
Uma das metas traçadas na COP26 foi a eliminação das emissões de poluentes em veículos no prazo de 14 a 19 anos. Professor da Escola de Negócios da PUCRS, Domingos Valladares comenta que essa adequação é uma realidade na indústria automobilística e cita que fabricantes como Jaguar (2025), Ford (2026), Volvo (2030), GM (2035) e Mercedes (2039) já marcaram data para eliminar as vendas de automóveis movidos a combustíveis fósseis, o que representa cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa no planeta.
No Rio Grande do Sul, pelo menos duas iniciativas estão alinhadas com o compromisso. Quem circula pela região central de Porto Alegre pode ter notado um caminhão de pequeno porte que se destaca dos demais. Trata-se do modelo JAC iEV 1200T, o primeiro caminhão elétrico do Brasil com 0% de emissões, adotado pela Bebidas Fruki para as entregas na Capital.
A ideia, comenta a diretora-presidente da empresa com sede em Lajeado, Aline Eggers Bagatini, é ampliar a frota atual, composta por três veículos desse tipo. Com a operação inicial, haverá corte de 2,04% nas emissões atmosféricas, ou menos 13,8 toneladas de CO2. O impacto esperado é uma redução de 40% da frota quando todos os caminhões forem substituídos por modelos elétricos.
As pressões do mercado também foram antecipadas pela Marcopolo. A fabricante de ônibus de Caxias do Sul, apresentou, em 2021, o primeiro VLP (veículo leve sobre pneus) 100% elétrico que irá rodar em São José dos Campos (SP), na chamada linha verde.
Gerente de Engenharia do Produto, João Gabriel Magnabosco conta que, atualmente, são 370 veículos elétricos ou híbridos colocados nos principais mercados consumidores da marca — 75 no Brasil. Até 2022, a expectativa é por outras 400 unidades na América Latina, a maior parte na Colômbia.
— A propulsão elétrica, além de limpa, é uma alternativa viável para os custos operacionais com foco no transporte coletivo urbano — afirma.
De acordo com dados da doutora em sustentabilidade Andrea Pampanelli, nos últimos 30 anos, apesar dos avanços tecnológicos e do aumento da produtividade dos processos industriais, que extraem 40% mais valor econômico das matérias-primas, a demanda por elas aumentou 150%. Magnabosco corrobora com a análise e afirma que, para buscar produtos eficientes, o principal desafio é, justamente, a redução de peso.
Isso significa trabalhar com materiais mais leves, novas ligas e polímeros. Um exemplo é o Geração 8, lançado pela Marcopolo em julho deste ano. Pensado para longas e médias distâncias, o projeto reduziu a fibra de vidro (material de difícil reutilização) em 80%.
Depois de muita pesquisa, com cem engenheiros rodando mais de 40 mil quilômetros de estradas, a aerodinâmica também teve ganhos de 11%, que garantem 3% de redução no consumo de combustíveis, ou seja, algo relevante para a sustentabilidade dos transportes coletivos de transição.
Melhor uso dos recursos
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As boas práticas não se concentram na indústria. No dia 31 de outubro, por exemplo, a Renner inaugurou a primeira loja circular do país. Localizada no Rio de Janeiro, a unidade dá vida e exposição ao conceito perseguido há bom tempo pela varejista têxtil: a economia circular.
Da concepção até a operação, o ponto foi projetado para diminuir ao máximo o impacto ambiental. Só em aço estrutural, por exemplo, deixaram de ser consumidas 8,5 toneladas com a prioridade dada aos materiais reciclados e recicláveis.
Abastecida por energia renovável e de baixo impacto, a emissão de CO2 equivalente em 20 anos corresponde à restauração de uma área de 1,5 hectare de mata atlântica. É como se a Renner plantasse 3 mil árvores e as mantivesse por duas décadas.
No local, consumir e produzir ganham nova versão, e a unidade abriga o primeiro Espaço Re, dedicado às iniciativas de sustentabilidade da marca. Lá há uma seleção de peças com o Selo Re, que geram menor impacto ambiental em sua produção, e um coletor do Ecoestilo, serviço de logística reversa pós-consumo da Renner para dar destinação correta a embalagens e frascos de itens de perfumaria, beleza e peças de roupa em desuso.
Projeto Bússola
Esta reportagem integra a série que o Grupo RBS preparou para a retomada econômica com iniciativa do setor produtivo. Quatro temas fundamentais foram mapeados e serão aprofundados pelo Projeto Bússola, que tem patrocínio do Sebrae: capacitação de profissionais, distribuição e logística, sustentabilidade e novas regras sanitárias. A série será veiculada em GZH, Zero Hora, Rádio Gaúcha, no "Gaúcha +", e RBS TV, no "RBS Notícias".
O gerente geral de Sustentabilidade da empresa, Eduardo Ferlauto, lembra que o Selo Re envolveu pesquisas que resultaram em tecidos construído pela sobra dos cortes. O suporte técnico, oferecido à cadeia produtiva, em fase de ampliação, trouxe efeitos positivos para os fornecedores.
Um deles, conta, conseguiu economizar R$ 1 milhão porque, antes, precisava pagar a alocação de restos de jeans em um aterro sanitário especial. A partir do projeto, as sobras foram revendidas a um desfibrador, a receita extra foi reinvestida no processo de lavandaria e, esse mesmo fornecedor, escolheu parâmetros de ecoeficiência para melhorar o seu consumo de água.