O número de alunos que consome a merenda nas escolas do Rio Grande do Sul todos os dias supera um milhão. Somente na rede estadual de ensino, são servidas 950 mil refeições diárias. Se considerados os colégios municipais, o número aumenta: apenas em Porto Alegre, são 60 mil refeições por dia.
Para muitos alunos de famílias de baixa renda, a merenda é a única ou a mais importante refeição do dia. A situação é comum no Bairro Umbu, em Alvorada. Na Escola de Ensino Fundamental Normélio Barcelos, 70% dos estudantes consomem a merenda, o índice mais alto da rede municipal.
É lá que estudam uma filha e uma neta da cozinheira Virgínia Rodrigues Silva, de 50 anos. O salário de R$ 900 reais é a única renda da casa onde vivem mais seis pessoas. Para Virgínia, é difícil imaginar a vida da família sem a merenda escolar.
"Bem difícil, bem difícil mesmo. Claro, a gente dá um jeito, né? Mas a da escola tá me ajudando muito. É uma refeição que, sinceramente, eu não tenho em casa às vezes. Ontem foi um dia que eu não tinha, entendeu? Pra mim é gratificante eles aqui nessa escola", relata.
A situação da família de Adriana da Silva, 40 anos, é semelhante. Ela vive próximo da escola no bairro Umbu, em Alvorada, também com outras seis pessoas, quatro delas crianças. A renda da casa é variável e vem da reciclagem e do Bolsa Família.
"Como tem merenda no colégio eu... pra mim, eu dou graças a Deus, porque tem vezes que a gente não tem tempo para fazer comida e de repente até não tem o que fazer, como aconteceu já várias vezes comigo, daí a gente manda pro colégio pra almoçar", conta Adriana.
Consumo aumenta na segunda-feira
A diretora da Escola Normélio Barcelos, Maristela Acosta Ferreira, é professora da escola há 22 anos. Ela observa que o consumo de alimentos aumenta nas segundas e sextas-feiras; muitas vezes, nos finais de semana, os alunos têm pouco o que comer em casa. Durante a semana, é comum ver mães trazendo filhos que não estudam na escola para almoçar.
"Às vezes tu fica com pena, principalmente à tarde, quando tem o almoço da tarde. O pessoal chega mais ou menos às 12h40. Então elas (as mães) vão colocando um outro junto na fila, uma criança menor, uma que não é aluno da escola", conta.
Situação em Porto Alegre
Há relatos semelhantes no bairro Partenon, em Porto Alegre. Três dos quatro filhos da atendente de loja Míriam Santos da Silva, de 34 anos, estudam na Escola de Ensino Fundamental Marcírio Goulart Loureiro. Ela veio da Argentina há oito anos e mantém os filhos com um salário mínimo e o Bolsa Família. Às vezes, faz faxina para complementar a renda, principalmente no período de férias escolares, quando as crianças não recebem a merenda.
"Ah, muito apertado... Nossa! Muito apertado. Eu, por exemplo, sou uma mãe viúva, eu tenho quatro. Eu trabalho o dia todo. O que eu posso eu deixo preparado para os meus filhos. Mas se eles estão na escola, se não tinha lanche eles iam ficar com fome", comenta.
Veja neste link um modelo de cardápio oferecido nas escolas municipais de Porto Alegre.
Importância da merenda
A coordenadora da Divisão de Alimentação Escolar da Secretaria de Educação do Estado, nutricionista Sandra Pinho, destaca que a merenda escolar tem um caráter pedagógico. Como oferece refeições balanceadas, que inclui itens de todos os grupos de alimentos, como as frutas, ensina as crianças a terem bons hábitos alimentares. Sandra Pinho ressalta, ainda, o papel da merenda no aprendizado.
"Nós percebemos que a criança, quando ela está bem alimentada, com alimentos nutricionalmente corretos para atender as necessidades, conforme a faixa etária, ela aprende com muito mais facilidade".
Merenda é direito de todos
A lei garante o direito à merenda na rede pública de ensino desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos. O benefício compreende café da manhã, almoço, jantar e lanches da manhã e tarde.
A alimentação escolar é custeada por recursos do governo federal, mas têm contrapartida de prefeituras e governo do Estado. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação repassa R$ 0,30 por aluno ao dia.
Para as creches e escolas das comunidades Indígenas e Quilombolas, o repasse é de R$ 0,60 por aluno ao dia. As escolas que aderem ao Programa Mais Educação, recebem R$ 0,90 por dia para os alunos que participarem do programa.
Confira neste link o total repassado pelo governo federal ao seu município.