Saber se vai fazer sol, ficar nublado ou cair uma chuva de granizo no fim da tarde não é um trabalho baseado no achismo. Tarefa do meteorologista, a previsão do tempo interfere diretamente no dia a dia das pessoas - às vezes, eventos são cancelados e viagens desmarcadas se a tendência é de instabilidade. Por ser mais conhecida do público, essa pequena faceta da profissão costuma gerar equívocos quando os assuntos são a graduação em meteorologia e a atuação desse profissional no mercado de trabalho. Para os professores, o erro mais comum é achar que o curso está ligado às ciências humanas.
- No Ensino Médio, meteorologia é ensinada junto a geografia. Isso causa confusão - afirma Everson Dal Piva, coordenador do curso na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Em vídeo, alunos da UFPel que formam o grupo Capincho Cumulus registram diferentes fenômenos
Contrariando a expectativa de alguns, o perfil do estudante tem três características básicas: gosto pela matemática e pela física, além de curiosidade sobre os fenômenos da natureza. Logo nos primeiros semestres, o currículo apresenta a maior parte das cadeiras voltadas a números e fórmulas - o que espanta os alunos.
- Há estudantes que chegam pensando de forma errada sobre o curso e acabam desistindo.
Temos tantas cadeiras de cálculo quanto algumas engenharias - diz Marcelo Felix Alonso, coordenador do curso na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
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Cursando o terceiro semestre na UFSM, Murilo Machado Lopes, 18 anos, diz que a escolha pela meteorologia ocorreu justamente por, desde a época da escola, gostar de observar fenômenos como os temporais de granizo. O jovem também tem bastante afinidade com as exatas.
- Eu já registrava, em fotos e filmagens, formações de nuvens, geadas e nevoreiros. Foi uma escolha natural - conta.
E se alguém curte a parte relativa à natureza, mas detesta os números, o estudante Luciano Ritter Nolasco Júnior, 22 anos, da UFPel, avisa:
- Matemática e física são a base de tudo. Não tem como fugir.
Na lavoura e na saúde das pessoas
Distribuídas em nove Estados, 11 universidades brasileiras oferecem o curso de graduação em meteorologia. No Rio Grande do Sul, são UFSM e UFPel. O professor Everson Dal Piva ressalta que o aumento de cursos disponíveis nos últimos anos no país (três novos desde 2010) aponta para uma valorização da profissão.
- A sociedade está cada vez mais reconhecendo a importância desses profissionais -avalia.
A desconstrução da ideia de que o meteorologista só prevê o tempo contribui para a área ganhar visibilidade. Ajudar nesse processo é um dos papéis do curso, apresentando aos alunos diferentes linhas de estudo. Entre as mais curiosas estão a micrometeorologia, que foca nos fenômenos de pequena escala próximos à superfície - como os redemoinhos de dias ventosos - e a biometeorologia, com ênfase na influência das variáveis meteorológicas na saúde das pessoas. Há também a interferência dos fatores de tempo e clima na agricultura, integrando a agrometeorologia.
- São áreas que muitos desconhecem, mas que o meteorologista está envolvido. Na faculdade, ensinamos para os alunos que esse trabalho também afeta a vida da população. É necessário responsabilidade - diz o professor Marcelo Felix Alonso.
Por meio de concursos, o meteorologista pode atuar em locais como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) - o último está com processo de seleção aberto. Entre as instituições privadas do ramo, estão a Somar, a Climatempo e a Metsul, que oferecem serviços como previsão, monitoramento e consultoria. O professor destaca também a atuação nos aeroportos, além da própria área acadêmica:
- Pode-se atuar, por exemplo, especificamente com poluição atmosférica. Dentro da área de previsão do tempo, também podemos destacar a importância do meteorologista nos aeroportos, controlando as condições atmosféricas para pousos e decolagens.
Graduado pela UFPel em 2007, Gabriel Bonow Munchow, 29 anos, terminou a faculdade e engatou o mestrado no Inpe, em São Paulo, com foco na poluição atmosférica. Hoje, trabalha no Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM), ligado à UFRGS. Suas tarefas envolvem coleta e análise de dados e pesquisa.
- Por não gostar de previsão do tempo, nem cogitei entrar para essa área - relata.
Em vias de se formar, o estudante Luciano Ritter Nolasco Júnior, 22 anos, tomou a decisão de seguir o caminho da pesquisa.
- Me formo no fim do ano e já quero engatar o mestrado. É a área que eu mais me interesso - diz o jovem natural de Jaguarão.
Nome famoso no Estado, o homem do tempo da Rádio Gaúcha, Cléo Kuhn _ que também trabalha no 8º distrito do Inmet -, alerta os novatos: o mercado de trabalho é dependente dos concursos públicos.
- As empresas privadas contratam pouco e há muita previsão de graça na internet. Fugir da área pública é difícil - avalia.
Quando a previsão falha
A informação dada pelo meteorologista é de que, à tarde, terá chuva intensa. Mas quando passa das 13h, abre sol. Esse tipo de inconstância na previsão ocorre porque as equações que regem a atmosfera são complexas. Segundo o professor Marcelo Felix Alonso, da UFPel, para chegar a uma resposta sobre como o tempo ficará são utilizados modelos numéricos, nos quais se inserem uma série de simplificações e o conhecimento do estado atual da atmosfera, mediante as informações do monitoramento.
- Nesse processo, podem ocorrer erros ou interpretações equivocadas - ressalta.
Em busca de uma conclusão precisa, os profissionais se valem de diferentes fatores. Cálculos, interpretação de dados de estações meteorológicas, experiência profissional e conhecimento da climatologia do local são os pontos principais. Todo esse conjunto pode levar a opiniões diferentes.
- O conhecimento do lugar é muito importante. As previsões feitas por empresas que estão no local são geralmente mais confiáveis - relata o professor Everson Dal Piva, da UFSM.
Os especialistas destacam que a previsão para o dia seguinte é sempre mais certeira - com 90% de chance de acerto. Quanto mais distante, mais fácil de errar. Para 72 horas, a probalidade de passar a informação certa já é menor, de 70%.
SOBRE O CURSO
As universidades gaúchas UFPel e UFSM são as únicas no Estado que oferecem a graduação em meteorologia. Confira mais sobre os cursos em ufpel.edu.br/meteorologia e ufsm.br/meteorologia.
Com quatro anos de duração, o curso tem aulas pela manhã e à tarde tanto na UFPel quanto na UFSM. O ingresso em ambas as faculdades se dá principalmente pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos dois locais, há parte das vagas destinadas a programas de seleção especiais.
Na UFPel, funciona o Programa de Avaliação da Vida Escolar, enquanto em Santa Maria uma parcela ainda é destinada ao Processo Seletivo Seriado, que está no fim devido à adoção do Enem pela instituição.
No currículo, há um mix de cadeiras voltadas à matemática e à física, além das disciplinas específicas do curso. Entre as aulas curiosas, está a hidrometeorologia, que estuda os fenômenos ligados ao ciclo hidrológico, e o sensoriamento remoto da atmosfera, que tem como foco a utilização das informações de satélites e radares.
Bacharel e técnico
Para trabalhar na área meteorológica, o caminho não é apenas a graduação. Há também o curso técnico - que não tem oferta no Estado. Veja a diferença abaixo.
Técnico em meteorologia
É o profissional que dá suporte ao meteorologista graduado. Pode atuar na coleta de dados e na operação de equipamentos e ferramentas do ramo.
Bacharel em meteorologia
É responsável pela coleta, leitura e interpretação dos dados disponíveis. Atua na investigação, na pesquisa e na avaliação das condições atmosféricas.
Clima é sinônimo de tempo?
Os termos tempo e clima causam confusão. Muitas vezes usados como sinônimos, há diferença entre eles quando o assunto é previsão meteorológica.
Previsão do tempo se refere ao estado da atmosfera em determinado momento, indicando se vai fazer chuva, sol ou ficar nublado no dia, por exemplo.
Já o clima é relativo a um período maior e com características específicas, como uma estação. Saber se o verão será de altas temperturas e calor intenso se encaixa nesse tipo de previsão.
Nas universidades do RS
Distribuídas em nove Estados, apenas 11 universidades brasileiras oferecem o curso de graduação em meteorologia.
Com início das atividades em 1979, o curso em Pelotas disponibiliza 70 vagas por ano e está entre os mais antigos do país.
A UFSM criou a graduação em 2004, e aumentou número de vagas anuaisoferecidas, passando, em 2012, de 16 para 20.