de meia-armardo na última Olimpíada, mas já chegou ao time principal para exercer funções mais defensivas. Foi testado como primeiro volante por Scaloni como uma alternativa ao então titular Paredes em jogo contra Estônia, em junho. Na Copa virou titular na segunda rodada ocupando uma vaga pelo setor esquerdo do meio-campo aberta pela lesão de Lo Celso, que não pôde integrar a lista de 26 nomes que foi ao Catar. Mac Allister tinha apenas oito jogos pela seleção antes desta Copa do Mundo.
Scaloni tem variado o time e feito escalações de acordo com os adversários. No entanto, De Paul, Mac Allister e Acuña são figuras certas na equipe titular para a final do Mundial. Paredes depende da escolha por três ou quatro meio-campistas. Se a opção for por três, Enzo Fernández, esse sim um volante desde a formação, irá acompanhar os dois titulares.
Em uma Copa do Mundo de destaque do seu 10, a Argentina tem também outros ex-10 para auxiliar Messi em busca da tão sonhada taça.