Protagonista das celebrações, o espumante ganha as taças no final do ano em brindes entre amigos, familiares e em ambientes corporativos. A bebida borbulhante representa uma parcela considerável no faturamento das vinícolas da região e registrou crescimento de 5% nas vendas até setembro, na comparação com o mesmo período de 2023, segundo estimativa da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).
Para a reta final de 2024, as expectativas de avanço são ainda melhores e há uma explicação: os meses de outubro, novembro e dezembro concentram cerca de 40% das comercializações do ano, de acordo com a entidade. Preferido pelo paladar dos brasileiros e considerado a porta de entrada para a bebida, o moscatel registrou crescimento de 40% nas vendas no Estado. Por outro lado, os tipos brut, extra brut e nature apresentaram queda de 12%, conforme dados disponibilizados pela Uvibra.
— O brasileiro tem o paladar um pouco mais voltado para espumantes mais adocicados, por isso a preferência pelos moscatéis — enfatiza o presidente da entidade e diretor da vinícola Don Giovanni, Daniel Panizzi.
À frente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Ronaldo Zorzi também revela um otimismo para o setor local. A entidade, que completa três décadas em 2025, é formada por 30 vinícolas do Vale dos Vinhedos. O presidente prevê um avanço de 10% no comparativo com 2023.
— Há um aquecimento no consumo deste tipo de produto, sobretudo no período de fim de ano, somado a um incremento na variedade de ofertas de rótulos por parte das marcas, ampliando seu portfólio para melhor atender a diferentes perfis de público. Combinado à condição diferenciada que os espumantes elaborados no Vale dos Vinhedos representam, são indicadores que nos permitem antever um cenário positivo nos negócios — aponta Zorzi.
Bebida lidera vendas em vinícola de Garibaldi
A Cooperativa Vinícola Garibaldi envasa entre 60 mil e 65 mil garrafas de espumante por dia. A bebida, inclusive, representa cerca de 50% do faturamento da marca e lidera as vendas no último trimestre, segundo o presidente Oscar Ló. Para este ano, as comercializações devem ter incremento de pelo menos 10% em relação a 2023.
— Há um bom tempo o nosso foco está contemplando a elaboração de espumantes. Há um trabalho muito forte na reconversão de vinhedos com os cooperados de produzir uvas específicas para espumante — acrescenta Ló, mencionando investimentos na linha de produção e na estocagem para atender a demanda.
Além do mercado nacional, com destaque para os Estados da Região Sul, a vinícola da Serra destina garrafas para países como Estados Unidos, Uruguai e Chile.
Seguindo a preferência nacional, os moscatéis são os espumantes que concentram maior venda na Garibaldi. Ló observa, contudo, que os produtos sem álcool também têm ficado em evidência na hora da compra:
— Os volumes ainda são pequenos, mas existe um apelo e um crescimento, sim. Notamos que o consumidor está aberto para novos produtos, produtos diferenciados — comenta o presidente.
Mudança no comportamento do consumidor
Localizada no Vale dos Vinhedos, no limite entre Bento Gonçalves e Garibaldi, a Vinícola Amitié observa uma mudança no comportamento de quem aprecia os espumantes. Para as sócias Juciane Casagrande e Andreia Gentilini, a bebida deixou de simbolizar apenas o momento do brinde, ocupando o protagonismo em refeições e momentos cotidianos, o que tem impacto direto na demanda pelo produto.
— Hoje, vemos o espumante na mesa de restaurantes, na beira da praia, na piscina. Podemos fazer uma refeição do início ao fim com o espumante. As pessoas aprenderam a ter esse consumo mais habitual — diz Juciane.
Outro fator comentado pela dupla é um interesse do público feminino pelas bebidas da marca, uma vez que a vinícola foi criada e é liderada por duas mulheres.
— Por ser uma vinícola de mulheres, ter o empreendedorismo feminino, isso acaba nos conectando com elas. Além disso, faz dois anos no Brasil que as mulheres passaram os homens no consumo de vinhos em geral. Não é uma porcentagem muito expressiva, mas é inédito — acrescenta Andreia.
As empresárias esperam um crescimento na casa de 15% nas comercializações no comparativo com o ano passado. Um dos motivos é a expansão da marca para os Estados do Nordeste e o fortalecimento da presença em regiões tradicionais, como o Rio de Janeiro e São Paulo. O produto representa 65% das comercializações da vinícola atualmente.
Loja especializada prevê incremento de até 25% nas vendas
Em outra ponta do mercado de bebidas, no varejo, a Boccati também comemora o incremento de vendas de espumantes brasileiros no final de ano. O avanço, em comparação ao ano passado, deve variar entre 20% e 25%, segundo o diretor Julio D’Agostini.
O crescimento expressivo não está associado apenas a uma atenção maior dos clientes para a bebida, mas também por estratégias traçadas pelo empreendimento. A loja, localizada em Caxias do Sul, reforçou o planejamento de marketing e tem investido na proposta de personalização de itens.
— Temos dado inúmeras oportunidades aos clientes, com montagem de champanheiras, de cestas, de caixas, enfim, dentro de diversas embalagens que produzimos. Além disso, fazemos divulgação na internet, que é fundamental, em prédios comerciais e em empresas. Se não for inquieto, a tendência de aumento não vai acontecer — enfatiza o diretor.
D’Agostini acrescenta que as garrafas que mais têm saída são as que têm preço entre R$ 30 e R$ 150. Para ele, também há uma mudança na preferência dos clientes da loja: até 2019, os moscatéis ganhavam maior volume na sacola dos consumidores. Hoje, os espumantes brut são os preferidos para brindar:
— O público vem evoluindo o paladar — acredita.
Dicas de harmonização para a ceia de Ano-Novo
As celebrações de final de ano são reconhecidas por reunir amigos e familiares em torno de mesas fartas. Para garantir uma boa experiência na ceia de Réveillon, a reportagem convidou o sommelier André Luís Rech para dar dicas de harmonização de pratos típicos da virada de ano com espumantes. Confira:
Lentilha
— A lentilha geralmente é feita com alguma carne de porco, com um pouco de bacon também. Então, combina mais com o espumante seco, o espumante brut. Podemos trabalhar com um brut branco que vai trazer toda essa elegância do espumante brasileiro, a refrescância. Não precisa ser um brut tão encorpado, pode ser um brut prosecco.
Carne de porco
— Como esta carne tem um pouco mais de gordura, um pouco mais de untuosidade, podemos escolher um espumante que seja um pouco mais encorpado, um espumante do método tradicional, que vai ter mais corpo, mais cremosidade, ou até mesmo um espumante brut rosé.
Mesa de doces
— Para os doces, podemos fazer dois tipos de harmonização: uma por semelhança e outra por contraste. Por semelhança, podemos indicar sempre os espumantes mais adocicados: como moscatel branco, moscatel rose e o demi-sec, que é docinho também. E, para contrastar, podemos trabalhar com extra bruts ou natures, que são espumantes mais secos, com menor quantidade de açúcar.