Os três principais setores da economia do Rio Grande do Sul seguem no azul neste ano, mas mostram sinais de desaceleração. No agregado de janeiro a outubro, serviços e comércio seguem com maior avanço no Estado ante o mesmo período do ano passado. Mesmo com avanço menor em relação aos demais setores, a indústria garante resultado positivo diante de certa estabilidade no ano. Os dados fazem parte de pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas nos últimos dias.
Motor da economia do país e um dos maiores empregadores, o setor de serviços continua liderando em termos de volume de crescimento. Mesmo com queda em outubro, mês com dados mais recentes, esse segmento acumula alta de 11,8% no ano no Estado. Na separação por grupos, serviços prestados às famílias (29,8%), que contempla algumas áreas como a de bares e restaurantes, carrega a maior variação no período.
Comparando o desempenho de serviços com o acumulado de 2021 no mesmo período, os números mostram desaceleração (veja mais abaixo). A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que esse movimento ocorre diante de uma acomodação:
— Durante certo tempo, a recuperação do setor ocorreu em cima de uma base muito baixa. Tem muito efeito estatístico nesse processo. À medida que vamos alcançando patamares mais altos, é normal que se observe mais dificuldade em crescer.
Patrícia destaca os números da área de serviços de informação e comunicação, que agrega ramos de tecnologia. Enquanto parte dos segmentos demonstra desaceleração no acumulado do ano, esse ramo segue avançando. A economista afirma que esse processo mostra a força dos serviços de tecnologia da informação dentro das empresas no contexto atual.
Já o comércio registrou alta de 7,7% no volume de vendas no acumulado de janeiro a outubro. Os segmentos de combustíveis e lubrificantes e de tecidos, vestuários e calçados são alguns que apresentam as maiores variações dentro do varejo nesse recorte de tempo. No comércio, a perda de ritmo no avanço é observada apenas em relação ao acumulado do ano até o mês de setembro. Na comparação com o fechamento do ano nesse mesmo período em 2021, o setor mostra avanço.
A economista-chefe da Fecomércio observa que, atualmente, a dinâmica do comércio varejista está mais ligada ao consumo corrente, com a compra de bens duráveis perdendo força em um ambiente com taxas de juros ainda altas e menos apetite por esse tipo de item.
Menor crescimento é registrado na indústria
A indústria do Estado mostra o menor avanço entre os setores, crescendo 1,5% no acumulado de 2022 até o décimo mês do ano. Esse nível mostra desaceleração da produção física em relação ao volume do mesmo período do ano passado. Em outubro, o setor teve alta de 0,5%.
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que o desempenho mais tímido da indústria neste ano ocorre diante de uma base de comparação mais forte e de gargalos na cadeia de suprimentos:
— No ano passado, a gente teve uma base forte e, na comparação com este ano, tem que superar muito o crescimento do ano passado para ter um avanço mais significativo. Sem falar que a indústria ainda sente efeito da desorganização das cadeias, que afeta a produção de algumas empresas.
Para os próximos meses, a professora Maria Carolina Gullo afirma que a perda de poder aquisitivo diante de inflação e juros ainda altos pode manter a dinâmica de desaceleração da economia no Estado. Por outro lado, os meses de verão podem beneficiar serviços e comércio, dependendo desse impacto de renda.
A economista-chefe da Fecomércio destaca que é necessário observar como será a dinâmica e o uso dos programas de transferência de renda por parte das famílias — se será aplicado no pagamento de dívidas ou no consumo. Patrícia estima evolução mais tímida de serviços e comércio nos próximos meses ante o desempenho deste ano.