As obras do novo complexo aeronáutico que deve ser construído em Guaíba podem ter início no segundo semestre de 2024. A previsão foi feita pelo CEO da Aeromot Aeronaves e Motores, Guilherme Cunha, que participou nesta quarta-feira (8) do Tá na Mesa, encontro empresarial promovido pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). A diretora de operações da empresa, Cristiane Cunha, irmã de Guilherme, também esteve no evento.
A Aeromot, empresa fundada em Porto Alegre em 1967, lidera o projeto de construção do complexo, chamado de Aero Centro Integrado de Tecnologia e Inovação (AeroCITI). O termo de cessão da área de cerca de 500 hectares, anteriormente destinada a receber a fábrica da Ford no Estado, foi assinado em 2022, no Palácio Piratini.
O projeto está na fase final do processo de licenciamento junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Cunha espera que a primeira licença ambiental saia ainda neste ano, e que a licença que autoriza o início das obras seja expedida em meados de 2024.
— Considerando o prazo que a Fepam tem nos dado, é bem possível que a primeira licença, a licença prévia, saia dentro deste mês ou no mês que vem. A obra começa posterior a isso, com a segunda licença, a licença de instalação, que libera o início das obras. A gente estima que para isso demore mais cerca de seis meses, e então, depois, teríamos o início das obras no segundo semestre de 2024, ou, em uma projeção mais conservadora, no início de 2025 — afirma o CEO da Aeromot.
A obra do complexo será desenvolvida em fases. A primeira etapa, que tem projeção de conclusão em até 20 meses após o início dos trabalhos, prevê a construção da fábrica onde a Aeromot produzirá as aeronaves, em parceria com a empresa austríaca Diamond Aircraft, além de uma pista de 1,8 mil metros quadrados. Nesta fase, a Aeromot projeta investimento de R$ 300 milhões e geração de cerca de 1,5 mil empregos diretos e indiretos.
Nas próximas fases do projeto, a empresa espera agregar novas estruturas ao complexo, incluindo um hub de inovação, com objetivo de desenvolver novas tecnologias sustentáveis para o segmento, um centro de treinamento, para reforçar a formação de profissionais, um parque industrial e logístico, para atrair novas empresas, e até um porto fluvial. Com o empreendimento finalizado, Cunha estima que até 5 mil pessoas deverão trabalhar no local.
— O projeto começa com a fábrica como âncora da estrutura inicial, mas estamos trabalhando com o conceito de "Aerotrópole", então o complexo vai ser ampliado, com uma integração multimodal à região, e assim deveremos ter novas empresas se instalando. O investimento, considerando até os próximos 10 anos, deve chegar a um montante entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões — complementa Guilherme Cunha.
Início da produção será em Porto Alegre
A produção das aeronaves em solo gaúcho começará antes do término das obras da nova fábrica em Guaíba. Por isso, a montagem dos aviões previstos no acordo com a Diamond será inicialmente realizada em uma estrutura provisória dentro do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, chamada de "fábrica ponte", que deverá ser concluída até o final do primeiro semestre do próximo ano. A Aeromot já tem uma operação dentro do aeroporto da Capital, além de uma sede administrativa na Avenida Sertório.
No início de 2024, uma comitiva de cerca de 30 funcionários da Aeromot vai ao Canadá, onde a Diamond tem uma de suas plantas de produção, para receber um treinamento por aproximadamente quatro meses. No retorno, virá também uma comitiva canadense da Diamond a Porto Alegre, para auxiliar no período inicial da montagem das aeronaves.
O início da produção dos aviões na Capital, portanto, está previsto para o segundo semestre de 2024, e a entrega das primeiras aeronaves, para o início de 2025. No Salgado Filho, a Aeromot projeta capacidade para produzir cerca de 30 aeronaves por ano, enquanto na fábrica em Guaíba, para onde toda a produção será transferida, o número de aviões produzidos anualmente deverá ficar entre 80 e cem.
— Não temos como esperar a conclusão da construção da fábrica em Guaíba, porque já temos três anos de produção vendida, com cerca de cem aeronaves encomendadas para entregar — ressalta o CEO.
A Diamond tem outras três plantas de produção no mundo, localizadas no Canadá, na China e na Rússia. As encomendas iniciais da produção no Rio Grande do Sul são todas para o mercado nacional, mas, em um segundo momento, a planta gaúcha também deve abastecer o mercado sul-americano.
O avião gaúcho
A aeronave que será produzida pela Aeromot no Rio Grande do Sul será o modelo DA62, da Diamond. É um avião bimotor, com capacidade para sete lugares, incluindo o assento do piloto. Conforme a Aeromot, a aeronave consome até 60% menos combustível do que os concorrentes da categoria.
O preço de venda da aeronave varia entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões. O público-alvo principal são usuários da chamada aviação executiva, ou seja, empresários, principalmente, no Brasil e no Rio Grande do Sul, ligados ao agronegócio, com atuação em regiões não abastecidas pela malha aérea comercial.
No Brasil, a Aeromot já atuava como representante comercial da Diamond. Hoje, informa a companhia, há cerca de 50 aeronaves DA62 voando no país.
Produção: Mathias Boni