O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) ouvirá, na semana que vem, os estudantes do Colégio Farroupilha e do Colégio Israelita envolvidos em dois diferentes casos de intolerância política contra alunos eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os dois casos não têm relação entre si, mas ambos envolvem adolescentes tecendo críticas preconceituosas a colegas, motivados por política. Na última sexta-feira (4), o MP-RS havia solicitado que os colégios se manifestassem sobre o caso. As instituições retornaram aos questionamentos e repassaram os nomes dos envolvidos.
Contatado por GZH, o MP-RS informa que, “dando sequência à apuração das denúncias de discurso preconceituoso e discriminatório em postagens de estudantes de dois colégios privados da Capital”, a Promotoria Regional da Educação de Porto Alegre está analisando os documentos recebidos das instituições de ensino.
A partir da análise das manifestações, serão agendadas para a próxima semana audiências extrajudiciais entre a promotora Regional da Educação, Ana Cristina Ferrareze, e os jovens. O MP acrescenta que há expedientes tramitando em outras duas áreas, o Núcleo do Ato Infracional e a Promotoria da Infância e Juventude.
Segundo Ana Cristina Ferrareze, os colégios informaram que tomaram medidas contra os alunos, previstas nos regimentos internos. Agora, o Ministério Público atuará para evitar novos casos de intolerância política no ambiente escolar.
— O trabalho da Promotoria é na esfera coletiva e difusa, o que significa desenvolvimento de projetos nesses dois colégios que visem à prevenção da violência e de pacificação, além de projetos antibullying — diz Ana Cristina.
A promotora acrescenta que usará os casos para iniciar uma campanha de combate ao bullying em escolas da capital gaúcha, primeiro nas particulares, pelo menor número, e depois nas públicas. A ideia é iniciar o projeto-piloto com Israelita e Farroupilha.
— Fiz esse projeto em Passo Fundo com todas as escolas, públicas e privadas. Como existem muitas escolas em Porto Alegre, vamos ter que utilizar um fato lamentável como início para projeto nesses colégios, primeiramente. Depois expandir para o resto da rede privada e pública. É o que tenho em mente — diz a promotora de educação.
No Colégio Israelita Brasileiro, jovens gravaram no TikTok vídeo no qual criticam eleitores de Lula e xingam nordestinos, negros e pobres. Uma aluna cita que seu pai emprega pessoas e outro manda nordestinos tomarem no c*.
A instituição emitiu nota à comunidade na quarta-feira (9) informando que determinou o afastamento dos jovens das aulas presenciais e envio para o Ensino a Distância (EaD), sem especificar quantos foram punidos.
O Israelita diz também ter adotado medidas pedagógicas, envolvendo especialistas, para que casos semelhantes, ainda que fora do contexto escolar, não ocorram novamente. “Os vários procedimentos restaurativos impostos aos alunos foram resultado de um profundo processo de análise e reflexão que mobilizou profissionais capacitados e alinhados com nossa filosofia educacional”, diz a instituição.
No Colégio Farroupilha, uma estudante bolsista do Ensino Médio foi xingada por colegas em um grupo de WhatsApp após ter comemorado a vitória de Lula na eleição presidencial. Foi insultada de "chinela" e "nojenta", além de ter recebido mensagens de que teria a bolsa cortada pela preferência política.
Por meio de sua assessoria de comunicação, o Farroupilha informa que “a conduta inaceitável de alguns estudantes não representa os valores da instituição e, por isso, houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da escola”, sem informar qual punição foi aplicada.
A escola ainda diz que os estudantes envolvidos participarão de uma dinâmica de mediação para restaurar as relações, conduzida por profissionais especializados. “Mais do que punir, entendemos que a escola deve proporcionar aos seus alunos a possibilidade de reflexão sobre as próprias atitudes, bem como sobre os seus impactos no próximo e em toda a sociedade”.
O Farroupilha ainda diz que já desenvolve, no currículo escolar, ações e projetos de promoção da boa convivência vinculados à sua Matriz Socioemocional. “Nesse sentido, a escola está atuante e comprometida no fortalecimento de suas práticas pedagógicas, com o intuito de constituir um contexto cada vez mais potente para a formação ética dos estudantes em todos os níveis de ensino”.
Veja a nota à comunidade do Colégio Israelita Brasileiro:
“Em relação ao conteúdo do vídeo divulgado por os alunos desta instituição, de grande repercussão na sociedade, informamos que o Conselho Técnico do Colégio Israelita Brasileiro se reuniu e, em conjunto com a diretoria da Mantenedora e de acordo com os parâmetros estabelecidos no Regimento Escolar, determinou o afastamento dos estudantes até o final do ano letivo vigente, além do estabelecimento de um conjunto de medidas socioeducativas, que serão implementadas imediatamente e monitoradas de forma permanente. Os vários procedimentos restaurativos impostos aos alunos foram resultado de um profundo processo de análise e reflexão que mobilizou profissionais capacitados e alinhados com nossa filosofia educacional.
O CIB, ciente da gravidade do episódio, mesmo que tenha ocorrido fora do espaço escolar e do horário letivo, de imediato reforça e amplia seu projeto educacional pautado em valores constitutivos da comunidade judaica, como a Tzedaká (solidariedade) e o Tikun Olam (responsabilidade por consertar o mundo).
Reafirmamos também que não nos furtaremos ao nosso objetivo primordial: formar seres humanos integrais capazes de contribuir positivamente na evolução da sociedade. Somos um espaço de desenvolvimento e entendemos que, em conjunto com pais e responsáveis, temos o compromisso de perseverar praticando os valores que nos definem, garantindo espaço para a convivência democrática com a diferença, valorizando a generosidade, a pluralidade e o diálogo.
O CIB agradece as inúmeras manifestações de solidariedade e confiança que recebeu nos últimos dias.”