A próxima edição do Índice de Desenvolvimento Estadual — Rio Grande do Sul (iRS), prevista para ser lançada em 2022, será a primeira com dados coletados durante a pandemia de coronavírus.
O coordenador do iRS e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José de Mattos, afirma que as dimensões padrão de vida e educação tendem a ser as mais afetadas pelos efeitos da crise sanitária. O próximo levantamento vai usar dados de 2020, pois será o recorte de tempo mais recente possível, considerando as informações disponíveis.
Como a maior parte dos dados de 2020 ainda não está disponível, Mattos destaca que essa projeção ocorre diante do cenário observado no ano passado. O peso dessas variáveis em cada Estado vai depender dos efeitos da pandemia e da efetividade do combate em cada unidade da federação.
— O ano de 2020 para padrão de vida foi péssimo, porque a gente teve perda de renda, que foi reposta um pouco pelo auxílio emergencial, e um aprofundamento da desigualdade. Mas é difícil dizer se o Rio Grande do Sul foi pior do que os outros Estados no indicador — reforça Mattos.
Para a educação, o coordenador do iRS também projeta cenário complicado, principalmente em um ano marcado por aulas remotas e outros desafios, que podem impactar na evasão. No entanto, mais uma vez, Mattos destaca que o tamanho do impacto pode variar entre as unidades da federação.
Já na dimensão segurança e longevidade, Mattos afirma que esse indicador tem espaço para avanço. Os efeitos colaterais da redução na circulação nos primeiros meses de pandemia podem influenciar em reduções nas taxas de homicídios e de mortes no trânsito.
— A gente deve observar alguma retração nesses índices. Mas também é algo mais generalizado — observa o professor.
Perguntas e respostas
Por que criar um indicador?
Não havia um índice reconhecido no país especificamente para avaliar os Estados. O iRS é o primeiro com proposta de atualização anual.
Por que as variáveis?
Para refletir qualidade de vida e desenvolvimento humano, a definição da metodologia do iRS leva em conta indicadores que vão além dos estritamente econômicos. Foram escolhidos os mais abrangentes, que impactam maior quantidade de pessoas.
O que o diferencia?
Transparência: todos os dados são oficiais e de fácil acesso. Significa que qualquer pessoa pode conferi-los e que os números têm fontes confiáveis.
Foco na vida real: a meta é traduzir a realidade de quem vive no Estado. A exemplo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o foco é nas pessoas, e não nas instituições ou no poder público.
Fácil compreensão: alguns índices utilizam tantas variáveis que fica difícil entendê-los. O iRS apresenta fórmula simples e foi feito para ser compreendido intuitivamente.
Qual é a escala?
Para obter um resultado comparável entre todos os Estados, foi criada uma escala de zero a um, baseada em patamares mínimos aceitáveis e metas de desenvolvimento. Quanto mais perto de um, mais próximo da meta. Quanto mais perto de zero, mais distante.
Por que os dados são de 2019?
O iRS avança até o ano dos dados mais recentes disponíveis para todas as variáveis. O atraso das estatísticas é um problema comum devido ao tempo de coleta, ao processamento e à divulgação das informações. O iRS busca utilizar as opções mais rápidas para reduzir ao máximo esse tempo.
Entenda os cálculos
Educação
- Os indicadores adotados analisam o desempenho dos alunos nas séries iniciais, o grau de distorção entre a idade ideal e a efetiva do Ensino Médio e a taxa de matrícula nessa etapa.
- Variáveis: média padronizada em português e matemática da Prova Brasil no 4º ano, taxa que mostra o quanto os jovens estão atrasados em relação à idade ideal e taxa de matrícula do Ensino Médio. Nessa última, a opção foi adotar a faixa etária de 15 a 19 anos. Ainda que a Meta 3 do Plano Nacional de Educação (PNE) seja a ampliação do atendimento do Ensino Médio na faixa etária de 15 a 17 anos, intervalo ideal, o Brasil conta com grande contingente de jovens que não concluem a etapa antes dos 19 anos, ou nem sequer estão matriculados.
- Fonte dos dados brutos: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, realiza a Prova Brasil —dados em portal.inep.gov.br.
Segurança e longevidade
- Mede expectativa de vida e grau de violência ao qual as pessoas estão expostas.
- Variáveis: índice de mortalidade infantil, taxa de homicídios e taxa de mortalidade no transporte (trânsito).
- Fonte: Datasus. O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por publicar dados relacionados ao sistema, de estatísticas epidemiológicas a números de mortalidade — informações disponíveis em datasus.gov.br.
Padrão de vida
- Renda é o parâmetro. Mede qualidade de vida no que se refere aos bens materiais. Usa como critério quanto cada pessoa ganha por mês.
- Variáveis: renda média do trabalhador, distribuição de renda e ocupação formal.
- Fonte: Rais. A Relação Anual de Informações Sociais (Rais) é uma base de dados do Ministério da Economia que informa quanto ganham os trabalhadores formais no Brasil. As informações partem das empresas e estão disponíveis em site do governo federal.