Saber como as coisas vão se comportar no espaço não exige mais viajar para fora da Terra. Cientistas da PUCRS conseguiram criar um pedacinho do cosmos ali na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre.
O equipamento, chamado Bioesfera Magnética Submersa (BEMS), foi desenvolvido a partir da percepção dos pesquisadores Paulo Roberto Franco e João Ernandes Silveira Vieira de que estudar como as coisas se comportam fora da face deste planeta seria uma tendência. A invenção acaba de ter uma patente concedida nos Estados Unidos, depois de quase 10 anos de pesquisas.
Em 2005, quando começaram a trabalhar no projeto, chineses já mostravam efeitos em sementes e ovos incubados em uma estação espacial. Inventar uma forma de simular o cosmos aqui na Terra é também uma solução para evitar os altos custos de se fazer pesquisa tendo de viajar atmosfera afora. Só o combustível para levar 1 kg de alguma coisa para o espaço custa cerca de US$ 20 mil.
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Foi buscando essa solução que o BEMS saiu do papel. Duas inovações foram as responsáveis pela concessão da patente: estabilização corpuscular e estaiamento magnético. São os processos responsáveis por estabilizar a matéria.
A estabilização corpuscular é uma forma de anular as acelerações devido as rotações da Terra - a que faz um giro completo no próprio eixo dura 24 horas e é a mais famosa delas.
Já o estaiamento magnético é uma forma de estabilizar os elétrons (spins) dos corpos experimentados no BEMS. O campo magnético que há ao redor do planeta nos protege das radiações Alfa, Beta e Gama irradiadas pelo sol. Devido a essa proteção, foi possível a vida na superfície da Terra.
- Esse campo varia conforme o local na Terra. Somos a primeira universidade que conseguiu estabilizar a matéria em dois aspectos: corpuscular e em relação a estrutura dos átomos - afirma Vieira.
Além de proporcionar uma germinação mais rápida para sementes, que crescem mais e ficam geneticamente mais protegidas à contaminação de bactérias nesse ambiente, o BEMS pode contribuir para o melhoramento de espécies aquáticas, crescimentos de cristais de proteína aplicados a fármacos e de células-tronco, reestruturações de cadeias de carbono, entre outros.
Também se pretende estudar o comportamento de vegetais nesse ambiente para futuras plantações no espaço, que podem ser uma maneira de lidar com as mudanças climáticas, transformando gás carbônico em oxigênio.
- É uma forma de aproximar a física clássica da física quântica. Conseguimos compilar esses conhecimentos para criar uma solução nova - resume Vieira.
O próximo passo é descobrir por que essas alterações ocorrem.
Como funciona o BEMS
Para simular o cosmos, o equipamento gera um campo magnético com a mesma intensidade em todos os sentidos e estabiliza a matéria que está dentro da esfera de vidro e que pela rotação dos dois eixos anula a gravidade.
O eppendorf (tubo plástico usado em laboratórios para armazenar amostras) no centro da esfera fica parado, como se estivesse no espaço, embora o equipamento esteja girando em torno do próprio eixo.
Além de ajudar a descobrir como os diferentes tipos de amostras (sementes, células-tronco, carbono, entre outras) se comportariam no cosmos, a estrutura permite entender os efeitos dos campos magnéticos da Terra em nível molecular.
Uma versão maior (dentro de uma piscina) está sendo planejada, com uma esfera capaz de receber uma pessoa. Assim, será possível fazer análises médicas nesse ambiente.