Todos os dias, diretores e professores que fazem a gestão nas escolas estaduais da rede pública em Santa Maria se desdobram para resolver problemas. Um deles é a distorção entre a idade da criança e a série em que ela deveria estar.
Na Escola Estadual de Ensino Fundamental General Gomes Carneiro, 63% dos 500 alunos configuram casos de distorção conforme o senso escolar. Segundo a diretora Tânia Elizabeth Martins Leão, o problema começa nos primeiros anos escolares. É que as escolas não podem reprovar os alunos nos três primeiros anos das séries iniciais – o chamado ciclo de alfabetização.
De acordo com a 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE), essa é uma orientação do Ministério da Educação (MEC) às Secretarias Estaduais de Educação e foi incorporada nos regimentos das escolas. A professora Danizete Zacarias Silva, coordenadora pedagógica da 8ª CRE, explica:
“Eu sou alfabetizadora há anos e a gente sabe que as crianças têm os tempos diferentes. Muitas vezes as crianças chegam até a escola já alfabetizadas, mas há aquelas crianças que têm mais dificuldade”, diz. “O aluno não precisa ser alfabetizado no primeiro ano, então ele não vai ser retido no primeiro ano. Ele tem a possibilidade de ir até o terceiro ano. Pedagogicamente, a criança teria de estar progredindo”, diz.
Mas, na prática, nem sempre é isso que ocorre. Não reprovar faz com que alunos com dificuldade de aprendizagem cheguem ao terceiro ano, mas repitam nesse e em anos seguintes por uma ou mais vezes, o que gera as distorções.
Soluções
Conforme a diretora Tânia, o aluno deveria ser acompanhado por um professor de apoio. Assim, seria possível solucionar o problema da defasagem no aprendizado.
“Muitas vezes o aluno passa de um ano para o outro com defasagem no aprendizado. Daí, nós precisaríamos de um professor de apoio, que é aquele que vai fazer uma revisão com o aluno em relação à sua defasagem no aprendizado. Este ano nós não tivemos o professor de apoio”.
Outra possibilidade de solução, prevista na Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, é a aceleração. A correção é feita por meio do avanço dos alunos para as séries indicadas à idade deles. A coordenadora da 8ª CRE, Danizete, explica o que é a aceleração.
“Você detecta o problema: o aluno chega, está com uma distorção idade/série e já reprovou duas, três vezes em uma série. Então ele está com uma idade avançada. A gente sabe que isso acarreta uma série de problemas psicológicos, de estímulo do aluno”, diz. “Então, além do estudo pedagógico, de avaliação do aluno, se faz um conselho de professor e então se avança esse aluno”.
Aí, você pode dizer “certo, a distorção foi corrigida”. Mas e o aprendizado?”
Para a 8ª CRE, cabe à escola tentar recuperar com o aluno. Já a escola diz que para resolver o problema precisa de um profissional que reforce o aprendizado nos primeiros anos. A diretora Tânia reitera a necessidade do professor de apoio para sanar a dificuldade de aprendizagem do aluno.
“Quando ele avança, para o ano certo de acordo com a idade, ocorre a dificuldade da aprendizagem”, afirma. “Com a aceleração, se corrige a idade, ele vai para a mesma faixa etária, mas ele ainda se sente rejeitado porque ele não consegue acompanhar o conteúdo. A aceleração a gente pode fazer, mas precisamos do apoio de professores”.
Ao questionário do Ministério Público (MP), dentro do programa Ministério Público pela Educação (MPEduc), 28 das 102 escolas responderam que enfrentam falta de professores
Série de reportagens
A série de reportagens é uma iniciativa integrada entre a Rádio Gaúcha SM, Diário de Santa Maria (com a repórter Lizie Antonello) e RBS TV (com o repórter Tiago Guedes). Serão sete reportagens abordado sete aspectos diferentes da educação em Santa Maria.
Acesse, aqui, a primeira reportagem da série.