Os três principais setores da economia apresentaram crescimento no Rio Grande do Sul nos 11 primeiros meses de 2021. Serviços e indústria engataram recuperação com mais fôlego até novembro, recuperando nível pré-pandemia, enquanto o comércio varejista avança a passos mais lentos dentro desse processo.
Os dados fazem parte de pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas na semana passada. Avanço sobre uma base fraca em 2020 e maior controle da crise sanitária são alguns dos fatores que ajudam a explicar o desempenho dos setores, segundo especialistas. Inflação, juro alto e ano eleitoral criam cenário de incerteza sobre os resultados para 2022.
Após dois meses amargando variação negativa no volume de negócios, o setor de serviços, carro-chefe da economia no país, cresceu 1,7% em novembro no Estado. Com isso, o setor retomou o patamar pré-pandemia, observado em fevereiro de 2020. No acumulado do ano até novembro, serviços lidera entre os setores no Estado, com avanço de 12%.
O economista e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade católica do RS (PUCRS) Ely José de Mattos destaca que a retomada da economia em 2021 é baseada em uma base fraca de comparação de 2020. Sobre o protagonismo de serviços e indústria no acumulado do ano, Mattos destaca que a segunda conseguiu operar com mais volume durante a maior parte da pandemia. Já o setor de serviços responde mais rápido aos estímulos, segundo o especialista.
— Serviços tem essa questão de ser mais rápido. Ele depende muito da presença do profissional, obviamente, então, tem essa sensibilidade. Reage mais rápido. Tanto para cima quanto para baixo — destaca Mattos.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que o protagonismo dos serviços está muito ligado à base de comparação. Um dos mais afetados pela pandemia, esse setor sofreu muitas perdas em 2020, segundo a especialista.
— Quando você fica em casa, compra mais bens. As pessoas estavam muito limitadas na capacidade de consumir serviços. Em 2021, o processo de flexibilização leva de novo as pessoas para a rua e elas começam a demandar coisas que não conseguiam antes — destaca a economista-chefe da Fecomércio-RS.
Os números do IBGE reforçam a avaliação da especialista. No acumulado do ano até novembro de 2021, o grupo de serviços prestados às famílias lidera entre as atividades do setor na pesquisa, com avanço de 31% em relação ao ano anterior. No mesmo período de 2020, o indicador havia recuado 38,7%.
A indústria segue serviços de perto no acumulado do ano. A produção industrial no Estado avançou 11,2% de janeiro a novembro, ante o mesmo período do ano passado. Segmentos de máquinas e equipamentos e o setor calçadista estão entre os destaques desse grupo. Em novembro, o setor engatou o quarto mês seguido com variação positiva (veja mais abaixo).
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, afirma que, após um primeiro trimestre mais acelerado, a indústria arrefeceu o ritmo na metade do ano. Em seguida, o setor voltou a acelerar com o início da reorganização do fornecimento de materiais.
— A partir de agosto, o setor voltou a se recuperar. A gente acredita que muito dessa retomada de final de ano decorre de um melhor abastecimento, principalmente de insumos e matérias-primas. Agora, a gente vê um setor terminando um ano em crescimento mais elevado — pontua Nunes.
Em novembro, o Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS), aferido e divulgado pela Fiergs, atingiu sexta alta consecutiva, com destaque para as compras industriais. Nunes diz que esse componente mostra dois movimentos. Um é o de indústrias confiantes no volume de produção. Outro é a garantia de estoque diante da incerteza sobre entregas e escalada de preços.
Já o comércio varejista caiu 1,2% em novembro, na comparação com o mês anterior. No acumulado do ano até novembro, o setor apresenta alta de 2,8%. A economista Patrícia Palermo cita uma inversão na demanda, com pessoas consumindo menos bens e mais serviços em cenário de flexibilização e de renda corroída por inflação e juro alto.
Incertezas para 2022
O professor Ely José de Mattos, da PUCRS, afirma que parte dos economistas projeta inflação entre 4,5% e 5% neste ano. Mesmo com essa análise mais otimista, o país teria um crescimento baixo, segundo Mattos. O economista afirma que tem uma projeção mais pessimista, com ambiente para inflação acima dos 5% em um contexto que pode contar com efeitos da estiagem, da crise energética e de dólar alto.
—Se a inflação vier acima dos 5%, aí o crescimento vai ser ainda menor — pondera.
A economista-chefe Patrícia Palermo, da Fecomércio-RS, destaca que o desempenho do comércio no Estado em novembro pode ser um termômetro para o cenário do setor em 2022. Mesmo com a Black Friday, o varejo amargou resultado negativo no Estado no mês. Isso ocorre por causa de fatores ligados à demanda, como inflação e juro altos, e à oferta, como dólar elevado, energia elétrica cara e desorganização do fornecimento de matérias-primas e insumos. O cenário dificultou a formação de estoques e atrapalhou as grandes promoções de muitos varejistas. Patrícia afirma que não enxerga condições muito diferentes para este ano:
— Em 2022, ainda teremos inflação alta, e o crédito vai se tornar mais caro. A recuperação da economia perdendo tração também vai refletir num ritmo mais lento do mercado de trabalho. Todo esse cenário exerce influência negativa sobre a dinâmica do varejo.
Em relação aos serviços, Patrícia afirma que, além de fatores econômicos, o desempenho do segmento em 2022 depende dos efeitos da pandemia na confiança das pessoas, que podem impactar na circulação e na busca por serviços que dependem de atividades presenciais.
Na indústria, o economista-chefe da Fiergs projeta um ano de crescimento, mas com avanço mais tímido na comparação com 2021. O ano eleitoral pode adiar algumas decisões de pessoas físicas e jurídicas, o que impacta na economia, segundo Nunes.