O Rio Grande do Sul criou 13.853 vagas de trabalho com carteira assinada em outubro, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência, nesta terça-feira (29). O número reflete a diferença entre as 99.741 demissões e as 113.594 admissões registradas no período, o que torna o desempenho gaúcho o segundo melhor do país, atrás apenas de São Paulo.
No acumulado de 2022, o Estado gerou 116,5 mil postos formais. Em 12 meses, foram 115,2 mil. O resultado de outubro é o terceiro melhor do ano — abaixo somente de janeiro e fevereiro (veja mais no quadro abaixo). Também representa crescimento de 35% sobre as 10.254 vagas de setembro, mas uma retração de 27,93% na comparação com as 19.223 posições no mercado geradas em igual recorte de 2021, o que, na avaliação de economistas consultados por GZH, pode ser explicado por uma condição específica que remete à retomada da economia naquela ocasião.
Parte da performance está associada com a movimentação em serviços e comércio. Esses setores abriram, respectivamente, 5.074 e 4.984 vagas. Em seguida, vem agropecuária (1.593), construção (1.159) e indústria (1.043). Com isso, o estoque de empregos formais gaúchos, ou seja, a quantidade total de vínculos celetistas (carteira assinada), chegou a 2.680.107, alta de 0,52% em relação ao mês anterior (2.666.254)
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, destaca que há uma desaceleração natural em curso na relação com os saldos do ano passado. A justificativa, comenta, passa pelos efeitos da retomada da economia, após o momento mais rígido das restrições de mobilidade social, em prevenção à pandemia. Segundo ele, naquela época, existia espaço sobressalente para contratações que cumpriam o papel de “devolver” parte das demissões ocasionadas pela covid-19.
— Ainda funcionavam os programas destinados à manutenção de postos de trabalho e que também freavam desligamentos. Por isso, o que ocorre é natural, por consequência de juros elevados que devem trazer, em números, os seus reflexos para a atividade econômica a partir da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) na próxima quinta-feira — argumenta Frank.
Para Frank, os cenários internacionais e domésticos continuam “desafiadores”. Ele aponta, sobretudo, para questões que envolvem inflação (menor poder de compra para os salários) e juros (que, quando elevados, retraem o consumo).
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, concorda. Salienta que, apesar do número significativo de vagas, o arrefecimento, na relação com o ano passado, sinaliza que o mercado de trabalho está em processo de reacomodação.
— Quanto ao RS, é razoável que figure entre os que mais geram vínculos formais em termos absolutos por ser um dos maiores Estados do Brasil no que se refere ao mercado formal de trabalho (atualmente o quinto maior segundo o Caged). Em termos relativos, isto é, quando se leva em consideração o aumento de vínculos com relação ao estoque, perdemos posição no ranking e ficamos na sétima posição entre os que mais criaram vínculos formais — explica Patrícia.
Diminuição da renda persiste
A coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, concorda com as ressalvas sobre o desaquecimento. Mas observa que, ao se avaliar o recorte setorial, o comércio ter atingido resultado bastante próximo dos serviços pode indicar um impacto positivo das contratações de temporários, que serve de termômetro para as expectativas dos empresários. O movimento, explica, é característico do final do ano em razão das festas e traz “boas perspectivas” para que algumas dessas vagas se tornem efetivas.
— Os dados de outubro mostram que o RS se mantém como um dos puxadores de empregos na comparação com as demais unidades da Federação. Vemos saldos positivos ao longo dos meses — reforça Lodonha.
Por outro lado, a economista alerta para a persistência de uma situação que reduz a capacidade de consumo das famílias. Trata-se da renda média, que não retomou os patamares pré-pandemia e prossegue em trajetória de declínio.
Ao longo deste ano, para se ter uma ideia, diminuiu em 8,78% — de R$ 2.118,96, em janeiro, para R$ 1.932,93 em outubro. Isso no mesmo intervalo em que, apesar de três quedas (julho, agosto e setembro), a inflação oficial do Brasil acumula alta de 5,35% e contribui com a corrosão dos ganhos e do poder de consumo dos trabalhadores, o que volta a trazer consequências para a redução da atividade econômica no país.
País
O Brasil criou 159.454 postos de trabalho em outubro. Essa foi a diferença entre as 1.789.462 admissões e os 1.630.008 desligamentos de empregos. No acumulado deste ano, o saldo é de 2.320.252 novos trabalhadores no mercado formal.
O estoque de empregos formais, ou seja, a quantidade total de vínculos formais, chegou a 42.998.607 em outubro, alta de 0,37% em relação ao mês anterior.
Os dados do Caged levam em conta apenas o trabalho formal. As informações são atualizadas mensalmente, o que pode provocar ajustes nos montantes divulgados em períodos anteriores e, consequentemente, nos acumulados.