O jornalista argentino Gustavo Grabia, autor do perturbador livro "La Doce" - sobre a história da violenta barra brava do Boca Juniors -, respondeu sem hesitar quando perguntei se ele era favorável ao fim das torcidas organizadas:
- Adoram dizer que eles (torcedores organizados) são grandes responsáveis pela beleza do espetáculo, pelo colorido dos estádios e pela manutenção do romantismo no futebol. Tudo isso é verdade, claro. Mas eu aceitaria facilmente um espetáculo mais feio, um estádio menos colorido e até um futebol mais frio em troca da certeza de que ninguém sairá morto. Defendo a extinção das organizadas no mundo inteiro.
Não existe torcida organizada sem violência, Grabia sabe disso. Venho estudando há dois anos o comportamento desses grupos e também sei disso. Já entrevistei mais de 40 membros de organizadas que, da mesma forma, sabem disso: todos sempre me admitiram que a única maneira de conquistar o respeito das demais torcidas, especialmente nas viagens para longe de casa, é aceitando as provocações - ou inaugurando a pancadaria.
Trata-se, portanto, de um elemento intrínseco, indissociável: torcida organizada sem violência é como futebol sem bola. Ao assistir pela TV à cabeça de um torcedor do Atlético-PR ser pisoteada por vascaínos, quicando desfalecida no concreto da arquibancada, lembrei de Gustavo Grabia. Prefiro um futebol mais feio. Porque nada pode ser mais feio do que aquilo.
Opinião
Paulo Germano: "Não existe torcida organizada sem violência"
Jornalista comenta briga generalizada que interrompeu partida entre Atlético-PR e Vasco
Paulo Germano
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: