Após avanço mais espaçado na primeira metade do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do país registrou desaceleração no terceiro trimestre, com alta de 0,4%. Esse movimento é um esboço do ritmo da economia do país para os próximos meses, segundo especialistas, que apontam inflação e juros ainda em patamares elevados, endividamento das famílias, ambiente fiscal incerto e pé no freio nas economias ao redor do mundo como alguns dos fatores que explicam essa estimativa de desaceleração.
O professor Marcos Lélis, da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, afirma que a economia do país deverá seguir em ritmo lento nos próximos meses. Destaca que a tendência é de acomodação no crescimento após um salto expressivo causado pela recuperação que sucedeu o período mais crítico da pandemia. Ou seja, a economia do país começa a voltar para patamares normais, com alguns soluços, mas sem altas expressivas.
— Tem o setor de serviços que não vai ajudar tanto, porque não vai mais crescer sobre uma base fraca. Tem a questão das famílias, com endividamento e rendimento real baixo, e a inflação, que deve seguir relativamente alta no ano que vem. Ainda tem previsão de taxa de juros em dois dígitos, o que dificulta o consumo das famílias.
Lélis destaca que uma reversão desse cenário de estagnação em 2023 depende de uma série de fatores, como o destravamento do investimento público. Como isso não costuma ocorrer nos primeiros meses do ano, o professor da Unisinos estima um primeiro semestre marcado por economia em ritmo lento. Uma mudança nesse quadro pode ocorrer na reta final do próximo ano, conforme o economista.
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, afirma que o PIB deve seguir com crescimento baixo no quarto trimestre diante da manutenção dos efeitos da taxa de juros. O repasse do Auxílio Brasil pode contrapor esse panorama em parte, segundo o economista. Para 2023, além dos problemas domésticos, Agostini cita a possível perda de força de algumas economias mundiais entre os fatores que travam o crescimento do Brasil:
— No ano que vem, certamente teremos um crescimento menor. Tanto pelo cenário doméstico preocupante, por conta do ambiente fiscal, efeitos da alta da taxa de juros, inflação ainda em nível alto, como também pela questão do cenário global, que preocupa, com desaceleração na Europa, nos Estados Unidos e na China.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Maurício Weiss também estima crescimento lento no primeiro semestre de 2023. Para ele, o aquecimento da economia depende, entre outros fatores, da redação final da proposta de emenda constitucional (PEC) da transição e o efeito dessa medida:
— Se conseguir passar com uma maior folga, perto dos R$ 200 bilhões, tenho uma expectativa mais positiva para o ano que vem. Porque sobra mais espaço fiscal para o governo elevar os seus investimentos e ampliar algumas linhas que beneficiam o setor imobiliário, que gera muita mão de obra.