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A estiagem dos últimos meses pode provocar um estrago inédito na economia do Rio Grande do Sul. Um estudo apresentado na tarde desta quinta-feira (24) pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) estima que a quebra na produção agrícola terá impacto de até R$ 115 bilhões em todos os setores da economia e levar a um recuo de 8% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
Se esses prognósticos se confirmarem, seria o pior tombo já registrado pela economia gaúcha. Até então, a maior queda foi de 6,8% em razão da combinação entre a pandemia de coronavírus e outra seca sofrida em 2020. Mas o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz, avisa que o cenário poderá ficar ainda pior.
– Esperamos que o PIB caia pelo menos 8%, mas estamos sendo bastante conservadores. Depois da colheita, vamos revisar nossas projeções e poderemos ter de rever esse dado ainda mais para baixo – afirmou o economista.
Se as chuvas se mantivessem em patamares normais, a entidade contava com um aumento de 0,58% no PIB até o final do ano.Os novos números foram apresentados, por videoconferência, para produtores rurais e gestores públicos como o governador Eduardo Leite, a secretária estadual da Agricultura, Silvana Covatti, os senadores Lasier Martins (Podemos) e Luis Carlos Heinze (PP), deputados estaduais e federais, prefeitos e representantes do Ministério da Agricultura, entre outros participantes.
Por trás dos prognósticos sombrios está uma perda de grãos estimada em 14,43 milhões de toneladas devido à falta de chuvas. Para se ter dimensão do que isso representa: seria o suficiente para encher 253,3 mil carretas bitrem (com capacidade individual para 57 toneladas) que, colocadas em linha reta, completariam uma distância de Porto Alegre a Belém e, de lá, de volta até São Paulo.
Em comparação, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, lembrou que o Estado colheu uma safra total de 37 milhões de toneladas no ano passado – quando o clima favoreceu os produtores.
– Um ano depois, estamos com perdas exponenciais. O Plano Agrícola para o ano que vem prevê menos recursos, e o custo dos insumos aumentou 50%. Estamos vivendo o pior dos cenários – afirmou Pereira.
Socorro financeiro necessário é estimado em R$ 5,7 bilhões
O setor produtivo e gestores públicos estimam ser necessário um aporte de R$ 5,7 bilhões para atender de forma emergencial quem foi prejudicado pela estiagem. Desse valor, que corresponde a cerca de 0,1% do orçamento federal, perto de R$ 3 bilhões são para manter o Plano Safra, R$ 1,2 bilhão para dívidas dos produtores familiares, R$ 1 bilhão para as dívidas restantes e R$ 500 milhões para seguro rural.
– Por enquanto, perto de R$ 1 bilhão já veio. Se não conseguirmos devolver orçamento para a agricultura, teremos de encarar os produtores e dizer que as dívidas deles seguirão aumentando 3% ao mês – declarou Antonio da Luz.
O governador Eduardo Leite declarou que já foi recebido pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, mas também depende de uma liberação por parte do Ministério da Economia para que o Estado seja socorrido pela União com verbas emergenciais. Pelos critérios de urgência e imprevisibilidade, o auxílio financeiro poderia ficar fora do teto de gastos que limita os desembolsos do Tesouro.
Os representantes reunidos na conferência da Farsul encaminharam entre si um acordo para aumentar a pressão sobre o governo federal a fim de salvar financeiramente o agronegócio gaúcho da pior estiagem em décadas.