Quando optou por cursar licenciatura em Pedagogia, Julia Pedroni, 25 anos, também decidiu luta pela valorização da profissão. É assim que a estudante define o momento da educação no Brasil e como vê o papel dos professores daqui pra frente.
No Dia Internacional da Educação, comemorado nesta sexta-feira (24), a estudante observa a docência como uma luta por melhores condições de trabalho:
— Não é fácil lutar. É cansativo, ainda mais diante das precárias condições de trabalho que passamos. Além disso, também é o silenciamento da voz docente, seja pelo corpo social, pelas apostilas ou livros didáticos ou pelos poderes públicos e privados. O trabalho do professor é constantemente controlado. Que conteúdos a gente pode trabalhar ou não? Que assuntos podemos discutir em sala de aula ou não?
Diferentemente de quando escolas de Ensino Médio ofereciam Magistério, mais comum até os anos 2000, os cursos de licenciatura sofrem hoje com o desinteresse por parte dos vestibulandos. Para tentar solucionar o problema, os governos Federal e Estadual lançam programas como o Mais Professores e o Professor do Amanhã, em que oferecem bolsas salário ou bolsas de estudo aos interessados em ser professor.
— Assumir a docência é assumir uma luta, é assumir remar contra maré. Há também a responsabilidade com os pais, com a inclusão, com o calendário escolar, com a insegurança alimentar ou violência familiar, e isso são alguns exemplos dos vários atravessamentos que permeiam o cotidiano escolar e que são colocados nas mãos dos professores, mesmo que grande parte deles seja a responsabilidade de órgãos públicos e de outros profissionais — resume Julia.
Os desafios da docência se traduzem nos dados que já são realidade em todo o país. Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirma que a formação atual já é insuficiente para a demanda necessária. De acordo com o estudo “Carência de professores na Educação Básica”, divulgado em 2023, as áreas mais críticas no país são Física, línguas estrangeiras, Artes e Matemática. O mesmo problema foi apontado por pesquisa do Instituto Semesp, de 2022, que diz que o déficit de professores na Educação Básica pode chegar a 235 mil em 2040.
Para a estudante e futura professora, o cenário atual já é um desmotivador para quem ainda pensa em cursar licenciatura:
— Olhar o cenário educacional brasileiro hoje é entender que essa luta continua e que não vai mudar tão cedo. O novo Ensino Médio, a falta de infraestrutura e obras paradas em escolas no município que interditam as escolas e impedem o processo educativo não são cenários de muita esperança, é um cenário de luta, de nos unirmos em busca de mudanças — avalia.
Cenário de mudanças e incertezas para a docência
As mudanças na sociedade, que se refletem diretamente nos processos educativos, são incertezas e desafios que precisarão ser enfrentados pelos professores do futuro. É assim que Lucas Ramos, formando em licenciatura em Química pela Universidade de Caxias do Sul vê o futuro e o presente da educação.
— A gente tem passado por grandes mudanças. Essa revolução tecnológica que nós embarcamos, depois veio a pandemia que nos revelou muita coisa, que a educação não precisava ser daquela forma que a gente achava que deveria ser — reflete.
Para Ramos, tentar imaginar o futuro da educação é como um "tiro no escuro":
— Se você me perguntasse alguns anos atrás o que eu achava do uso do celular em sala de aula, com certeza eu responderia que acho importante. E já hoje penso diferente, acho que a gente tem que ter políticas mais severas quanto ao uso. A gente não sabe para onde está indo, está tateando, né? A gente está construindo junto enquanto sociedade.
Num cenário de incertezas, segundo o estudante, o que pode afastar jovens da docência é a mudança de tratamento ao professor em sala de aula.
— Há esse descolamento da figura do professor que a gente tinha antigamente, que o professor era o ser principal dentro de uma sala de aula. Hoje em dia, não pensamos mais assim enquanto sociedade. Não dá para dizer que isso é uma desvalorização da figura professor pela sociedade, mas, ao mesmo tempo, pode ser que seja — especula.
Inspiração que vem de família
Aos 19 anos, Giordana Maschio Lorenzi acompanha desde sempre a figura do professor dentro de casa. Filha e sobrinha-neta de professoras, a decisão de estudar Pedagogia foi natural.
— Eu acredito que grande parte do amor que eu tenho pela licenciatura foi construído dentro de casa, observando elas, as minhas duas inspirações — relembra Giordana.
A decisão foi tomada em 2021, quando atuou como jovem aprendiz no Colégio Madre Imilda. Como auxiliar de coordenação, teve contato com as crianças e percebeu que era o desejo para a vida:
— Aprendi coisas que vão muito além de uma formação profissional. Tive contato com as crianças nos momentos de intervalo e presenciei muitas situações nas quais o ensino, repleto de carinho e cuidado, se fazia presente. Ali eu relembrei aquilo que eu sempre admirei dentro de casa e tive a certeza de que eu gostaria de trilhar o mesmo caminho que elas, mas agora com os meus passos e aprendizados.
Com exemplos que vieram de casa, Giordana projeta uma educação com respeito e humanidade.
— Espero uma educação humanitária, preocupada em criar relações de respeito mútuo, moldada em valores e preocupada com as questões ambientais e sociais — resume.