Recém-anunciado pela Caixa Econômica Federal, o aumento do juro do financiamento imobiliário começa a ser seguido por outros bancos. Na terça-feira (7), a instituição pública confirmou que as taxas subiram de um a dois pontos percentuais na modalidade que financia imóveis com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Com o reajuste, os juros da linha de crédito corrigida pela Taxa Referencial (TR) ficam entre TR mais 10,99% e 12% ao ano. Até o fim de 2024, estavam de TR mais 8,99% a 9,99%. As regras valem desde 2 de janeiro.
Levantamento de Zero Hora aponta movimento parecido em pelo menos outras duas instituições financeiras. As mudanças ocorrem em um cenário em que a busca por crédito ocorre acima do fundo disponível para essas operações.
O Itaú Unibanco confirmou, nesta quarta-feira (8), que a taxa para crédito imobiliário com taxa de juros pré-fixada no sistema de amortização constante (SAC), modelo no qual a prestação cai ao longo do tempo, subirá um ponto percentual a partir de quinta-feira (9) na instituição. Com isso, o juro no Itaú sobe de 10,79% ao ano +TR para 11,79% ao ano +TR. Por meio de nota, o banco informou que tem o compromisso de manter taxas competitivas no mercado para suprir as necessidades dos clientes.
"Nesse sentido, toda vez que algum movimento importante ou mudança de tendência acontece, nos empenhamos para entregar as melhores condições, levando em conta o perfil de cada cliente e seu relacionamento com o banco", destacou o Itaú em nota.
O Banco do Brasil informou, por meio de comunicado, que as taxas iniciais para as operações com recursos de poupança na casa foram atualizadas para 11,89% ao ano + TR, também em 2 de janeiro. Em dezembro, essa mesma taxa estava em 11,29% ao ano + TR. Ou seja, apresentou alta de 0,6 ponto percentual desde então.
O diretor-executivo da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Filipe Pontual, destaca que os recursos da poupança para financiamento de imóveis estão superutilizados. Com isso, a necessidade de usar outras formas de fundo, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), que são mais restritas, encarece o processo de financiamento. Com essa limitação, as instituições adotam estratégias para conseguir atender a demanda por crédito imobiliário, segundo o executivo.
— Com o tempo, cada banco, cada associado nosso vai fazendo um mix que achar razoável entre ajustar um pouco a taxa de juros e, eventualmente, ajustar um pouco as condições, por exemplo, de quanto se pede de entrada para quem busca financiamento.
As taxas informadas pelos bancos são taxas iniciais. O patamar pode variar de acordo com diversos fatores, como perfil do cliente, renda e relação do mesmo com o banco.
Outros bancos
O Banrisul informou que, no momento, "não pretende alterar as taxas de juros do crédito imobiliário". Desde outubro, o banco mantém a suspensão temporária de novas operações de crédito imobiliário, com exceção de imóveis em prédios financiados pela instituição e para imóveis vendidos pelo próprio Banrisul em leilões. O banco gaúcho justifica a medida "diante do atual cenário no mercado de crédito imobiliário, com escassez de funding decorrente da captação negativa da caderneta de poupança que vem se verificando nos últimos anos e a necessidade do Banrisul no atendimento ao direcionamento dos recursos de poupança".
A reportagem de Zero Hora também entrou em contato com Bradesco e Santander, mas não obteve retorno até as 17h desta quarta-feira.
Freio na demanda
Esse é o segundo endurecimento da Caixa no âmbito do financiamento imobiliário com recursos da poupança. Em novembro, o banco público aumentou o valor da entrada e diminuiu o total financiado para compra de unidades via SBPE. Na prática, o banco tenta controlar os valores de concessão de crédito habitacional em um ambiente em que a demanda está mais aquecida do que o fundo disponível. Esse problema de financiamento também afeta bancos de varejo e de economia mista. No caso do SBPE, o cenário é ainda mais complexo com a fuga de valores da poupança diante da Selic em alta.
Com essas restrições no crédito imobiliário, seja pelas mudanças nas regras de entrada ou pelo juro mais elevado, a tendência é de freio na busca por financiamento imobiliário. Isso ocorre porque o número de potenciais compradores diminui com um ambiente de aperto na liberação de recursos.