Por Anderson Trautman Cardoso
Presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul)
“O Brasil tem um enorme passado pela frente”, disse certa feita Millôr Fernandes. Aforismo que serve bem para definir a eterna disputa entre duas políticas que, no Brasil, deveriam não apenas coexistir em harmonia, mas, também, convergir para construir o bem-estar social.
Todavia, a realidade é diferente. Temos a política do poder, que excita sentimentos, tem mais público e espaço nos meios de comunicação. A outra é a do desenvolvimento econômico e social – que deveria mobilizar, mais, as opiniões. Afinal, é do sucesso dela que depende nosso bem-estar.
Mas nessa eterna disputa, pautamo-nos mais pelo imediato do que pela visão de longo prazo. Perdemos décadas atrás de décadas e ficamos para trás na corrida mundial do desenvolvimento. Quadro agravado quando a própria gestão pública é capturada exclusivamente pela política do poder e relega a outra a segundo plano. Vencem os discursos populistas, que enchem as urnas de votos – e esvaziam os bolsos e as mesas das famílias.
A máquina pública é vista como uma iguaria no banquete do poder. Somente quando a crise estoura, pensam-se nas soluções, quase sempre paliativas, pois, mesmo aí, nenhum burocrata quer que mexam no seu queijo. “Será que é necessário, mesmo, aprimorar a máquina estatal. Não podemos levar assim por mais um tempo”, alguém perguntaria. Mas não, não dá. Ou fazemos o que é necessário, ou seguiremos andando em círculos.
O Brasil precisa de liberdade. Não tanto da “liberdade de”, mas a “liberdade para”: para a vida produtiva, o mundo dos negócios, para gerar riqueza. Exemplo disso foi a Lei da Liberdade Econômica, que trouxe benefícios importantes para quem deseja empreender, com menos amarras burocráticas que o impedem de se somar ao ciclo do desenvolvimento.
Mas precisamos que esse seja um princípio perene. Conquistas como a Lei da Liberdade Econômica, a reforma trabalhista, o teto de gastos públicos e outras tantas, em níveis municipal a federal, injetaram mais segurança a quem empreende no Brasil. E a liberdade para empreender necessita de segurança, além de estabilidade política e institucional. Um horizonte mínimo sem incertezas, sem mudanças ao sabor do vento.
Estamos em profunda e célere transformação digital. As inovações mudam as relações sociais, de trabalho e criaram novas economias. Tivemos boas notícias como a regulamentação do home office, o marco das startups e a digitalização de serviços públicos federais. Todavia, ainda há um vasto campo para avançar, incorporando cada vez mais a tecnologia na gestão – e, também, permitindo que as inovações não sucumbam ao aparato burocrático.
Liberdade para empreender necessita de segurança, além de estabilidade política e institucional. Um horizonte mínimo sem incertezas, sem mudanças ao sabor do vento.
Ao pai e à mãe de família, não interessa se o serviço prestado é estatal ou privado, bastando que seja eficiente para sua necessidade. A máquina pública é para servir às pessoas, não para que dela se sirvam.
A Federasul tem servido a essa missão, defensora da boa causa do desenvolvimento econômico e social. Congregamos vozes, propomos soluções e levantamos as bandeiras de um país que se guie pela eficiência e liberdade. Os exemplos mundo afora mostram a virtude dessa direção, capaz de transformar realidades: de vidas, de negócios, de uma nação inteira.
O quadro já é conhecido, as soluções idem e as ferramentas estão postas. Falta-nos arregaçar as mangas e atuar para que trilhemos o caminho da liberdade: para empreender, para desenvolver, para gerar riqueza. Contradizendo Millôr, o Brasil tem um enorme futuro pela frente. Mas, para tanto, temos de agir como sociedade e fazer o que é preciso para chegar lá. Acima das divergências, bandeiras e pensamentos, essa deve ser a política que nos une.